Opinião

Venezuela: Onde buscar a verdade?

03/05/2017

Encontrar onde radica a verdade e a razão na Venezuela é uma dor de cabeça para aquele que se encontra no exterior e é bombardeado sistematicamente com uma grande dose de desinformação.

Por Luis Beatón *

No próprio Século XXI, quando as tecnologias da informação batem à porta em qualquer canto do mundo, a grande mídia consegue ocultar a realidade à grande maioria, neste caso, a vítima é a Venezuela e a maioria de seu povo é o vilão.

Um exemplo para ilustrar. Os grandes poderes dizem que o presidente Nicolás Maduro deu um golpe de estado, que ele se auto golpeou.

Segundo analistas, o golpe de estado na Venezuela não o deu Maduro, mas sim o vem dando a nova Assembleia Nacional desde a sua instalação em 5 de janeiro de 2016, quando seu presidente, Henry Ramos Allup, afirmou que em apenas seis meses tiraria o mandatário do governo.

Há pouco a economista e acadêmica venezuelana Pasqualina Curcio abordou dum jeito muito especial a situação que vive esta nação latino-americana, olhando as coisas “ao avesso”.

Temos cá alguns dos aspectos da realidade, vistos em reverso:

Entre 1958 e 1998, durante 40 anos, realizaram-se 24 processos eleitorais, uma média de uma eleição a cada 2 anos. Depois de 1999 (quando Hugo Chávez chega ao poder), durante 18 anos, realizaram-se 25 eleições, incluindo referendos revocatórios e constitucionais, uma média quase de duas eleições anuais. Foram realizadas 3 eleições nos últimos 4 anos, desde 2013. Segundo os grupos que atualmente fazem oposição ao governo nacional, a partir de 1999 os venezuelanos estiveram submetidos a um regime ditatorial, cada vez mais tirano, sobretudo depois de 2013.

Das mais de mil emissoras de rádio e televisão daquelas autorizadas pelo governo para operar no espectro eletromagnético, 67% são privadas, 28% estão em mãos das comunidades e 5 % são de propriedade estatal. Dos 108 jornais que existem 97 são privados e 11 públicos. Da população venezuelana 67% tem acesso à internet. Segundo os grupos políticos que fazem oposição ao governo nacional, na Venezuela não há liberdade de expressão.

O presidente da República, em pleno exercício de suas funções, no âmbito do período presidencial de seis anos, face a atos de violência de parte de grupos locais, que procuram a desestabilização econômica, social e política, convocou a um diálogo pela paz aos setores da oposição. A oposição não atende ao chamado; prefere promover atos de violência nas ruas. O presidente é um tirano e ditador, os democratas são os da oposição.

Todas as organizações políticas (os partidos) encontram-se em processo de renovação. Convocatória realizada por um dos cinco poderes públicos, o Conselho Nacional Eleitoral. Todos foram ao chamado de renovação. Estão próximas as eleições regionais e municipais. Enquanto isso, dirigentes e seguidores dos grupos locais de oposição, bradam: Estamos sob uma ditadura!

Na Venezuela são violados todos os direitos humanos; será preciso aplicar-lhe a Carta Democrática Interamericana. É o que afirmava em Washington Luis Almagro, secretário geral da Organização de Estados Americanos. Em simultâneo, em Genebra, a Organização das Nações Unidas aprovava de maneira esmagadora a Revisão Periódica Universal apresentada pela Venezuela. Este exame tem como objeto fiscalizar a situação de direitos humanos em cada um dos 193 países membros desta organização.

A ultradireita, que faz oposição ao governo nacional, financia e promove ações de violência e terrorismo: bloqueia ruas, avenidas e as principais estradas; atenta contra escolas e imóveis de saúde; em um ato fascista, terrorista e demencial usa mercenários para assediar e incendiar o Hospital Materno Infantil “Hugo Chávez Frias” de El Valle, onde foram evacuados 58 recém-nascidos e mulheres foram asfixiadas pela fumaça. Segundo estes grupos políticos de oposição, a responsabilidade é do governo nacional por controlar a situação, dispersar os mercenários e por evacuar as crianças e mulheres.

Há escassez de alguns alimentos, medicamentos e produtos de higiene. As empresas encarregadas de sua produção, importação e distribuição, as grandes transnacionais, receberam de parte do governo nacional as divisas à taxa preferencial; receberam a matéria prima a preço subsidiado; mas incrementou o preço dos produtos em quase 4.000 por cento em menos de um ano (2016). O povo venezuelano faz longas filas para adquirir estes produtos. Os bens seguem sem aparecer nas prateleiras. Na Venezuela isto não é ineficiência da empresa privada, é um fracasso do modelo socialista.

Apesar de que aumentou seu preço 3.700 por cento (passou de 19 bolívares em março de 2016 a 700 bolívares em dezembro), cifra muito superior à inflação anual, centenas de clientes fazem longas filas para adquirir a farinha pré-cozida de milho para a torta de milho (o pão dos venezuelanos). Os donos das empresas, ao reparar que todos seus clientes faziam longas filas para adquirir sua marca, responderam diminuindo 80% a produção da farinha.

Escuta-se nos programas de opinião das rádios, sobretudo daquelas com uma linha editorial manifestamente contrária ao governo nacional: “Estamos na pior crise econômica, requeremos ajuda humanitária, ficamos a morrer de fome, não há comida, exigimos que se abra o canal humanitário”. E a seguir se escuta: “E agora publicidade… Convidamo-los a visitar o Restaurante X, ali poderão degustar variedades em carnes e pescados, sobremesas deliciosas, na rua tal e qual; leve a família toda neste fim de semana”…

“Caro amigo, cara amiga, vai de férias esta Semana Santa? Não deixe de passar pelo supermercado X, ali encontrará tudo o que você precisar, variedade e bons preços para desfrutar de umas ótimas férias e descansar como você merece”.

Final da publicidade: “Retornamos com o nosso convidado de hoje, especialista em economia, e seguimos conversando a respeito da necessidade urgente de abrir o canal humanitário na Venezuela pela falta de alimentos”.

A principal empresa do Estado venezuelano, Petróleos da Venezuela, provê 95% das divisas do país; os outros quatro por cento correspondem a outras empresas do Estado. As empresas privadas geram a porcentagem restante. Na Venezuela, as empresas privadas são eficientes e bem-sucedidas, as do Estado são ineficientes.

A produção nacional per capita na Venezuela nos últimos quatro anos é, na média, nove por cento maior que a dos últimos 30 anos. A taxa de desemprego, a historicamente mais baixa em 30 anos, 6,6%. A Venezuela está na pior crise e no caos econômicos.

As principais indústrias do setor farmacêutico, as que importam, produzem e distribuem mais de 90% dos medicamentos e materiais médicos cirúrgicos na Venezuela receberam da parte do governo nacional e à taxa preferencial 6,6 bilhões de dólares em 2008 para importar os bens. Em 2015 receberam 7,8 bilhões (mais que em 2008). Em 2008 não havia escassez de remédios, em 2015 sim. O responsável pela ausência dos remédios é o governo.

A República pagou mais de seis bilhões de dólares de compromissos da dívida externa durante os últimos quatro anos. O fez de maneira completa e pontual. A Venezuela é qualificada como o país com maior índice de risco financeiro no mundo.

Possivelmente o Estado venezuelano é muito arriscado porque conta com a principal reserva de petróleo a nível mundial, a segunda de gás, a de água doce, diamantes, ouro e mais outros recursos. Tal condição deve implicar muito risco para alguns bancos.

Em abril de 2002 os golpistas que dissolveram todos os poderes públicos mediante um decreto que constitui a maior ofensa à Constituição Nacional, bradavam emocionados: “Liberdade e democracia!”. Segundo o avesso de Pasqualina Curcio, os que bradavam “Liberdade e democracia!” naquela data no Salão Ayacucho do palácio de Miraflores são os que são os que hoje bradam “Fora o ditador!”, se referindo ao presidente constitucionalmente eleito com a maioria dos votos do povo venezuelano. Perante os olhos de alguns, sublinha, eles são os democratas.

A acadêmica interpreta o sentir da maioria, “os venezuelanos patriotas, povo de paz, insistimos que é ao avesso”.

* Correspondente Chefe de Prensa Latina na Venezuela

Fonte: Prensa Latina

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