Internacionalismo

Raúl Castro: Diante dos enormes perigos, nossa única alternativa é a unidade e a solidariedade

18/09/2016
O presidente Raúl Castro e o chanceler cubano Bruno Rodríguez

O General de Exército Raúl Castro Ruz, Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, chefiou a delegação cubana na 17ª Cúpula do Movimento de Países Não Alinhados, realizada no último fim de semana na Ilha Margarita, Venezuela. Leia a íntegra de seu pronunciamento.

Estimado companheiro Nicolás Maduro Moros, Presidente da República Bolivariana da Venezuela;

Chefes de Estado e de Governo;

Estimados Ministros, delegados e convidados;

Senhoras e senhores:

Somos 120 Estados Não Alinhados e contamos, além dos Princípios de Bandung, com a Declaração sobre os Propósitos, Princípios e o Papel do Movimento de Países Não Alinhados na Conjuntura Internacional Atual, aprovada na 14ª Cúpula em Havana. Não se pode subestimar nossa enorme força quando atuamos concertadamente.

Na mesma Cúpula, em 2006, rechaçamos os intentos de “mudança de regime” e chamamos a garantir que todo país se abstivesse de recorrer à agressão e ao uso da força.

Também em Havana, em janeiro de 2014, os chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), com a assinatura da Proclamação da América Latina e Caribe como Zona de Paz, reafirmamos o compromisso com os princípios da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional; com a solução de diferenças de forma pacífica e o pleno respeito ao direito inalienável de todo Estado a escolher seu sistema político, econômico, social e cultural como condição essencial para assegurar a convivência entre as nações.

Contudo, somos testemunhos dos crescentes ataques à soberania e à autodeterminação da Venezuela. Cuba reafirma seu incondicional respaldo ao governo e ao povo venezuelanos, à união cívico-militar e ao presidente constitucional Nicolás Maduro Moros (Aplausos).

Rechaçamos energicamente o golpe de Estado parlamentar-judicial no Brasil contra a presidenta Dilma Rousseff, que constitui um ato de desacato à vontade soberana do povo que a elegeu com mais de 54 milhões de votos.

A irmã Colômbia terá todo o apoio de Cuba para avançar no difícil caminho da implementação do Acordo e da consolidação da Paz justa e duradoura que seu povo merece.

Expressamos nossa confiança em que o povo da República Árabe Síria será capaz de resolver suas diferenças por si mesmo, sem ingerências externas dirigidas a promover uma mudança de regime.

Companheiro Presidente:

É inaceitável que o povo palestino ainda continue sendo vítima da ocupação e da violência, e que a potência ocupante siga impedindo a criação de um Estado palestino independente com Jerusalém Oriental como sua capital.

Todos os intentos de garantir a autodeterminação do sofrido povo saharauí se frustraram, o que requer a ação da comunidade internacional.

Solidarizamo-nos com a histórica demanda do povo portorriquenho em prol de sua autodeterminação e independência.

Respaldamos também o reclamo da República Argentina sobre as Ilhas Malvinas, Sandwich do Sul e Geórgias do Sul.

Estimado companheiro Maduro:

Para Cuba, o não alinhamento significa a luta por modificar radicalmente a Ordem Econômica Internacional imposta pelas grandes potências, que conduziu a que 360 pessoas possuam uma riqueza anual superior às rendas de 45% da população mundial. A brecha entre países ricos e pobres cresce. A transferência de tecnologias do Norte ao Sul é uma aspiração esquiva.

A globalização favorece fundamentalmente um seleto grupo de países industrializados. A dívida dos países do Sul se multiplica e soma mais de 1,7 trilhão de dólares.

Dois bilhões e novecentos milhões de pessoas são empurradas ao desemprego e à pobreza extrema; milhões de crianças morrem a cada ano por causa da fome e de doenças preveníveis; quase 800 milhões de pessoas não sabem ler nem escrever, enquanto mais de 1,7 trilhão de dólares são dedicados a gastos militares.

O não alinhamento significa também a luta por eliminar as brechas do conhecimento e pelo uso das tecnologias da informação e das comunicações em prol do desenvolvimento e da cooperação. Rechaçamos sua crescente militarização e uso agressivo contra terceiros países.

A mudança climática se agrava e persistem nos países desenvolvidos padrões irracionais de produção e consumo que ameaçam as condições de existência de nossa espécie.

A realização dos direitos humanos continua sendo um sonho para milhões de pessoas em todo o mundo. Os Estados Unidos e a Europa empregam a manipulação, a dupla moral, a seletividade e a politização, enquanto ondas de refugiados se concentram em multidões nas fronteiras europeias sem encontrar soluções justas, estáveis e permanentes, que protejam sua vida e dignidade.

Estimado presidente Maduro:

Transcorreram 21 meses desde que anunciamos simultaneamente com o presidente Barack Obama, a decisão de restabelecer as relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos.

Houve alguns avanços, sobretudo no âmbito diplomático e da cooperação em temas de interesse mútuo, mas não foi igual na esfera econômico-comercial, devido ao alcance limitado, embora positivo, das medidas adotadas até agora pelo governo estadunidense.

Cuba seguirá reclamando o levantamento do bloqueio econômico, comercial e financeiro, que tantos danos e privações nos causa e que afeta também muitos países por seu alcance extraterritorial; e continuará demandando que se devolva à nossa soberania o território ilegalmente ocupado pela Base Naval dos Estados Unidos em Guantánamo.

Sem isto não poderá haver relações normais, como tampouco será possível se não se põe fim a outras políticas ainda vigentes que são lesivas à soberania de Cuba, como os programas subversivos e ingerencistas.

Ratificamos a vontade de sustentar relações de convivência civilizada com os Estados Unidos, mas Cuba não vai renunciar a sequer um de seus princípios, nem realizar concessões inerentes a sua soberania e independência (Aplausos). Não vai ceder na defesa de seus ideais revolucionários e anti-imperialistas, nem no apoio à autodeterminação dos povos.

Companheirio Maduro:

Desejamos-lhe todo o êxito e à irmã República Bolivariana da Venezuela à frente dos Países Não Alinhados, e ao mesmo tempo felicitamos a República Islâmica do Irã por seu trabalho no mandato que agora se concluiu.

A única alternativa em face dos enormes perigos e desafios que temos pela frente é a unidade e a solidariedade em defesa de nossos objetivos e interesses comuns.

Muito obrigado.

Fonte: Granma; traduzido pela redação de Resistência

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