Imperialismo

Dez intervenções da CIA na América Latina

08/06/2016
Invasão no Palacio La Moneda no Chile

A CIA (Central de Inteligência Americana) tem uma longa história de intervenções violentas em muitos países ao redor do mundo. Para conquistar seus objetivos recorrem a sequestros de líderes sociais ou políticos. Se necessário, há golpes, intervenções militares e assassinatos.

Outro método é a infiltração em setores sociais para causar desestabilização, incitar a violência e provocar crises sociais e econômicas. Mecanismo que está sendo usado atualmente na Venezuela para aprofundar a crise social e desestabilizar o presidente Nicolás Maduro. O Wikileaks divulgou uma série de documentos que comprovam o sistema operacional da CIA em diversos países.

A Telesur selecionou dez exemplos na América Latina:

1 – Guatemala em 1954

Em 1944, a violenta e sangrenta ditadura de Jorge Ubico, apoiada pelos Estados Unidos, foi derrubada por um levante popular farto das brutais injustiças. Na verdade, o país havia sido governado até este momento pela The United Fruit Company, uma companhia marionete de Washington que escravizou a população. Retiraram as terras dos camponeses e os obrigaram a trabalhar por migalhas. Quem não obedecia era brutalmente castigado por uma força policial sob as ordens da empresa agrícola norte-americana.

A tranquilidade voltou à Guatemala, mas durou 10 anos, somente antes de o presidente Dwight Eisenhower implementar um plano para derrubar o governo. Em 1954, a CIA lançou PBSucess. A capital guatemalteca foi bombardeada por aviões estadunidenses. O jovem Ernesto Che Guevara foi rapidamente impactado pela brutalidade. Centenas de lideranças camponesas foram executadas pelas marionetes de Washington. Então se iniciou a Guerra Civil Guatemalteca e muitas comunidades camponesas e indígenas maias foram massacradas. No final da intervenção dirigida pela CIA havia morrido mais de 200 mil pessoas. As empresas estadunidenses voltaram a ter lucros no país e Washington estava feliz.

2 – Haiti em 1959

O Haiti é tão estratégico para os Estados Unidos como a República Dominicana e Cuba. Desta forma Washington não titubeia cada vez que seu poder diminui na região caribenha. Por nenhum motivo os Estados Unidos permitiriam que os governos da região se inclinassem à esquerda, e para isso não acontecer, a CIA entra em ação. Claro, Cuba é um exemplo de resistência desde 1959. Neste ano no Haiti houve um levante popular contra o brutal ditador Fraçois Duvalier. A CIA barrou a reação popular. Duvalier criou um exército com apoio de Washington para atuar com violenta repressão contra as comunidades provincianas. Duvalier e seu filho, Jean Claude Duvalier, que herdou o posto do pai na ditadura, ordenaram massacres sangrentos e cruéis. Mais de 100 mil pessoas foram assassinadas. Quando em 1986 começou uma rebelião incontrolável, aí sim um avião da Força Aérea dos Estados Unidos resgatou Jean Claude Duvalier e o levou a viver tranquilamente na França.

3 – Brasil em 1964 

O ano de 1964 foi de mudanças incríveis no Brasil. O presidente democraticamente eleito, João Goulart, implementou seu plano de Reformas de Base. Ainda que os Estados Unidos sempre tenham mantido controle sobre os povos distantes para manter a ignorância generalizada, havia uma mudança que realmente incomodou o país do Norte: uma reforma que reduziria os lucros das corporações multinacionais norte-americanas e de seus aliados. Claro, também incomodava o plano de reforma agrária.

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Então, a CIA entrou em ação e derrubou o governo de Jango em 1964 e instalou uma brutal ditadura militar que durou 19 anos. Durante este período, milhares foram torturados, presos e assassinados. Também trataram de eliminar toda e qualquer pessoa que tivesse pensamentos de esquerda, em especial os comunistas.

4 – Uruguai em 1969

Durante os anos 60, movimentos revolucionários cresciam na América Latina. O Uruguai estava afundado em uma crise. Surgiram os maiores inimigos dos Estados Unidos: os Tupamaros, uma guerrilha revolucionária urbana. José Mujica formava parte desta organização e sua esposa Lucia Topolanski também. Washington se empenhou em detê-los porque a influência do grupo estava se expandindo. Nelson Rockefeller foi ao Uruguai para observar como efetivamente se fortalecia um sentimento “anti-ianque” e voltou a Washington para alertar que algo precisava ser feito com urgência.

José Mujica durante uma reunião dos Tupamaros | Foto: Marcelo Isarrualde

José Mujica durante uma reunião dos Tupamaros | Foto: Marcelo Isarrualde

Rapidamente a CIA respondeu ao chamado e enviou seu agente Dan Mitrione ao Uruguai. Ele foi responsável por treinar as forças policiais locais para a tortura e outras coisas macabras indescritíveis. Então, com a ajuda da CIA se instalou uma ditadura militar no país sob a ordem de Juan Maria Bordaberry, que governou o Uruguai com instruções diretas de Washington durante 12 anos. Centenas de pessoas foram assassinadas e milhares torturadas. A repressão era tão brutal que os uruguaios tinham medo até mesmo de dançar.

5 – Bolívia em 1971

As riquezas minerais da América Latina são a grande cobiça dos Estados Unidos e o país faz o possível para poder controla-las. Por décadas as corporações estadunidenses mantiveram sob seu domínio diversas regiões do Chile, Bolívia e Peru. Neste último, escravidão absoluta durante os anos 60. Quando os escravizados se atreviam a rebelar-se eram aniquilados imediatamente aos montes. Che Guevara viajou à Bolívia e se encarregou de incitar a revolução de 1967. Neste período as corporações norte-americanas mantinham até mesmo crianças sob o regime de escravidão. Dois anos depois Che foi assassinado pela CIA e os Estados Unidos instauraram uma junta militar no país.

Manifestação contra a ditadura na Bolívia

Manifestação contra a ditadura na Bolívia

Mas de novo as coisas não deram tão certo quanto Washington planejou. O general Juan José Torres tomou o poder e tratou de implementar reformas para os trabalhadores e os pobres. Os bolivianos estavam iludidos, mas a CIA não, e para levar a cabo suas instruções, recrutou o general Hugo Banzer. Ele liderou um golpe contra Torres e em 1971 iniciou sua violenta ditadura. Mandou torturar um incontável número de opositores e executar centenas de líderes políticos. Encarcerou mais de 8 mil pessoas. Todas as medidas foram tomadas sob as instruções de Washington.

6 – Chile em 1973

Outro país brutalmente explorado pelas corporações estadunidenses. Outro país condenado à miséria por Washington. Outro país mais que a CIA fez de tudo para desprestigiar nos meios de comunicação nacionais e internacionais o governo do presidente democraticamente eleito, Salvador Allende. Extorsão, tortura, encarceramento e assassinatos como medida de barrar os anti-ianques. Provocar a escassez para que o povo confronte o governo não aprovado pelos Estados Unidos, especialmente porque nacionalizou o que esse país mais desejava: suas riquezas minerais. Mas Washington também se incomodou muitíssimo porque Allende promoveu políticas públicas de moradia e educação para milhares de pessoas. Então os EUA fizeram o mesmo que acontece hoje em todo o mundo: golpe de Estado. Em 11 de setembro de 1973 o general Augusto Pinochet liderou o golpe de Estado com todo o apoio da CIA, incluindo armas e equipe militar.

Repressão na ditadura chilena

Repressão na ditadura chilena

Aviões de guerra bombardearam o palácio presidencial. Assassinaram Allende, que antes de morrer falou ao povo: “não vou renunciar. Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com a vida a lealdade do povo”. Pinochet governou por 17 anos. Mandou prender 80 mil pessoas, torturou mais de 30 mil e assassinou 3.200.

7 – Argentina em 1976

Os argentinos viveram a ditadura mais sanguinária da América do Sul. É traumatizante o simples fato de ler sobre as atrocidades cometidas no país. Campos de concentração, centros de tortura, massacres, estupros, agressões contra mulheres grávidas e execução de crianças. No total, 30 mil pessoas foram assassinadas. Por trás de todo este plano estava a CIA. Em 1973, a Argentina resistia a uma crise política tão grave que o presidente Juan Perón desmoronou e morreu de ataque no coração em 1974. Sua esposa, Eva Perón, tomou o poder só para enfrentar os conflitos até mesmo dentro de seu partido Peronista.

Manifestação das Mães da Praça de Maio em busca dos filhos desaparecidos na ditadura

Manifestação das Mães da Praça de Maio em busca dos filhos desaparecidos na ditadura

A CIA esperou sigilosamente até 1976, quando a situação era tal que foi fácil entrar e fazer o jogo sujo. Claro, recrutaram a um general de nome Jorge Rafael Videla e, novamente, um golpe de Estado em outro país latino-americano e outra ditadura marionete dos Estados Unidos. Nesta ocasião aparece o supervisor da desgraça, o infame secretário de Estado, Henry Kissinger.

8 – El Salvador em 1980

Este país centro-americano não sofreu menos sob a intervenção estadunidense e a supervisão já sabemos de quem: a CIA. Washington havia apoiado uma ditadura brutal que durou exatamente 50 anos entre 1931 e 1981. Camponeses e indígenas foram despejados sem piedade e a sangue frio. Mais de 40 mil foram massacrados. A situação foi tão grave que aconteceu algo inédito, até a Igreja Católica tentou intervir a favor dos pobres. Nesta época El Salvador era controlado por 13 famílias mafiosas donas de 50% do território nacional.

As 13 famílias estavam estreitamente ligadas com Washington. E a CIA treinava o exército e o equipou com todo o necessário. Quando o serviço de inteligência norte-americano soube que os jesuítas ajudavam as massas, mandou matá-los. E pediu para o papa João Paulo falar com o bispo Oscar Arnulfo Romero para pedir que desistisse da resistência. O cardeal se negou e foi assassinado durante uma missa em 1980. El Salvador foi então jogado em uma guerra civil que durou 12 anos e foi supervisionada pela CIA. Quando terminou o flagelo, mais de 75 mil pessoas haviam sido assassinadas, mas os EUA estavam felizes.

9 – Panamá em 1989

Um agente da CIA se torna o ditador. Estamos falando do presidente Manuel “Cara de Piña” Noriega. Obvio que por sua localização geográfica, o Panamá é de suma importância para os Estados Unidos. Quando o presidente Omar Torrijos tentou expulsar os gringos do Canal do Panamá, a CIA colocou uma bomba em seu avião e ponto final do conflito. Em 1983, Noriega tomou o poder. Ele era narcotraficante, além de agente da CIA há mais de 30 anos. Para Washington, não havia problemas porque ele seria servil. Porém, pelo dinheiro e pelo poder, Noriega passou por cima de tudo. Obcecado com o poder, ele não percebeu que os Estados Unidos pretendiam outro nome para a presidência: Guillermo Endera. Mas em seu lugar, Noriega designou Francisco Rodríguez e o impôs através de eleições fraudulentas. Também perseguiu as bases militares dos Estados Unidos em seu país.

Manuel Noriega

Manuel Noriega

Claro que os ianques não deixaram barato e invadiram o Panamá em dezembro de 1989. Prenderam Noriega em uma prisão norte-americana e mataram 3.500 civis inocentes e 20 mil foram despejados.

10 – Peru em 1990

Por último chegamos ao Peru. Aqui acaba apenas lista, não as ações que a CIA continua levando a cabo em toda a América Latina. Estes 10 casos servem apenas para entender como os Estados Unidos sempre foram iguais e nunca vão mudar. Sempre tomarão as medidas necessárias para exercer seu brutal, violento, descarado, desmedido e genocida domínio nesta e em todas as regiões.

Fujimori foi condenado há 25 de prisão em regime fechado por crimes de lesa humanidade

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No Peru se repetiu a história de um agente da CIA dominar o poder. Trata-se de Alberto Fujimori, eleito em 1990. Como se elegeu é uma pergunta que ninguém respondeu até hoje porque não passava de um medíocre, no sentido completo da palavra. Não tinha nem preparação, nem ideias, nem estratégias. E pior, não tinha nem influência política, nem muito carisma. Porém, teve a inteligência de ser assessorado por um homem muito inteligente, o advogado Vladimiro Montesinos, que também era agente da CIA e foi nomeado chefe do Serviço de Inteligência Nacional. Fujimori montou um grupo paramilitar para assassinar militantes de esquerda e marxistas. Dissolveu o congresso e prendeu todos os membros da Suprema Corte de Justiça. A CIA financiou todas as atrocidades. Agora ele está atrás das grades.

Fonte: Portal Vermelho, com Telesur

Tradução: Mariana Serafini

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