Opinião

Jerusalém e a “era Trump”; onde está a humanidade?

19/01/2018

Por Elson Concepción Pérez, no Granma

Jerusalém é conhecida na história como o local onde cristãos, judeus e muçulmanos compartilharam o mesmo teto.

É impossível dizer exatamente quando começou o problema, exacerbado agora pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Mas o que a história reconhece é que, encorajado pelo antissemitismo sofrido pelos judeus na Europa, no início do século 20, o movimento sionista, que procurou estabelecer um Estado para os judeus, ganhou força.

Em 14 de maio de 1948, Israel surgiu e com a nação um conflito cuja expressão mais complicada foi a chamada Guerra dos Seis Dias, em 1967, cujo desfecho foi a expansão sionista, o massacre dos palestinos e a expulsão de milhões de pessoas de suas terras.

Começava a colonização de um território até aquele momento considerado sagrado para muçulmanos, judeus e católicos.

O que a incipiente Organização das Nações Unidas acreditava ser uma solução para a questão judaica, após o Holocausto, foi convertendo-se no que é hoje o conflito mais longo, sangrento e politizado da era moderna.

Quase dez milhões de palestinos, que viviam naquelas terras, foram forçados a converterem-se em párias e emigrar, devido ao ódio e ao massacre sionista.

Outras dezenas de milhares de árabes foram mortos pela barbárie israelense. Milhares, incluindo crianças, estão nas prisões, enquanto quase um milhão de colonos judeus se deslocaram para assentamentos construídos ilegalmente na Palestina ocupada.

Assim, chegamos à “era do Trump” e, como se não fosse suficiente o que acontece na região, um novo ataque contra a civilização e a convivência estremece a humanidade, quando o presidente dos EUA decide – como se ele fosse o senhor deste mundo – reconhecer Jerusalém como a capital de Israel e mudar a embaixada de seu país para aquela cidade, escarnecendo da ONU, da história e da comunidade internacional.

História e anti-história

Entre as hipóteses dessa longa e complicada história, um despacho da BBC Mundo relata que, para os judeus, a área em que Israel se localiza é a Terra Prometida por Deus ao primeiro patriarca, Abraão, e seus descendentes.

Na Cidade Velha de Jerusalém, existem quatro bairros: o cristão, o muçulmano, o judeu e o armênio.

No bairro cristão está a Igreja do Santo Sepulcro, local onde se crê que Jesus teria sido morto, crucificado e ressuscitado.

É um dos principais destinos de peregrinação para milhões de cristãos de todo o mundo, que visitam o túmulo vazio de Jesus e buscam consolo e redenção orando no local.

O bairro muçulmano é o maior de todos e contém o santuário da Cúpula da Rocha e a Mesquita Al-Aqsa, em uma planície conhecida pelos muçulmanos como Haram al-Sahrif ou o Nobre Santuário.

A mesquita é o terceiro lugar mais sagrado do islamismo e muito próximo a ela se encontra a chamada Rocha Fundamental, no santuário da Cúpula da Rocha, onde os muçulmanos acreditam que Maomé ascendeu aos céus.

Os fiéis visitam o local durante todo o ano e, todas as sextas-feiras, durante o mês sagrado do Ramadã, centenas de milhares de pessoas chegam de todos os cantos do mundo para orar na mesquita.

O bairro judeu abriga o Muro das Lamentações, um fragmento do muro de contenção da montanha na qual o Monte do Templo de Salomão, em algum momento, foi edificado, aponta a notícia da BBC. No interior do templo encontra-se o Sancto Sanctórum, que é o local mais sagrado do judaísmo.

A tese dos judeus aponta para a crença de que essa era a localização da Rocha Fundacional com a qual o mundo foi criado e onde Abraão se preparou para sacrificar seu filho Isaac.

Essas são algumas das versões relativas a Jerusalém e seus habitantes.

Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU aprovou um plano para a divisão da Palestina, que recomendava a criação de um estado árabe independente e um judeu, além de um regime especial para a cidade de Jerusalém.

Esta é a história, em síntese, da razão pela qual é tão necessária a convivência pacífica em uma cidade com variados componentes religiosos, mas onde os povos conseguiram viver, cada qual reverenciando seus deuses e credos e defendendo com isso a “sua verdade”.

No entanto, a anti-história, é encenada nos últimos tempos, quando a expansão judaica não parecia aplacar a gana de expulsar os palestinos do lugar onde viveram durante séculos e, ainda mais, quando as autoridades sionistas optaram, em 1980, por declarar Jerusalém como a capital de Israel, provocando a ira palestina e da comunidade internacional.

A ONU também declarou ilegais os assentamentos judeus que Israel constrói em dezenas de milhares de terras palestinas. Entretanto, nada mudou, exceto o dano, uma vez que as resoluções e reivindicações da ONU nunca se tornaram realidade porque sempre houve o veto americano, o maior aliado de Israel nas suas aventuras contra os palestinos.

Agora, com Donald Trump, os Estados Unidos reconhecem Jerusalém como a capital oficial de Israel e, assim, adicionam combustível a um incêndio que seguramente terá como vítimas as mesmas de sempre: os palestinos.

A ira desencadeada pela decisão de Trump deixa suas pegadas sangrentas por todos os lugares. Os palestinos, com pedras e paus, enfrentam mais uma vez aqueles que, desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, têm como objetivo assumir esse território e expulsar os árabes e os povos nativos que sobrevivam aos seus massacres.

É Donald Trump, desta vez, quem acende o pavio para que as chamas se expandam e assim o Pentágono possa disponibilizar ainda mais as armas do Complexo Militar Industrial, para serem usadas contra os palestinos indefesos.

Que horror! E a humanidade, onde está?

Tradução de Maria Helena de Eugênio para o Resistência

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