Guerra imperialista

Síria, nova fase da guerra

02/07/2017

O envolvimento militar direto dos EUA na Síria continua a acentuar-se. O ataque com mísseis cruzeiro de 7 de Abril, no momento em que Trump recebia na sua mansão na Florida o presidente da China, deu o mote para um ciclo em que se intensificaram as ações militares do Pentágono contra as forças armadas de Damasco.

Por Luís Carapinha (*), no jornal Avante!

A perigosa escalada levou recentemente ao abate pelos EUA de um caça sírio em missão na província de Raqqa, o que provocou um aviso solene de Moscou. Porém este fim-de-semana (25/6) foi a vez de Israel atacar unidades sírias que combatiam os sucedâneos da Frente al-Nusra (catalogada pela ONU de organização terrorista) na zona das Colinas de Golã, cujo território se encontra em dois terços ocupado e anexado ilegalmente pelo regime sionista. Washington instalou no Sul da Síria, junto à fronteira com a Jordânia (e o Iraque), uma base militar e um perímetro dito de segurança. No Nordeste da Síria, o imperialismo norte-americano ergueu-se em padroeiro dos interesses curdos, causando a ira do aliado turco da Otan. Também nesta zona as tropas dos EUA estão a instalar diversas bases, sob pretexto do combate ao Daesh (o autodenominado Estado Islâmico), tal como aconteceu no Iraque. Independentemente de se saber que os reais objetivos estratégicos são outros, sendo visível o endurecimento da toada agressiva e campanha regional contra o Irã, importa lembrar que as operações na Síria da chamada coligação internacional liderada pelos EUA são completamente ilegais e representam uma violação crassa da soberania e integridade territoriais da Síria e das normas básicas do direito internacional. A ação dos EUA e das potências da Otan e aliadas, incluindo a ocupação pela Turquia de uma faixa territorial no Norte da Síria ou os ataques furtivos regulares de Israel contra o país vizinho, constituem atos de pirataria, agressão e terrorismo de Estado. Como o são toda a rede de apoios aos múltiplos grupos armados terroristas. Ao contrário da participação das forças da Rússia e do Irã, cuja presença conta com o aval do governo legítimo e internacionalmente reconhecido de Damasco.

A maior intervenção direta dos EUA e do carrossel de potências cúmplices dá alento ao cenário de partição da Síria. Sendo ao mesmo tempo a confirmação do fracasso do imperialismo em atingir os objetivos propostos. O povo e instituições sírias continuam a resistir. Os grupos armados perdem terreno. As forças do governo do presidente Bashar al-Assad controlam as maiores cidades e, com a ajuda dos seus aliados, avançam na complexa libertação do território. Os EUA, a UE, Israel, Turquia e monarquias do Golfo usaram contra a Síria os resultados da guerra no Iraque e Líbia mas não lograram consumar ali o cenário líbio. Ao invés, fraturas e contradições no seio dos países da coligação terrorista antissíria expõem as crescentes dificuldades dos EUA em impor a sua lei, apesar das dezenas de milhares de militares deslocados na região. Esta é uma guerra com um profundo significado internacional. Daí a importância acrescida da solidariedade com a resistência do povo sírio e a defesa da sua soberania.

(*) Membro da Seção Internacional do Partido Comunista Português

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