Opinião

As 70 velinhas (explosivas) da Otan

02/04/2019

Por Manlio Dinnuci (*)

O 70° aniversário da Otan será celebrado pelos 29 ministros do Exterior da Aliança, reunidos em Washington em 4 de abril. Um Conselho do Atlântico Norte em tom menor, comparando com o máximo nível dos chefes de Estado e de governo.

Foi assim que quis o presidente Trump, pouco contente com os aliados porque em sua maioria estão atrasados na adequação do gasto militar em relação ao que Washington pediu.

O encontro será presidido pelo secretário geral da Otan, Jens Stoltenberg, cujo mandato o Conselho do Atlântico Norte renovou por mais dois anos pelos méritos a serviço dos Estados Unidos.

A agenda de Stoltenberg em Washington foi organizada atentamente, para confirmar quem comanda a Aliança. Em 2 de abril, o secretário geral é recebido pelo presidente Donald Trump na Casa Branca. Em 3 de abril, faz um informe às duas Casas reunidas do Congresso e serà recebido pelo secretário de Estado, Michael Pompeo.

Então, com as últimas instruções recebidas, presidirá o Conselho do Atlântico Norte em 4 de abril.

O mesmo Conselho do Atlântico Norte, que acaba de aprovar a nomeação do general Tod Wolters, da US Air Force, como Comandante Supremo Aliado na Europa em substituição ao general Curtis Scaparrotti do US Army.

Como é “tradição”, há 70 anos o Comandante Supremo Aliado na Europa é sempre um general estadunidense, nomeado pelo presidente dos Estados Unidos.

Uma vez que o general que tem o encargo de ser o comandante supremo da Otan é ao mesmo tempo o chefe do Comando Europeu dos Estados Unidos, a Otan está de fato inserida na cadeia de comando liderada pelo presidente dos Estados Unidos.

Não se sabe ainda quais serão as “prioridades” do general Wolters, mas decerto não serão diferentes das do general Scaparrotti: acima de tudo, “assegurar os interesses dos Estados Unidos e apoiar uma Europa íntegra em paz”, compromisso que soa tragicamente grotesco a vinte anos da guerra com a qual a Otan sob comando dos EUA destruiu a Federação Iugoslava.

A prioridade hoje – declara o general Scaparrotti – é que a infraestrutura europeia seja fortalecida e integrada para permitir que as forças dos EUA e Otan sejam rapidamente posicionadas contra a agressão russa”.

A Otan sob comando dos EUA prossegue assim, há 70 anos, de guerra em guerra. Da guerra fria, quando os Estados Unidos mantinham os aliados sob seu domínio, usando a Europa como primeira linha no confronto nuclear com a União Soviética, ao atual confronto com a Rússia provocado pelos Estados Unidos fundamentalmente com os mesmos propósitos.

(*) Jornalista e geógrafo; publicado originalmente em Il Manifesto; tradução de José Reinaldo Carvalho para Resistência

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