Opinião

Chanceler golpista José Serra recebe Henrique Capriles e respalda golpistas venezuelanos

15/06/2016

José Serra, Ministro das Relações Exteriores do governo golpista, tem muita coisa em comum com o político venezuelano Henrique Capriles. José Serra foi candidato derrotado duas vezes à presidência da República. Primeiro perdeu para Lula, depois para Dilma. Capriles também foi duas vezes derrotado na disputa pela presidência em seu país. Perdeu para Chávez, e depois para Nicolás Maduro. Sem conseguir votos suficientes para realizar suas ambições, ambos não medem esforços para chegar ao poder, mesmo que seja através de golpes contra a democracia em seus países. Nesta terça-feira (14), os dois se encontraram em Brasília, e o bi-derrotado venezuelano saiu extasiado do encontro com o bi-derrotado brasileiro.

Por Wevergton Brito Lima*

José Serra, na condição de golpista bem-sucedido (pelo menos até este momento) ostenta o título de Chanceler provisório, e do alto de sua posição vergonhosa (lembrando aquela construção dialética do samba de Mauro Duarte: “pra subir, você desceu”) fez o que dele se esperava, manifestou apoio à oposição venezuelana, rompendo uma tradição da diplomacia brasileira de não ingerência nos assuntos internos de outras nações.

Há muito que a Venezuela enfrenta uma guerra suja. Alguns dos métodos usados são velhos conhecidos da esquerda brasileira. Os dois maiores jornais e os dois maiores canais de TV venezuelanos são raivosamente antichavistas (isso em um país onde existe uma “ditadura”, segundo o que alguns papagaios do imperialismo repetem). O terrorismo midiático é diuturno desde 1998. Aliás, com apenas quatro anos de governo, Chávez foi vítima de uma intentona golpista, que durou pouco mas contou com amplo incentivo midiático e empresarial. Derrotado o golpe, os métodos da oposição foram se radicalizando. Ao terrorismo midiático juntou-se o terrorismo econômico e o terrorismo propriamente dito, com chavistas sendo assassinados, prédios públicos incendiados, etc.

Atos deste tipo buscam causar a desestabilização pelo medo e pelo terror e são tornados invisíveis à opinião pública mundial, pelo silêncio da mídia empresarial, que transforma neofascistas como Leopoldo López (comprovadamente autor intelectual de ações que causaram dezenas de mortos) em “prisioneiro político”.

No entanto, a violência política da oposição venezuelana é cotidiana. Por exemplo, na mesma terça-feira em que Serra recebia Capriles, Nelson Moreno, governador do Estado venezuelano de Anzoátegui, denunciou que o desenvolvimento de atos de violência em sua região (uma das que mais sofre com homicídios no país) está diretamente ligado à atuação de líderes da oposição, como o deputado Armando Armas. Segundo Moreno, Armas e outro líder oposicionista, Eduardo Bittar, coordenam em tempo real, através das redes sociais, as ações violentas. Também na terça-feira, em Cumaná, no estado de Sucre, farmácias, supermercados, lojas de ferragens, livrarias, lojas de roupas e diversos outros estabelecimentos foram vandalizados. As aulas tiveram que ser suspensas e o enviado do governo venezuelano para acompanhar de perto os fatos, Freddy Bernal, constatou que os atos são articulados por “grupos fascistas”.

Diante deste cenário, os países latino americanos em peso apoiam a proposta de “diálogo nacional” encaminhada pelo presidente Nicolás Maduro como forma de evitar um confronto que tem o risco de inclusive evoluir para uma guerra civil.

O Brasil foi – nos anos Lula e Dilma – constantemente uma voz em defesa da legalidade e do respeito à democracia no país irmão. Porém, agora, tendo José Serra como chanceler, diz o próprio Capriles, “tudo mudou”.

Disse Capriles, depois do encontro com Serra: “Eu encontrei, na reunião hoje com o chanceler Serra, respaldo a nossa posição”. De acordo com o site G1, Capriles também afirmou estar “otimista” e contou sentir-se “atendido” com o apoio político que recebeu no Brasil.

“Claro que volto otimista (…) Me permito dizer que, agora, me sinto atendido no Brasil”.

Assim, o governo golpista perfila-se abertamente ao lado da oposição venezuelana, o que objetivamente o coloca contra o governo legítimo de um país tradicionalmente amigo e aliado do nosso povo.

O chanceler provisório, José Serra, declarou, depois do encontro com Capriles: “não podemos ficar indiferentes a qualquer tipo de atropelo da democracia, de desrespeito aos direitos humanos e à situação bruta de carências que hoje envolvem a população venezuelana”,

Estas são as declarações públicas feitas depois do encontro, mas não é difícil imaginar o diálogo que ocorreu reservadamente entre os dois, com Serra aconselhando Capriles sobre a melhor maneira de dar ares de legitimidade a um golpe contra a democracia, mesmo que não engane ninguém.

Enfim, um encontro entre Serra e Capriles é capaz de causar náuseas mesmo a um abutre e, voltando ao samba do Mauro Duarte, o apoio recíproco entre os dois golpistas é a expressão perfeita da pretensa nova diplomacia brasileira “toda enterrada na lama”.

* Jornalista, membro da Comissão de Política e Relações Internacionais do PCdoB

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