Opinião

A fake news do “maxi radar”

06/11/2018

Por Manlio Dinucci (*)

“O M5S (Movimento Cinco Estrelas (**), no governo,)está dividido sobre o maxi radar siciliano”, é a manchete do Corriere della Sera, que assim divulga uma maxi fake news: não sobre o fato de que a direção do M5S, depois de ter conquistado na Sicília apoio eleitoral com o não ao MUOS (Mobile User Objective System), agora dá marcha a ré sobre o próprio objeto do litígio.

Definindo a estação MUOS, localizada em Niscemi, como um “maxi radar”, enganam a opinião pública fazendo crer que se trata de um aparato eletrônico terrestre de observação, portanto defensivo.

Mas, ao contrário, o MUOS, é um novo sistema de comunicação por satélite que potencia a capacidade ofensiva estadunidense em escala planetária.

O sistema, desenvolvido pela Lockheed Martin para a Marinha de Guerra dos EUA, é constituído por uma configuração inicial de quatro satélites (mais um de reserva) em órbita geoestacionária, ligados a a quatro estações terrestres: duas nos Estados Unidos (no Havaí e na Virgínia), uma na Sicília e uma na Austrália.

As quatro estações são interligadas por uma rede terrestre e submarina de cabos e fibra ótica (a de Niscemi está conectada diretamente à estação em Virgínia).

O MUOS, já em funcionamento, se tornará plenamente operativo no verão de 2019 atingindo uma capacidade 16 vezes superior à dos sistemas anteriores. Transmitirá simultaneamente com alta frequência, com criptografia, mensagens de voz, vídeos e dados.

Submarinos de ataque nuclear e navios de guerra, caças-bombardeiros e drones, veículos militares e divisões terrestres, estadunidenses e de aliados, estarão assim conectados por meio de uma única rede de comando, controle e comunicação às ordens do Pentágono, enquanto estiverem em movimento em qualquer parte do mundo, incluindo as regiões polares.

A estação MUOS de Niscemi não é, portanto, um “maxi radar siciliano” para guardar a ilha, mas uma engrenagem essencial da máquina bélica planetária dos Estados Unidos. Se a estação fosse fechada, como prometeu de maneira desenvolta o M5S na campanha eleitoral, deveria ser reestruturada a arquitetura mundial do MUOS.

As demais principais bases dos EUA e da Otan na Itália desempenham o mesmo papel. A Base Naval e Aérea de Sigonella, a pouco mais de 50 km de Niscemi, é a base de lançamento de operações militares principalmente no Oriente Médio e na África, efetuadas com forças especiais e drones.

A JTAGS (Joint Tactical Ground Station), estação de satélites estadunidenses do “escudo antimísseis”, instalada em Sigonella – uma das cinco em escala mundial (as outras se encontram nos Estados Unidos, na Arábia Saudita, Coreia do Sul e no Japão) – serve não somente à defesa antimísseis mas também às operações de ataque conduzidas de posições avançadas.

O Comando da Força Conjunta Aliada, em Lago Patria (Nápoles), está sob as ordens de um almirante estadunidense, que comanda ao mesmo tempo a Força Naval dos EUA na Europa (com a Sexta Frota estacionada em Gaeta, Lazio, e a Força Naval dos EUA para a África com quartel general em Nápoles-Capodichino.

Camp Darby, o maior arsenal dos EUA no mundo fora do país, reabastece as forças estadunidenses e aliadas nas guerras do Oriente Médio, Ásia e África.

A 173ª Brigada aerotransportada estadunidense, estacionada em Vicenza, opera no Afeganistão, Iraque, Ucrânia e outros países da Europa Oriental.

As bases de Aviano e Ghedi – onde estão instalados caças estadunidenses e italianos sob comando dos EUA, com bombas nucleares B61 que em 2020 serão substituídas pelas bombas nucleares B61-12 – fazem parte da estratégia nuclear do Pentágono.

A propósito, Luigi Di Maio e outros dirigentes do M5S se lembram de que se comprometeram solenemente com a Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares para fazer a Itália aderir ao Tratado da ONU, liberando o país das armas nucleares estadunidenses?

(*) Jornalista e geógrafo; publicado originalmente em Il Manifesto; tradução de José Reinaldo Carvalho para Resistência

(**) – Em italiano, Movimento 5 Stelle

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