Bases militares

Argentina se abre para instalação de bases militares dos Estados Unidos

23/05/2016

O presidente Mauricio Macri enviou na semana passada uma delegação do Ministério da Defesa aos Estados Unidos para acordar a instalação de uma base norte-americana em Ushuaia, na Terra do Fogo, e com isso concretizar a retomada dos vínculos militares entre os dois países.

Por Héctor Bernardo*

A movimentação corresponde ao pacto em matéria de Defesa selado durante a visita de Barack Obama no fim de março.

A expansão militar norte-americana no Cone Sul ao longo dos últimos anos adquiriu enormes proporções. Pesquisadores como a jornalista e escritora Stella Calloni, o sociólogo Atílio Boron e a jornalista Telma Luzzani têm denunciado o aumento destas bases em vários de seus artigos e livros.

O governo argentino justificou a construção dessa instalação norte-americana dizendo: “Queremos que a cidade de Ushuaia se converta em uma base logística para apoiar as tarefas científicas na Antártida”.

O discurso dos funcionários do governo de Macri é o mesmo que tem permitido que Washington gere uma rede de bases na América Latina que são cerca de uma centena. As desculpas são sempre altruístas: ajuda humanitária, apoio ante catástrofes, combate ao narcotráfico ou respaldo ao desenvolvimento e à pesquisa científica.

Elsa Bruzzone, especialista em temas de Geopolítica, Estratégia e Defesa Nacional e membro do Centro de Militares para a Democracia Argentina (Cemida), assegurou que Washington utiliza diversas desculpas, entre elas a de ajuda humanitária e de apoio ante as catástrofes naturais, para instalar bases militares disfarçadas de bases científicas.

Estas instalações encobertas sempre são colocadas em zonas onde há recursos naturais altamente estratégicos: água, terra fértil para produção de alimentos, minerais, hidrocarbonetos, biodiversidade, assinala Bruzzone.

Além da que querem estabelecer em Ushuaia, também têm a pretensão de instalar outra na zona da Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai). Continuam com o velho projeto de instalação na cidade de San Ignacio, ao oeste da província de Missões.

A intenção é ter o controle completo do Aquífero Guarani. Algo que já quiseram fazer em Resistência, no Chaco, no ano de 2012, utilizando a desculpa da ajuda humanitária.

Mas a reação da população chaquenha, mais toda a atividade que desenvolvemos a partir do Cemida, junto com o Ministério de Defesa e a Chancelaria nesse momento, conseguiu frear esse projeto, recorda a especialista.

Bruzzone destacou que “o que buscam é fechar o cerco sobre todos os recursos naturais que temos em nossa América”.

E ilustra sua afirmação de que assim demonstram as bases militares, cobertas e encobertas, instaladas na América Central e no Caribe, somadas às que têm na Colômbia, Peru, Chile e Paraguai, mais a da Otan nas Malvinas e o destacamento britânico nas Ilhas Geórgias.

Toda essa rede de complexos militares “fecha o cerco sobre todos os nossos recursos naturais e reafirma sua presença na Antártida”, alerta a especialista em geopolítica.

Por último, assinala que “não devemos esquecer que a Antártida é a maior reserva de água doce congelada no mundo. Justamente nesse setor é onde Argentina, Chile e Grã-Bretanha disputam soberania “.

Na Península Antártica – acrescenta – encontram-se as maiores jazidas de hidrocarbonetos da região e há minerais altamente estratégicos que são indispensáveis para a indústria militar e aeroespacial.

Ao abrir o território argentino – até agora livre desses enclaves – às bases norte-americanas, o governo de Macri demonstra mais uma vez que suas medidas, longe de defender os direitos nacionais, se submetem aos interesses da Casa Branca.

Desse modo, a cada dia justificam mais que o presidente Barack Obama se sinta tão satisfeito com a presidência de Macri.

*Analista político argentino, colaborador da Prensa Latina.

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