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Trump, um fascista a caminho da Casa Branca

07/03/2016

A contundente vitória de Donald Trump na chamada super terça-feira das eleições primárias nos Estados Unidos, já o colocam como o mais provável candidato à presidência do país, pelo Partido Republicano, como prenunciam as pesquisas. Faltam 9 meses até novembro, entretanto, se não houver imprevistos, não se pode ver outro personagem no âmbito republicano que lhe possa fazer frente, com possibilidades de êxito.

Por Angel Guerra Cabrera

Em qualquer caso, Ted Cruz e Marco Rubio, seus adversários na disputa interna, não estão distantes das posições extremistas do bilionário de direita, pois também fazem pronunciamentos contra os muçulmanos e os imigrantes, em favor de políticas mais belicistas, incitam a guerra comercial contra a China, além da, com muita ênfase, feroz oposição a quaisquer entendimentos com Cuba, Venezuela e outros países da ALBA.

Rubio, um político surgido e intimamente ligado à indústria anticastrista, desprestigiada e corrupta, poderá adequar suas palavras, de modo a agradar à cúpula do establishment republicano, mas suas atitudes políticas são semelhantes às de Trump. Para não mencionar o fanatismo religioso e patriótico de Ted Cruz. Porém, nenhum dos dois exibe o crescimento de Trump e a campanha de Rubio parece tão esvaziada, que alguns têm falado sobre a possibilidade de derrota na Flórida, sua base política.

Na maior democracia do mundo, que diariamente é desmascarada por David Brooks, correspondente de La Jornada nos Estados Unidos, o racismo continua vivo, como nos tempos da Guerra de Secessão. Mais de cinquenta anos depois das grandes lutas pelos direitos civis e o suposto fim da segregação racial, parte considerável da população negra vive em guetos e é submetida a uma significativa deterioração de suas condições educacionais, de trabalho e sociais. Negros e latinos constituem 39% da população carcerária.  Não é um dado menor, nesta análise, que os Estados Unidos possuem o maior número de prisioneiros do mundo, 2,2 milhões de pessoas e, que falar do “complexo industrial carcerário”; significa dizer, a privatização do sistema penal, com lucros de 170 mil milhões de dólares ao ano.

O velho e imaculado racismo nos grandes setores das populações brancas no sul, no centro-oeste e, em menor medida, em todo o país, e o mito do excepcionalismo estadunidense criaram o clima propício para que as classes operária e média, de origem anglo-saxônica, branca e ignorante, atingidas pelo desemprego e cujos rendimentos caíram significativamente com as políticas neoliberais, sejam receptivas a discursos como os de Trump, que culpam o “outro” por todos seus males.

Não é de menor importância, no humor atual desses setores, o individualismo e a ideologia do salve-se quem puder, fomentada deliberadamente pelo sistema ‘didático’ dos grandes complexos midiáticos, desde a presidência de Ronald Reagan.

Também estimulam esse estado de espírito revanchista, como na Itália nos anos vinte e na Alemanha na década de trinta, as derrotas militares de Washington e sua crise hegemônica, com o surgimento de potências nucleares e econômicas, tais como a Rússia, a Índia e a China, esta última confortavelmente instalada na posição de a segunda maior economia do mundo. “Devolver aos Estados Unidos a sua grandeza”, é o lema da campanha de Trump.

Isto talvez possa explicar o fato de em um estado de rançosa reputação neoliberal, como é Massachusetts, terem conquistado metade dos votos, apesar do desprezo ultrajante com o qual chegaram a qualificar os mexicanos “corruptos, criminosos e estupradores”, sendo seu projeto favorito, a construção de um muro com 1.600 km entre seu país e o vizinho do sul que, em suas palavras, “o México é que vai pagar.”

No campo do Partido Democrata, após a super terça, a também multimilionária Hillary Clinton surge como a favorita, apesar de que seu rival, Bernie Sanders, continua atraindo o voto da juventude e conseguiu ser escolhido em quatro estados. Levando-se em conta o caráter popular e ativista de sua campanha – em constante crescimento político e financeiro – Sanders pode garantir que a luta continua.

A partir de agora o que se verá é uma guerra suja contra Clinton, na qual Trump usará a emissão de e-mails – que estão sendo investigados pelo FBI– pela ex-secretária de Estado, o que poderia causar muito dano. De qualquer forma, a ex-primeira dama não ficará de braços cruzados e quem sabe surja alguma questão ameaçadora sobre o magnata do setor imobiliário e o diminua. Esperemos. Só imaginar Trump dono do botão nuclear é um pesadelo.

Fonte: Cuba Debate

Tradução: Maria Helena D’Eugênio

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