Alemanha

Eleições na Alemanha: Análises do Die Linke e do Partido Comunista Alemão

02/10/2017

O Resistência apresenta aos seus leitores as análises do Die Linke (A Esquerda) e do Partido Comunista Alemão (DKP, na sigla em alemão), sobre as recentes eleições na Alemanha.

Eleições na Alemanha – Die Linke

No domingo, 24 de setembro, houve eleições para o Parlamento Alemão. Os partidos à esquerda dos Conservadores Cristãos (União Democrata Cristã – CDU e União Social Cristã – CSU), SPD (Partido Social Democrata), Die Linke e Verdes perderam 4,1% e receberam apenas 38,6% dos votos válidos. A tendência descendente continua em 2017 “graças” à fraqueza dos social-democratas. Apenas em três cidades: Berlim, Hamburgo e Bremen, a aliança vermelho e vermelho/verde recebeu mais de 50%. Em Brandemburgo e na Turíngia recebeu apenas um terço dos votos.

Os partidos do governo saíram perdedores nesta eleição, juntos perderam 13.8%, dos votos validos.

Os conservadores cristãos receberam os seus segundos piores resultados na história da república. As razões para isso são variadas: outra chancelaria de Angela Merkel parece estar certa, já em estágio inicial. Apesar de o partido no governo receber muitas críticas, manter o poder parece ser uma garantia, o que motivou muitos eleitores conservadores a votar em outros Partidos de mesma tendência. Obviamente, para muitos eleitores conservadores, as transições para os liberais e até para a direita do populista AfD (Alternativa para a Alemanha) são fluidas.

A mensagem central difundida pelos conservadores: “Por um país em que vivamos bem e em que gostemos de viver”, pode simbolizar um outro aspecto. Mesmo nos círculos conservadores, não está muito claro como isso deve ser entendido. Na Saxônia, a CDU perdeu para a AfD.

A União Social Cristã (CSU) na Baviera perdeu 10,5%, atingindo apenas 38,8% – longe de sua marca mágica de 50%, o que lhe permitiria a maioria absoluta. A AfD está mais à direita do que a CSU e obteve 12,4%. A CSU não conseguiu manter a AfD pequena, por reunir forças e assumir suas posições. Do outro lado do espectro político, o Die Linke (A Esquerda) ganha 6,1% na terra da CSU.

Os liberais (Partido Democrático Liberal – FDP) retornam ao parlamento alemão. Seu sucesso está tão intimamente ligado a Christian Lindner que permanece completamente desconsiderado o que o partido representa e o que o separa da antiga agenda liberal. O êxito é principalmente devido à necessidade de muitos ex-eleitores conservadores, que queriam votar em uma alternativa ao AfD.

A Alternativa para a Alemanha (AfD) está claramente entre os vencedores desta eleição. Não alcançou, por pouco, seu objetivo eleitoral de atingir 15%. Na Saxônia tornou-se o partido mais forte ganhando três mandatos diretos e em outras regiões do leste da Alemanha veio em segundo lugar, depois dos conservadores. O esquema de cores do leste da Alemanha mudou completamente. Não está completamente claro o papel que as forças nacionalistas e abertamente revisionistas do AfD desempenham, visando superar as regras básicas da sociedade democrática e possivelmente representando uma maioria no grupo parlamentar.

A entrada do AfD representa uma presença política no trabalho parlamentar, tornando-se visível em vários níveis, com iniciativas provocativas, em busca da atenção da mídia e da mudança de cultura do debate político. O sucesso do AfD não foi propriamente uma surpresa, após ser bem sucedido em temas nacionais durante as eleições parlamentares anteriores. Isso confirma que os votos precedentes não foram unicamente resultados de um protesto. As linhas de conflito sociais que o AfD busca cada vez mais desde o biênio 2015/16 são características únicas. O debate desafiador sobre o futuro do país deve ser assumido por outros partidos. Se eles não respondem aos apelos sociais, como aconteceu com a CDU na Saxônia, o AfD ganhará ainda mais espaço. Na Alemanha Oriental, tornou-se o segundo partido mais forte depois dos conservadores, claramente à frente do Linke e dos social-democratas.

Os Verdes (o nome do Partido é Aliança 90/Os Verdes, mas é conhecido simplesmente como Os Verdes, N.R.) continuam estáveis, tiveram mais votos do que a previsão das pesquisas. A orientação óbvia da direção voltada a uma coalizão conservadora-verde não os prejudicou, ao contrário. O verdes são a opção de uma nova classe média, de formação tradicional, e em muitos aspectos, especialmente considerando o meio sociopolítico, formam o pólo oposto ao AfD.

O DIE LINKE permanece estável, obteve mais votos do que 2013 e alcançou o segundo melhor resultado no seu histórico como Partido. No entanto, permanece abaixo de dez por cento e não se torna mais forte do que o AfD. Essa eleição apresenta mudanças consideráveis. O apoio ao DIE LINKE da parte oriental claramente diminuiu para 17,7%, e na parte ocidental o partido cresce para 7,2% dos votos válidos. As relações de poder dentro do partido mudam ainda mais em direção às organizações da parte ocidental.

Sua aprovação acima da média entre os eleitores mais jovens também permanece. Obviamente, a tendência de uma crescente disparidade entre os resultados em áreas urbanas e rurais continua. Isso inclui uma aprovação do partido acima da média entre os acadêmicos. O partido está em movimento, o que não o levou a uma queda – de modo que a estratégia da campanha foi bem sucedida. O resultado também é surpreendente, levando em conta que o partido logo deixou o jogo do poder da futura coligação. Perde sua posição como a maior força da oposição e terá dificuldade em ser ouvido na mídia, em comparação com os maiores partidos da oposição.

Um resultado tão estável para um partido que visa mudanças progressivas da sociedade não pode ser satisfatório, em particular porque a única opção majoritária possível de ‘vermelho/vermelho/verde’ recuou em alcance. Dada à mudança das condições políticas, agora terá de superar os obstáculos estratégicos e sociais existentes para obter um alcance mais amplo de opções políticas.

A participação dos eleitores aumentou novamente (76,2%), refletindo um crescente interesse político dos cidadãos. E essa maior participação não se deve apenas àqueles que não votavam anteriormente e que agora são eleitores da AfD.

A formação do governo não será fácil para Angela Merkel. Os social-democratas buscam uma estratégia que já tentaram na Renânia do Norte-Westefália: forçar os liberais e os verdes a uma coalizão com os conservadores. No caso de uma “coalização Jamaica-CDU” essa terá que satisfazer as necessidades políticas de três aliados menores (CSU, Liberais, Verdes). Por conseguinte, não se esperam soluções sustentáveis para as grandes questões sociais. O SPD e o Linke como oposição de esquerda a esse governo teriam a opção de formar uma alternativa política à esquerda. A longo prazo, esta pode ser a última oportunidade para a renovação da política socialista, democrática e de esquerda.

Declaração do Partido Comunista Alemão sobre as Eleições na Alemanha

O resultado das eleições no Parlamento Alemão representa uma viragem à direita com todos os perigos envolvidos nisso. A AfD é uma força racista e nacionalista, uma articulação para os abertamente fascistas, que se torna o terceiro maior partido no parlamento alemão, com 13% dos votos válidos. É o partido mais forte da Saxônia e o segundo mais forte em toda a Alemanha Oriental. A CDU, o SPD, os Verdes e o Die Linke (A Esquerda) perderam eleitores para a AfD.

Os 13% dos votos recebidos pela AfD correlacionam-se aos resultados dos chamados estudos “Sinus”, que desde a década de 1980 mostram que 13% do eleitorado alemão (ocidental) tem uma “visão de mundo coerente com a direita”. Acidentalmente ou não? De qualquer forma, o “submarino” chamado “nazifascismo”, que na década de sessenta estava sob a forma do NPD (Partido Nacional Democrático da Alemanha), e que não se pode ignorar, emerge novamente.

Os resultados eleitorais da CDU e do SPD estão no nível mais baixo de todos os tempos. A social democracia tradicional vive uma crise profunda. O FDP conseguiu se estabelecer novamente com aqueles que estão do lado dos vencedores da redistribuição de renda de baixo para cima. Os Verdes mantiveram os seus resultados. O “Die Linke” alcançou um pequeno acréscimo, mas a perda de votos significativa em seu antigo reduto de origem – no território da Alemanha Oriental – continua. O partido perdeu cerca de 500 mil votos para a AfD. A escolha muito precoce sobre uma aliança com o SPD e os Verdes, sem esclarecer as “linhas vermelhas” ou os fundamentos mais importantes de tal aliança, promoveu a perda do perfil e da reputação do Die Linke, especialmente nos eleitores com consciência política em potencial.

Se uma coalizão entre a CDU, o FDP e Verdes realmente forjar o governo, ela agirá, acima de tudo, sob a pressão da direita, exercida pela AfD, visando uma intensificação do caminho agressivo e social-conservador do imperialismo alemão.

O SPD, da  Agenda 2010 e Hartz-IV*, é responsável pelo declínio social das massas, e por ter proporcionado ao imperialismo alemão a oportunidade de participação nas guerras e não oferece nenhuma esperança de uma verdadeira política de oposição. Pelo menos não para uma política de oposição contra a guerra e as perdas dos benefícios sociais, tão urgentemente necessária.

Os resultados da eleição expressam, acima de tudo, a grande inconsistência não só na consciência de massa, mas também na consciência de classe. Muitas pessoas, especialmente nas regiões desindustrializadas da Alemanha, estão justamente preocupadas com a perspectiva social e com a segurança de sua situação de vida. Essa incerteza provocou o voto de muitos que não votavam, trazendo esses eleitores de volta às pesquisas. Seu desejo era rejeitar a política da grande coalizão da CDU e SPD. Disseram não a essa política, sem acreditar nas falsas e demagógicas promessas e slogans. Ao escolherem a AfD, que não faz nenhum segredo sobre o fato de representar uma alternativa social-reacionária, divisionista e racista, escolheram uma “saída”, que em breve se voltará contra eles.

As forças da esquerda na Alemanha não foram capazes de dar respostas convincentes às perspectivas legítimas do medo. Somos da opinião de que as perspectivas do medo não são o racismo, mas podem se tornar o terreno propício ao racismo, se não houver caminhos compreensíveis para lutas bem-sucedidas pela paz, os direitos sociais e a democracia. Esta é a exigência para toda a esquerda, advinda desse resultado eleitoral.

O resultado do DKP (Partido Comunista Alemão), com 11.713 dos votos válidos, é muito baixo e não é satisfatório para nós. É também o resultado do fato de não participarmos de uma campanha eleitoral para o Parlamento Alemão, por nossa conta, desde 1989. Nossa corrida eleitoral para a eleição do Parlamento estava certa, não porque estivéssemos esperando retornos eleitorais, mas porque fortalecemos o DKP e tornamos suas plataformas mais conhecidas. Carregamos “o vermelho pela estrada” e continuaremos a fazê-lo. A médio e longo prazos, este é o caminho certo para mudar a consciência de massa e de classe, despertando-a para o verdadeiro inimigo.

Por esta razão, o DKP continuará seu rumo, com o seu programa de ação para a paz, o trabalho, a solidariedade e para mostrar de onde deve vir o dinheiro para a educação e para um sistema de cuidados da saúde que não abandone o cidadão doente: do orçamento militar e dos muito ricos. O DKP continuará lutando pelo desarmamento, pelo fim de todas as operações estrangeiras das forças armadas alemãs e pela paz com a Rússia. Continuaremos a lutar pela redução do horário de trabalho sem corte nos salários, a compensação dos servidores e a criação de novos empregos no setor público.

O DKP continuará a nomear o capital monopolista como seu principal antagonista e exigirá a luta conjunta, sabendo que a mudança será alcançada na rua e não na urna. Vamos lutar por interesses comuns, independentemente da visão de mundo, idade, origem e gênero – em suma, pela solidariedade – que é o que os governantes mais temem. A solidariedade é o nosso trunfo – na greve, na prevenção de um impedimento nos bairros ou no bloqueio à manifestação neofascista. A solidariedade também é a nossa arma contra a AfD.

CC do Partido Comunista Alemão (DKP)
Essen, Alemanha
25/09/2017

Traduções de Maria Helena De Eugênio para o Resistência

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