Oriente Médio

Jorge Cadima: A solução ‘um Estado’ de Trump e Netanyahu não é um Estado para todos

24/02/2017

Trump acolheu nos EUA o primeiro-ministro de Israel, o carniceiro de Gaza, Netanyahu. Por entre declarações de amor mútuo na conferência de imprensa conjunta, Trump distanciou-se da política oficial da ONU ao longo de décadas: a promessa de dois Estados em território palestino.

Por Jorge Cadima, no Avante!

Disse que tanto fazia uma solução de dois Estados, ou de um Estado, e caberia a Israel e aos palestinos decidir. Falsa ingenuidade e falso distanciamento. A solução ‘um Estado’ de Trump e Netanyahu não é um Estado para todos quantos vivem no território histórico da Palestina. É o Estado judaico do Grande Israel, exclusivista e xenófobo, anexando a Margem Ocidental e erguido sobre uma ulterior limpeza étnica dos palestinos.

As manobras do imperialismo para dominar o Médio Oriente podem estar prestes a ter um novo salto qualitativo. No seu recente discurso perante a Assembleia Geral da ONU, Netanyahu disse que “as relações diplomáticas de Israel” com os países árabes “estão a sofrer uma revolução” pois estes “começam a reconhecer em Israel, não o seu inimigo, mas um aliado” (Jerusalem Post, 22/9/16). Os ‘países árabes’ de que fala são as petroditaduras do Golfo, os maiores promotores e financiadores do terrorismo fundamentalista que assola a região, ao serviço do imperialismo. Os países árabes laicos, nascidos da luta de libertação nacional dos povos árabes, têm estado a ser destruídos, um a um, pelo imperialismo e Israel. Pelos Bushs, Clintons, Obama e o terrorismo ao seu serviço.

A Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes Unidos estão há muito, pela calada, em intensa colaboração com Israel, não apenas na promoção dos bandos tipo ISIL e Al Qaeda mas também na compra de armas e, como relata um recente artigo da Bloomberg (2/2/17), em negócios com empresas tecnológicas e de ‘segurança’ de Israel (uma das quais – a Athena GS3 – chefiada por um ex-chefe dos serviços secretos de Israel, a Mossad). Segundo a Bloomberg “não é que a Paz tenha chegado ao Médio Oriente. Não se trata de converter espadas em arados; é o resultado duma convergência lógica de interesses, baseada em receios partilhados: duma bomba iraniana, do terror jihadista, de insurreições populares, e de uma retirada dos EUA da região”. Metade mentira e metade verdade. Não há bomba iraniana e o terror jihadista é obra deles próprios. O que realmente receiam é a resistência e revolta populares, e o enfraquecimento do papel hegemônico dos EUA.

Trump ameaça virar-se contra o Irã, o único país da lista de países a invadir elaborada pelo Pentágono (segundo o General Wesley Clark) que ainda não foi objeto duma agressão militar direta. Os aventureiristas imperialistas sonham com estender a esse grande país as suas receitas: a guerra, o caos e a destruição. As ditaduras árabes que aceitem colaborar terão, a prazo, o mesmo destino do seu antecessor Saddam Hussein: depois de trazerem a desgraça para os povos da região, serão varridas pelas próprias potências imperialistas que serviram, e que apenas cobiçam as suas riquezas. Ou serão varridas pelos seus povos.

O que se compreende mal, no meio disto tudo, é o papel da ONU. Notícias da imprensa israelita referem que Tzipi Livni (ministra da Justiça de Israel durante o massacre de 2014 em Gaza) foi convidada por Guterres para um lugar de subsecrtetária geral da ONU (Haaretz, 12/2/17). O presidente de Israel, Rivlin, apoiou publicamente essa eventualidade (Haaretz, 13/2/17). Uma tal nomeação seria premiar o maior infrator de resoluções da ONU. Seria esfaquear pelas costas os palestinos, ao fim de 70 anos de promessas por cumprir. Seria colocar criminosos de guerra nas chefias da ONU.

Título original: Um Estado

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