Movimento Comunista

20º Congresso do PCP: As relações internacionais e o movimento comunista e revolucionário internacional

07/12/2016

Dando sequência à publicação de materiais do 20º Congresso do Partido Comunista Português (PCP), encerrado no último domingo (4), publicamos a intervenção especial de Pedro Guerreiro, membro do Secretariado do Comitê Central, responsável pela área internacional. O dirigente destaca a presença de 62 delegações de partidos comunistas, operários e progressistas (do Brasil, compareceu o Partido Comunista do Brasil – PCdoB – representado pelo secretário de política e relações internacionais, José Reinaldo Carvalho), ressalta a necessidade “da unidade e do incremento da capacidade de ação do movimento comunista e revolucionário internacional – a expressão mais avançada do internacionalismo proletário”, alerta também contra “o desenvolvimento de tendências liquidacionistas e social-democratizantes, como de concepções e práticas dogmáticas e sectárias, que não só não contribuem para o reforço do movimento comunista e para a unidade na ação dos comunistas, como introduzem novos fatores de divisão, afastamento e incompreensão que dificultam os necessários avanços na sua solidariedade internacionalista e com outras forças progressistas” e defende a necessidade do “fortalecimento da convergência e da cooperação dos comunistas com outras forças patrióticas, progressistas e revolucionárias – numa ampla e conjugada frente anti-imperialista”. Para Guerreiro, “a unidade na ação em torno de objetivos concretos e imediatos com outras forças que convirjam na resistência à imposição do projeto hegemônico do imperialismo, não representa uma qualquer cedência ou abdicação do ideal e projeto revolucionários por parte dos comunistas”. Leia abaixo a íntegra do pronunciamento.

Camaradas,

É com enorme satisfação que acolhemos no nosso Congresso 62 delegações de partidos comunistas e de outras forças progressistas e revolucionárias, de movimentos de libertação nacional, de partidos aos quais nos unem profundos laços históricos, que nos trazem a resistência, a luta e as conquistas dos seus povos.

A todos agradecemos a sua presença solidária, desejando os melhores êxitos nas suas tarefas em prol da realização dos direitos e aspirações dos seus povos, e que levem do XX Congresso do PCP o pulsar da luta dos comunistas, dos trabalhadores e do povo português, a certeza da firme e fraterna solidariedade dos comunistas portugueses.

A agudização da luta de classes que resulta do aprofundamento da crise estrutural do capitalismo e da violenta ofensiva do imperialismo evidencia ainda mais a necessidade do fortalecimento, da unidade e do incremento da capacidade de ação do movimento comunista e revolucionário internacional – a expressão mais avançada do internacionalismo proletário.

Um objetivo que, na opinião do PCP, passa pelo reforço da ligação às massas e à realidade nacional, pela capacidade de definição do programa e tarefas, por parte de cada partido comunista ou outra força revolucionária, assim como pela sua cooperação e solidariedade internacionalistas.

Observando consagrados princípios de relacionamento entre partidos comunistas, o PCP empenha-se no debate e na unidade na ação entre os partidos comunistas, como acontece no processo dos Encontros Internacionais de Partidos Comunistas e Operários (EIPCO), que tem contribuído para um melhor conhecimento mútuo e a adoção de um conjunto de linhas para a ação comum ou convergente.

No entanto, como a história demonstra, prejudicam o movimento comunista tanto o desenvolvimento de tendências liquidacionistas e social-democratizantes, como de concepções e práticas dogmáticas e sectárias, que não só não contribuem para o reforço do movimento comunista e para a unidade na ação dos comunistas, como introduzem novos fatores de divisão, afastamento e incompreensão que dificultam os necessários avanços na sua solidariedade internacionalista e com outras forças progressistas.

Tendo presente que os partidos comunistas e outras forças revolucionárias têm trajetórias, experiências e enraizamento social diferenciados, lutam em condições diversas, se encontram em diferentes etapas da luta pelo socialismo e enfrentam diferentes tarefas imediatas, para o PCP, naturais diferenças de opinião e, mesmo, divergências que se manifestem não devem impedir a ação comum ou convergente na luta contra o inimigo principal, na luta de emancipação dos trabalhadores e dos povos.

Ensinamentos tão mais importantes e atuais, quando a atual situação internacional coloca tão grandes e complexas exigências aos partidos comunistas e outras forças revolucionárias.

Os trabalhadores e os povos precisam de um forte e vigoroso movimento comunista e revolucionário internacional, de fortes partidos comunistas e revolucionários que promovam a luta pela conquista de direitos, pelo avanço da transformação social e da superação revolucionária do capitalismo.

O fortalecimento da convergência e da cooperação dos comunistas com outras forças patrióticas, progressistas e revolucionárias – numa ampla e conjugada frente anti-imperialista – é o caminho para travar a ofensiva do imperialismo e alcançar uma viragem na situação internacional no sentido da paz, da soberania e do progresso social. Naturalmente, cabe aos comunistas uma grande responsabilidade na materialização de tal objetivo.

O PCP não coloca o movimento comunista e revolucionário internacional em contraposição com outras forças patrióticas e progressistas, colocando no primeiro plano da convergência e da cooperação a defesa de princípios e objetivos que são condição para avanço da luta de emancipação social e nacional.

Para o PCP, a unidade na ação em torno de objetivos concretos e imediatos com outras forças que convirjam na resistência à imposição do projeto hegemônico do imperialismo, não representa uma qualquer cedência ou abdicação do ideal e projeto revolucionários por parte dos comunistas.

A aproximação de vontades e conjugação de esforços dos comunistas – com a afirmação dos seus objetivos próprios e sem diluição da sua identidade – com outras forças que objetivamente concorrem para a contenção da ofensiva do imperialismo, antes contribuirá para a criação das condições que levem mais longe a luta dos trabalhadores e dos povos em defesa dos seus direitos e soberania e a luta por transformações progressistas e revolucionárias.

Grave seria aceitar e pactuar com as teorizações e campanhas que procuram confundir o agressor com o agredido. Equiparar a ação agressiva dos Estados Unidos, da Otan, das grandes potências da União Europeia e seus aliados, à postura de outros países que – afirmando e defendendo a sua soberania, independência e direito ao desenvolvimento –, se posicionam, agem e articulam no plano internacional no respeito da Carta das Nações Unidas e apoiam povos e Estados vítimas do bloqueio, desestabilização e agressão imperialista, aceitar tal equiparação, significaria subestimar, e mesmo branquear, os objetivos e sérios perigos da atual investida do imperialismo, assim como dividir e anular na prática parte do campo de forças que se lhe pode opor.

Desenganem-se os que pretendem que o PCP abdique da solidariedade com a luta dos trabalhadores e dos povos.

Por todo o mundo, mesmo nas condições mais difíceis, os trabalhadores e os povos resistem e lutam pelos seus direitos, pela libertação da opressão, incluindo da opressão nacional, pela conquista da liberdade, da democracia, em defesa da soberania e independência nacionais, pela justiça e progresso social, por transformações democráticas, anti-monopolistas e anti-imperialistas, pelo socialismo – resistências e lutas que, confluindo na luta contra o imperialismo, se interligam num mesmo ideal e processo universal libertador.

Partido patriótico e internacionalista, enraizado nos trabalhadores e no povo português, ligado à respectiva realidade nacional, com a sua ideologia e independência de classe, com a sua autonomia e experiência própria, o PCP continuará firme no cumprimento dos seus deveres internacionalistas.

São grandes e exigentes as tarefas com que nos confrontamos, mas é exaltante a causa porque lutamos, a causa da emancipação dos trabalhadores e dos povos.

Viva o internacionalismo proletário

Viva a solidariedade anti-imperialista

Viva o Partido Comunista Português

 

Compartilhe: