Opinião

Bem-vindo ao Brasil, Sheik Mohsen Araki

28/07/2017

O Brasil recebe por estes dias o Sheik iraniano Mohsen Araki, para conceder diversas conferências e visitar mesquitas. Vem falar basicamente de paz. Vem pregar contra o terrorismo, pregação que os iranianos em geral vêm fazendo há décadas. Terei a honra de estar entre um dos participantes do evento principal. No entanto, a mídia sionista vem reverberando artigos e reportagens contra ele. Cabe a nós, patriotas e progressistas, anti-imperialistas, protestarmos contra isso.

Por Lejeune Mirhan *

Quem é o Sheik Mohsen Araki?

Nascido na histórica cidade de Najaf, no Irã, Araki tem hoje 60 anos (a mesma que eu tenho). Sua residência fixa fica em uma das mais sagradas cidades muçulmanas do mundo, em especial para os xiitas, que é Qom, local também onde existe o seminário mais conceituado de formação de sheik em todo o mundo islâmico.

Mohsen é professor universitário e escritor. Um clérigo dos mais conceituados no Irã e no mundo. Ele é membro da Assembleia dos Experts (especialistas), órgão consultivo do principal líder espiritual do Irã hoje, Ali Khamenei. São 88 pessoas.

Hoje o Sheik Mohsen Araki é o Secretário Geral da Assembleia Mundial para a Aproximação das Escolas Islâmicas de Pensamento. Um cargo da maior importância para os quase 1,5 bilhão de muçulmanos que existem no mundo.

Araki já chegou ao Brasil e fará uma palestra neste sábado em um evento internacional onde virão sábios muçulmanos de muitos países. O tema da sua Conferência será “Os muçulmanos e o enfrentamento ao terrorismo e radicalismo”.

Sionistas inconformados com a vinda de Araki

Nos últimos dias uma série de ataques foram desfechados contra a presença deste sábio que veio pregar a paz em nosso país. Eles partiram, claro, da CONIB (Confederação Israelita do Brasil, cabeça de ponte do sionismo internacional). Arrumaram, inclusive, de última hora, um “manifesto”, onde, além do arcebispo da Capital, Dom Odílio Scherer, assina um obscuro rabino chamado Michel Schlesinger e – incrível – um “muçulmano” que atende pelo nome de Ahmad el Boustan, que se diz sheik. A secretária de “direitos humanos”, do Rio de Janeiro, Tereza Bergher, também ela sionista, pede a expulsão do clérigo e sábio iraniano (persa). Membros de uma certa “Liga Mundial Cristã”, sionistas cristãos, fazem gritaria as redes sociais.

Essa gente apregoa que ele veio ao Brasil pregar o terrorismo, quando é justamente ao contrário. Essa gente reacionária jamais leu sequer uma linha do livro sagrado dos muçulmanos, o Alcorão. Em nenhuma surata (os versículos corânicos), é apregoado matar pessoas. Ao contrário. Dizem que quando uma pessoa é assassinada injustamente é como se toda a humanidade estivesse sendo morta. Não conheço religião mais tolerante do que a islâmica. Mas, a mídia deturpa tudo e “faz a cabeça” das pessoas.

Essa gente ataca, principalmente, o Irã, que vem cumprindo um papel cada vez mais importante no cenário geopolítico internacional. Dizem que o Sheik é uma espécie de “líder espiritual” do Hezbollah libanês. Uma verdadeira bobagem. Se há um país no Oriente Médio onde os judeus vivem a sua maior liberdade, praticam seu culto em suas sinagogas, é justamente o Irã.

Os meios de comunicação de massa brasileiros, à serviço do imperialismo e do sionismo, já estão atacando a visita do Aiatolá. Vejam neste link, um debate com três reacionários e sionistas na Jovem Pan. Vá direto aos 47 minutos. Indigne-se. Foram sete minutos de uma visão completamente facciosa da realidade. Fizeram a defesa de Israel de forma cega e completamente sem consequência e sem nenhum apego à verdade histórica. Ouçam e vejam aqui: https://www.youtube.com/watch?v=pjTtHBPGDdw

A revista Veja (a pior do país), “noticiou que a palestra do clérigo havia sido desmarcada e ele havia cancelado a sua visita ao país”. A Folha chegou a dizer que a sua vinda “ainda era incerta”, em função das pressões. Todas essas bobagens ditas sobre alguém que já se encontrava em território nacional para pregar a paz, combater o terrorismo (que só o Irã e a Síria fazem efetivamente, com apoio da Rússia) e reunir-se com os seus pares muçulmanos.

O Hezbollah que conheci

O Hezbolláh libanês é um partido político. Nada tem a ver com terrorismo. É claro que é de orientação islâmica. No entanto, é partido legalizado, que concorre às eleições, tem deputados e ministros e participa da vida política do país. Eles defendem o Líbano, junto com seu exército, das agressões que Israel faz constantemente no Sul do país. Estive no Líbano duas vezes e em ambas mantive contatos com esse Partido. Fiquei impressionado, inclusive, pela assistência social que eles prestam ao povo libanês.

Foi lá que fiquei sabendo que o Líbano não tem um sistema de saúde como o nosso. As religiões têm muita força nesse país. E, por incrível que pareça, os membros das religiões só podem ter atendimento nos hospitais construídos e mantidos pela sua congregação. Os únicos hospitais que atendem a TODOS sem perguntar a que corrente religiosa pertencem, são os mantidos pelo Hezbollah.

O papel cada dia mais importante que esse Partido vem tendo o coloca hoje, ao lado das forças progressistas, revolucionárias e patrióticas de todo o mundo árabe como um dos líderes do chamado Arco da Resistência. Aí estão os países como o Líbano, Iraque, Síria e o próprio Irã. E mais, claro, o próprio Hezbollah. Publiquei um livro sobre minhas impressões sobre esse Partido, ao qual fui extremamente bem recebido por eles. Seus militantes abnegados hoje defendem a República Árabe Síria. Nunca saberemos quantos guerrilheiros para lá se deslocaram. Mas, estimo ser mais de 10 mil combatentes. Que pegam em armas, deixam suas casas e suas famílias, para combater justamente o terrorismo, financiado pelos EUA, por Israel, pela Turquia e os países “árabes” do Golfo.

A importância da visita do Sheik Mohsen

O Irã tem sido um bom parceiro do Brasil. Desde a era Lula que mantemos excelentes relações com os iranianos, seja do ponto de vista comercial, cultural, diplomático. Jamais ocorreu um incidente de qualquer natureza entre nós. O Irã é país em desenvolvimento e defende com firmeza uma política das mais importantes para todos os países do mundo: soberania e autodeterminação dos povos.

Por isso o Brasil, com Lula e Dilma, estreitou relações com o Irã. Mas não só por isso. O Irã hoje é o país mais solidário, depois da Síria, com a luta do povo palestino. O Irã apoia a luta dos povos contra o imperialismo, inimigo de toda a humanidade (lá eles chamam os EUA de “Grande Satã”).

Muitos têm sido os intelectuais, pesquisadores, escritores que visitaram esse país persa. Já temos hoje, inclusive, o primeiro Sheik brasileiro formado integralmente no Seminário de Qom, que é o amigo Rodrigo Jaloul (ele fala fluentemente o farsi e o árabe).

Os sionistas e fascistas estão em polvorosa com a palestra do Sheik. Parte dos muçulmanos – equivocados, claro – que pregam a volta do Califado, que apoiam o “Estado Islâmico”, que não é nem estado e nem islâmico pelo que eles fazem, que apoiam a agressão à Síria milenar, vão fazer de tudo para criar um clima de hostilidade a um sábio que vem pregar a paz.

Tive a honra de ter sido um dos brasileiros que foi convidado para ter o prazer de assistir às suas conferências. Agradeço a essa gentileza ao Centro Islâmico do Brasil, que visitei uma vez. Vou rever grandes amigos muçulmanos e cristãos que lá estarão, em especial os integrantes do saudoso Grupo de Trabalho e Estudos Árabes – GT Árabe, da qual participamos semanalmente por cinco anos (2010 a 2015) em mais de duas centenas de reuniões, com a companheira Claude Hajjar, que sempre foi nossa anfitriã.

Por isso dizemos em alto e bom som: bem-vindo Sheik Araki. Os brasileiros de bem querem muito te ouvir e debater contigo tudo que podemos fazer de verdade para combater o terrorismo. Tenha uma boa estada em nosso país.

* Sociólogo, escritor, professor e analista internacional, colaborador do Resistência. Possui nove livros editados, cinco dos quais tratando do Mundo Árabe. Ministra cursos de geopolítica internacional. Visitou vários países árabes, entre eles o Líbano, a Síria e Palestina onde esteve por três vezes.

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