Guerra contra a Síria

Manlio Dinucci: Fake made in Usa e mentiras italianas

18/04/2018

Para motivar a guerra de 2003, os Estados Unidos acusaram o Iraque de possuir armas de destruição em massa: o secretário de Estado, Colin Powell, apresentou à ONU uma série de “provas”, depois reveladas como falsas, como o próprio teve que admitir em 2016.

“Provas” semelhantes são hoje exibidas para motivar o ataque à Síria efetuado pelos Estados Unidos, a Grã Bretanha e a França. O general Kenneth McKenzie, diretor do Pentágono, apresentou no dia 14 de abril um relatório, acompanhado por fotos de satélite, sobre o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Barzah, em Damasco, definindo-o como “coração do programa sírio de armas químicas”.

O Centro, que constituía o principal alvo, foi atacado com 76 mísseis de cruzeiro (57 Tomahawk lançados de navios e submarinos e 19 aéreos Jassm). O alvo foi destruído, anunciou o general, “fazendo retroceder em anos o programa sírio de armas químicas”.

Desta vez não houve necessidade de esperar 13 anos para obter a confirmação da falsidade da “prova”. Um mês antes do ataque, em 13 de março, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) tinha comunicado oficialmente o resultado da segunda inspeção, efetuada no Centro Barzah em novembro de 2017, e dos exames das amostras coletadas, concluídos em fevereirio de 2018: “A equipe de inspeção não observou qualquer atividade em contraste com as obrigações derivadas da Convenção sobre Armas Químicas”. Não por acaso o Centro Barzah foi destruído pouco antes da chegada pela terceira vez dos inspetores da OPAQ.

A Síria, Estado membro da OPAQ, completou em 2014 o desarmamento químico, enquanto Israel, que não adere à Convenção sobre Armas Químicas, não se submete a nenhum controle. Mas disto não fala o aparato político-midiático que acusa a Síria de possuir e usar armas químicas.

O premiê italiano Gentiloni declarou que a Itália, embora apoiando “a ação circunscrita e voltada para golpear a fabricação de armas químicas”, não participou desta de nenhuma maneira. Na realidade, a ação foi previamente decidida e planificada na Otan. Prova disto é que, logo depois do ataque foi convocado o Conselho do Atlântico Norte, no qual os Estados Unidos, a Grã Bretanha e a França “atualizaram os aliados sobre a ação militar conjunta na Síria” e os aliados manifestaram oficialmente “seu pleno apoio a essa ação”.

Gentiloni também declarou que “o apoio logístico que fornecemos sobretudo aos Estados Unidos não podia de nenhuma maneira traduzir-se em que do território italiano partissem ações diretamente voltadas para golpear a Síria”. Na realidade, o ataque à Síria desde o Mediterrâneo foi dirigido pelo Comando das Forças Navais Estadunidenses na Europa, com quartel general em Nápoles-Capodichino, sob as ordens do almirante James Foggo, que comanda ao mesmo tempo a Força Conjunta da Otan, com quartel general em Lago Pátria (Nápoles).

A operação bélica foi apoiada pela base aeronaval estadunidense de Sigonella e a estação estadunidense de Niscemi do sistema MUOS [Mobile User Objective System] de transmissão de dados por satélite. Como demonstram os traçados do radar, os drones espiões dos EUA USA RQ-4 Global Hawk, decolando de Sigonella, desempenharam um papel fundamental no ataque à Síria, apoiado com aviões-cisterna para o abastecimento de caças em voo.

Portanto, a Itália compartilha a responsabilidade por uma ação bélica que viola a mais elementar norma do direito internacional. Ainda não se sabe quais serão as suas consequências, mas é certo que essa ação atiça as chamas da guerra. Mesmo que Gentiloni afirme que “não pode ser o início de uma escalada”.

Manlio Dinucci é jornalista e geógrafo. Artigo publicado em Il Manifesto. Tradução de José Reinaldo Carvalho para Resistência 

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