Brasil

Sociedade Brasileira de Física pede esclarecimentos sobre deportação de físico franco-argelino

22/07/2016
Físico franco-argelino Adlène Hicheur, professor visitante da UFRJ, foi deportado na última semana

A SBF (Sociedade Brasileira de Física) manifestou”preocupação” com a deportação do professor e físico franco-argelino Adlène Hicheur na última semana e pediu esclarecimentos, nesta terça-feira (19/07), ao Ministério da Justiça sobre o episódio.

Em mensagem encaminhada ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, o presidente da SBF, Ricardo Galvão, manifestou “preocupação” com a “forma sumária” com que ocorreu a deportação de Hicheur, que atuava como professor visitante no Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Hicheur foi deportado em um voo que partiu na noite de sexta-feira (15/07) do Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para Paris, na França.

“O Professor Hicheur, segundo noticiário veiculado amplamente na imprensa nos últimos dias, teria sido notificado pelas autoridades policiais brasileiras sobre sua deportação no mesmo momento em que foi deportado, sem que motivos para esta grave medida fossem apresentados. Tampouco as entidades acadêmicas às quais ele estava vinculado receberam explicações satisfatórias das autoridades”, afirma a nota da SBF.

A entidade diz não poder avaliar a “eventual adequação da medida” nem diz questionar ações relativas à segurança interna brasileira. Entretanto, de acordo com o texto de Gavão, “sendo o Professor Hicheur seu associado, e obedecendo ao que prescreve o Artigo 2 de seu Estatuto, ‘zelar pela liberdade de ensino, de pesquisa e pelos interesses e direitos dos físicos e professores de física’, a SBF tem o dever de solicitar que as razões para a deportação sejam devidamente esclarecidas”.

O documento diz também que físicos brasileiros “pedem e merecem receber esclarecimentos razoáveis e compatíveis com a tradição legalista e democrática da diplomacia brasileira” e alerta para as consequências de incidentes “não esclarecidos” ou “justificados”.

“Incidentes como este, se não adequadamente esclarecidos e justificados, causam impacto negativo na credibilidade do país junto à comunidade científica internacional, prejudicando os inúmeros programas de cooperação científica que o Brasil mantém com o exterior e que são relevantes para seu desenvolvimento”, afirma a nota.

A deportação sumária é uma medida extraordinária, prevista no Estatuto do Estrangeiro, que ocorre quando, por questões de “interesse nacional”, ocorre a retirada de um cidadão do país.

Entre 2009 e 2012, Hicheur cumpriu pena de dois anos e meio de prisão na França. Ele havia sido condenado por cinco anos por suposta associação com os autores de um plano de ataque, mas acabou ganhando liberdade condicional.

Adlène Hicheur afirma ter sido "condenado pela mídia" por um crime que não cometeu / Foto: Shobhan Saxena

Adlène Hicheur afirma ter sido “condenado pela mídia” por um crime que não cometeu / Foto: Shobhan Saxena

Com um extenso currículo na área da Física de Partículas, Hicheur já atuou como pesquisador na Cern (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear), que mantém o maior laboratório de aceleração de partículas do mundo em Genebra, na Suíça.

Em entrevista a Opera Mundi em janeiro, Hicheur disse estar sendo “condenado pela mídia” por um crime que não teria cometido, em referência a uma matéria publicada na revista Época no início deste ano. A publicação, segundo ele, teria distorcido detalhes que indicariam sua inocência.

Fonte: Opera Mundi

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