Guerra imperialista

Líbia, sete anos de uma calamidade provocada pela Otan

20/03/2018

Por Manlio Dinucci (*)

Há sete anos, no dia 19 de março de 2011, começava a guerra contra a Líbia, dirigida pelos Estados Unidos, primeiramente por meio do Comando Africano, depois da Otan sob comando estadunidense. Em sete meses foram efetuadas cerca de dez mil missões de ataque aéreo com dezenas de milhares de bombas e mísseis.

A Itália participou desta guerra com caças-bombardeiros e bases aéreas, rasgando o Tratado de Amizade e Cooperação entre os dois países.

Já antes do ataque aeronaval, eram financiados e armados na Líbia setores tribais e grupos islâmicos hostis ao governo, e eram infiltradas forças especiais, em particular catarenses.

Demolia-se assim aquele Estado que, na costa sul do Mediterrâneo, registrava “altos níveis de crecimento econômico e outros indicadores de desenvolvimento humano” (como documentava em 2010 o próprio Banco Mundial). Ali encontravam trabalho cerca de dois milhões de imigrantes, na maioria africanos.

Ao mesmo tempo a Líbia tornava possível com os seus fundos soberanos o nascimento de organismos econômicos independentes no âmbito da União Africana: o Fundo Monetário Africano, o Banco Central Africano, o Banco Africano de Investimento.

Os Estados Unidos e a França – provam isto as mensagens de e-mail da secretária de Estado Hillary Clinton – entraram em acordo para bloquear primeiramente o plano de Kadafi de criar uma moeda africana, alternativa ao dolar e ao franco CFA imposto pela França a 14 ex-colônias africanas.

Demolido o Estado e assassinado Kadafi, o butim a repartir na Líbia é enorme: as reservas petrolíferas, as maiores da África, e de gás natural; a imensa camada núbia de água fóssil, o ouro branco em perspectiva mais precioso que o ouro negro; o próprio território líbio, de importância geoestratégica primária; os fundos soberanos, de cerca de 150 bilhões de dólares investidos no exterior pelo Estado líbio, “congelados” em 2011 sob mandado do Conselho de Segurança da ONU.

Dos 16 bilhões de euros dos fundos líbios, bloqueados no Euroclear Bank na Bélgica, já foram repartidos 10 bilhões sem qualquer autorização de saque. A mesma grande rapina ocorre em outros bancos europeus e estadunidenses.

Na Líbia, as receitas de exportação de produtos energéticos caíram de 47 bilhões de dólares em 2010 a 14 bilhões em 2017, hoje repartidas entre grupos de poder e multinacionais; a moeda, o dinar, que antes valia 3 dólares, hoje é cambiada a uma taxa de nove dinares por dólar, enquanto os bens de consumo são importados com pagamento em dólar, com uma consequente inflação anual de 30%.

O nível de vida da maioria da população caiu, por falta de dinheiro e de serviços essenciais. Não existe mais segurança nem um real sistema judiciário.

A pior condição é a dos imigrantes africanos: sob o falso pretexto (alimentado pela mídia ocidental) de serem “mercenários de Kadafi”, são encarcerados pelas milícias islâmicas até mesmo em jaulas do zoológico, torturados e assassinados.

A Líbia se tornou a principal via de trânsito, em mãos de traficantes de seres humanos, de um caótico fluxo migratório para a Europa que, na travessia do Mediterrâneo, provoca todo ano mais vítimas do que os bombardeios da Otan de 2011.

São também perseguidos os líbios acusados de ter apoiado Kadafi. Na cidade de Tuarga as milícias islâmicas de Misrata apoiadas pela Otan (aquelas que assassinaram Kadafi) realizaram uma verdadeira limpeza étnica, exterminando, torturando e violentando. Os sobreviventes, aterrorizados, tiveram que abandonar a cidade. Hoje, cerca de 40 mil vivem em condições desumanas sem poder retornar a Tuarga.

Por que os expoentes da esquerda silenciam, estes mesmos que há sete anos pediam em voz alta a intervenção italiana na Líbia em nome dos direitos humanos violados?

(*) Manlio Dinucci é jornalista e geógrafo; artigo publicado em Il Manifesto; tradução de José Reinaldo Carvalho para o Resistência.

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