José Reinaldo: Recordações de uma nódoa em nossa História

18/10/2015

Uma das efemérides deste ano sem registro autocrítico é o 145º aniversário do final da Guerra do Paraguai, em que Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai), sob os auspícios do Império Britânico, aniquilou o país independente vizinho que se recusava a desempenhar o papel de nação subserviente à Coroa imperialista britânica.

Por José Reinaldo Carvalho

Os patriotas e internacionalistas brasileiros e de todo o Cone Sul da América, num momento em que vigora a democracia e a soberania nacional autêntica na região, devíamos instar os nossos governos a pedirem desculpas ao povo paraguaio pelas até hoje irreparáveis perdas que lhe infligiram os exterminadores do inglório passado.

Lembro-me do camarada Ananias Maidana, já falecido, contando-me, quando era secretário-geral do Partido Comunista Paraguaio, diante do retrato do insigne José Gaspar Rodrigues de Francia, líder da Independência do país guarani, que o soldado paraguaio, mesmo baleado pelas tropas da Tríplice Aliança, permanecia de pé, caindo apenas depois de, já morto, empurrado pelo seu algoz.

A Guerra do Paraguai é uma nódoa em nossa história. A historiografia das classes dominantes e das Forças Armadas brasileiras atribuem-na a um ato agressivo do presidente Solano Lopez contra o Brasil. Mutatis mutandis, é uma argumentação semelhante à de Bush ao inculpar Saddam Hussein pelas sucessivas agressões imperialistas ao Iraque, porque o dirigente iraquiano invadira o Kweit.

No contexto geopolítico regional da época, a ação do presidente Solano Lopez, mesmo que se a julgue como uma imprudência ou um intempestivo erro estratégico, foi uma ação defensiva, considerando a ação do Império Brasileiro no Uruguai e os planos estratégicos do Império Britânico para a região, manipulando seus aliados brasileiros, argentinos e uruguaios.

Não pretendo fazer digressão histórica, mas apenas o registro de uma posição que, sendo internacionalista, não se afasta do patriotismo, elementos indissociáveis.

A coroa brasileira, ao esmagar a ferro e fogo a soberania do povo paraguaio, forjou seus instrumentos de agressão e repressão, as Forças Armadas, e seus heróis, que não são necessariamente os do povo brasileiro, a exemplo do duque de Caxias, verdugo do povo paraguaio, que também afogou em sangue revoltas populares em solo nacional.

Exatamente um século depois, essas mesmas Forças Armadas, em guerra contra o povo brasileiro, deram um golpe de Estado a partir do qual cometeram crimes de lesa-humanidade – banimentos, prisões, torturas e assassinatos de patriotas.

A reconciliação do Brasil passa pelo respeito à memória e o resgate da verdade. Questão de justiça, que pressupõe no mínimo a autocrítica e o compromisso, através de freios legalmente constituídos, para que as Forças Armadas jamais cometam crimes de lesa-humanidade. Em pronunciamentos perante os órgãos de seu partido, o PCdoB, em entrevistas a veículos de comunicação e audiência pública na Câmara dos Deputados, foi esta a opinião expendida também pelo líder histórico do PCdoB, João Amazonas.

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