Armas nucleares

Manlio Dinucci: Como votar NÃO às armas nucleares

01/11/2016

“Obrigado, presidente Obama. A Itália prosseguirá com grande determinação o empenho pela segurança nuclear”: assim escreveu o premiê Renzi em uma histórica messagem pelo Twitter. Seis meses depois, nas Nações Unidas, votou SIM às armas nucleares. Indo a reboque dos EUA, o governo italiano se alinhou contra a Resolução, aprovada por grande maioria no primeiro comitê da Assembleia Geral, que pede a convocação em 2017 de uma conferência das Nações Unidas para “negociar um instrmento legalmente vinculante para proibir as armas nucleares, que leve à sua total eliminação”.

Por Manlio Dinucci*

Assim, o governo italiano renegou aquilo que tinha prometido à Conferência de Viena, há dois anos, aos movimentos antinucleares “exigentes”, assegurando-lhes sua vontade de atuar pelo desarmamento nuclear desempenhando um “papel de mediaçáo com paciência e diplomacia”.

Desse modo, cai no vazio o apelo “Exigimos o desarmamento nuclear total”, no qual se pede ao governo o “compromisso coerente do empenho e da luta pelo abandono das armas nucleares”, por meio de um caminho “humanitário e jurídico rumo ao desarmamento nuclear”, no qual a Itália poderia desempenhar “um papel mais do que ativo, possivelmente dirigente”. Por conseguinte, caem no vazio também as moções parlamentares com o mesmo tom.

Os apelos genéricos ao desarmamento nuclear são facilmente instrumentalizáveis: basta pensar que o presidente dos EUA, artífice de um rearmamento nuclear da ordem de um trilhão de dólares, ganhou o Prêmio Nobel da Paz por “sua visão de um mundo livre das armas nucleares”.

O modo concreto através do qual na Itália podemos contribuir para o objetivo do desarmamento nuclear, enunciado na Resolução das Nações Unidas, é o de libertar nosso país das armas nucleares estadunidenses. Isso não requer um apelo ao governo, mas a exigência de que este respeite o Tratado de não proliferação (TNP), assinado e ratificado pela Itália, cujo Artigo 2º estabelece: “Todo Estado militarmente não nuclear, que seja Parte do Tratado, se compromete a não receber de quem quer que seja armas nucleares ou outros dispositivos nucleares explosivos, nem a exercer o controle sobre tais armas e dispositivos explosivos, direta ou indiretamente”.

Deve-se exigir que a Itália deixe de violar o TNP e peça aos Estados Unidos para remover imediatemente todas as suas armas nucleares do nosso território e não instalar as novas bombas B61-12, ponta de lança da escalada nuclear dos EUA-Otan contra a Rússia, nem outras armas nucleares. Deve-se exigir que os pilotos italianos não sejam mais treinados para o uso de armas nucleares sob o comando dos EUA.

É este o objetivo da campanha lançada pelo Comitê Não à Guerra, Não à Otan, e outros temas (para obter documentos, digitar no Google “Change Nato”). A campanha obteve um primeiro resultado importante: em 26 de outubro, no Conselho Regional da Toscana, foi aprovada por maioria uma moção do grupo Sim, Toscana de Esquerda, que “compromete o poder local a exigir que o Governo respeite o Tratado de não Proliferação das Armas Nucleares e fazer com que os Estados Unidos removam imediatamente qualquer arma nuclear do território italiano e renunciem a instalar as novas bombas B61-12 e outras armas nucleares”. Através desta e de outras iniciativas se pode criar uma ampla frente que, com uma forte mobilização, imponha ao governo o respeito ao Tratado de não Proliferação.

Há seis meses pedíamos nas páginas do Manifesto que alguém no Parlamento se mostrasse disposto a exigir, com base no TNP, a imediata remoção da Itália das armas nucleares estadunidenses. Ainda agora esperamos a resposta.

*Manlio Dinucci é jornalista e geógrafo; publicado em Il Manifesto; traduzido por José Reinaldo Carvalho para Resistência.

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