Geopolítica

A bandeira dos EUA nos três mares da Europa

05/07/2017
A Polônia é "fiel aliado na Otan e um dos mais estreitos amigos da América", diz a Casa Branca

Será um triunfo para o presidente Trump quando, no dia 6 de julho, chegar de visita a Varsóvia. A Polônia, assegura a Casa Branca, é “fiel aliado na Otan e um dos mais estreitos amigos da América”. Com efeito, é a ponta de lança da estratégia dos EUA e da Otan que arrastou a Europa a uma nova guerra fria contra a Rússia.

Por Manlio Dinucci (*)

Na Polônia, para onde foi transferida em janeiro a 3ª Brigada de blindados dos EUA, foi deslocado, sob o comando dos EUA, um dos quatro grupos de batalha da Otan “com presença avançada reforçada”, com funções anti-Rússia.

A Polônia tem também o mérito de ser um dos quatro países europeus da Otan que realizaram o objetivo, exigido pelos EUA em 2014, de destinar mais de 2% do PIB a despesas militares. Em compensação, anuncia Varsóvia, a Polônia não contribuirá para o “Fundo para a Defesa” lançado pela União Europeia em 22 de junho.

A Polônia do presidente Duda tem, assim, aos olhos de Washington, todas as credenciais para assumir outro encargo importante, qual seja o de lançar e dirigir a “Iniciativa dos Três Mares”, um novo projeto que reúne 12 países compreendidos entre o Báltico, o Mar Negro e o Adriático: Polônia, Lituânia, Letônia, Estônia, Hungria, República Tcheca, Áustria, Bulgária, Romênia, Croácia, Eslovaquia e Eslovênia.

Todos membros da União Europeia, razão pela qual o presidente Duda define a Iniciativa como “um novo conceito para promover a unidade europeia”. Mas esses países são ao mesmo tempo, todos, exceto a Áustria, membros da Otan sob o comando dos EUA  mais ligados a Washington do que a Bruxelas.

A “Iniciativa dos Três Mares” será batizada pelo presidente Trump na conferência que se realizará em Varsóvia em 6 de julho, mas foi concebida pela administração Obama.

Esta foi anunciada em 25 de agosto de 2016 com a Declaração Conjunta de Dubrovnik, que a apresentava como uma iniciativa visando a “conectar a economia e a infraestrutura da Europa central e oriental de Norte a Sul, expandindo a cooperação nos setores de energia, transportes, comunicações digitais e na economia em geral. O objetivo oficial é “tornar a Europa central e oriental mais segura e competitiva”. Os EUA se ocuparão disto.

No seu discurso na Conferência dos Três Mares, anuncia a Casa Branca, o presidente Trump “se concentrará no desenvolvimento da infraestrutura e na segurasnça energética, evidenciando entre outras coisas as primeiras remessas de LNG (gás natural liquefeito) americano à Polonia imediatamente nos próximos meses”. Um terminal no porto báltico de Swinoujscie, que custou cerca de um bilhão de dólares, permitirà à Polônia importar LNG estadunidense numa quantidade de 5 bilhões de metros cúbicos anuais, que podem subir a 7,5 bilhões.

Através deste e de outros terminais, entre os quais um que foi projetado na Croácia, o gás proveniente dos EUA ou de outros países por meio de empresas estadunidenses, será distribuído com gasodutos a toda a “região dos três mares”.

O objetivo do plano é claro: golpear a Rússia, fazendo cair a sua exportação de gás para a Europa (obietivo que só pode ser realizado se a exportação do gás estadunidense, mais caro que o russo, for incentivada com fortes subvenções estatais); ligar ainda mais aos EUA a Europa central e oriental não apenas militarmente mas também economicamente, em concorrência com a Alemanha e outras potências europeias; criar dentro da Europa uma macrorregião (a dos três mares) com soberania limitada, diretamente sob influência dos EUA, que de fato fracionaria a União Europeia e se alargaria à Ucrânia e outros países.

O mapa político da Europa está para ser mudado de novo, mas a bandeira estrelada e listrada continua fincada.

(*) Jornalista e geógrafo. Artigo publicado em Il Manifesto. Tradução de José Reinaldo Carvalho para Resistência

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