Opinião

Frias celebra golpe e perseguição a Lula: sua parte no butim é US$ 2,7 bilhões

28/01/2018
Os irmãos Frias

Otavinho, diretor de Redação da Folha, comemora o golpe e a condenação de Lula. Um artigo que parece “ideológico” ou “jornalístico”, mas é apenas a celebração por receber US$ 2,7 bilhões como sua parte nos despojos da democracia

Por Mauro Lopes (*)

Otavio Frias Filho, o Otavinho é diretor de Redação da Folha e um dos donos do conglomerado que reúne diversas operações, das quais, atualmente, uma das menos relevantes financeiramente é exatamente a que dirige. Ele fez publicar no jornal deste domingo (28) artigo de sua lavra no qual celebra a condenação de Lula e solta fogos diante da perspectiva da inelegibilidade do ex-presidente.

No artigo, Otavinho rasga a fantasia: para ele, o eventual afastamento de Lula garante um processo eleitoral sob controle das elites (“talvez seja menos crispado um processo eleitoral que se previa belicoso”) e, mais importante, a “melhora que estará em curso na economia” – para quem, cara pálida?

Esta é a questão crucial: o afastamento de Lula é a garantia buscada por Otavinho e os seus de que o butim do golpe poderá ser repartido com tranquilidade pelos ricos que orquestraram o golpe contra a democracia. O mais importante do artigo está no não-escrito – em geral é assim: amontoam-se palavras sobre palavras enquanto o que é de fato relevante está na sombra; algo como o truque de um mágico, que agita uma mão para capturar a atenção da plateia enquanto executa seu golpe com a outra.

O que não está escrito? O fato de a família Frias ter estabelecido – e recebido- o tamanho de seus despojos depois da guerra que levou à derrubada de Dilma: o lançamento de ações do PagSeguro Digital – que pertence ao UOL, do Grupo Folha – na Bolsa de Nova York. Os Frias tomaram dos investidores nacionais e internacionais nada menos que US$ 2,7 bilhões (R$ 8,7 bilhões). É apenas no ambiente de uma democracia estrangulada pelos ricos, que garantem uma economia em ordem na lógica do financismo que comanda o capitalismo global, que jogadas bilionárias como essas são possíveis.

Pois é isso: exatos cinco dias depois de ter embolsado US$ 2,7bi, os Frias publicam seu artigo de comemoração.

No seu quase-manifesto, escrito com a soberba e segurança dos ricos que empalmaram o poder, Otavinho permite-se uma ironia contra os pobres e os democratas do país: “é preferível que as correntes mais exaltadas se organizem e concorram como as demais a eleições periódicas, disputando parcelas do poder de acordo com as normas, em vez de tramar contra o regime democrático e procurar sabotá-lo por métodos violentos” – depois de golpear a democracia, depois de condenar Lula para tirá-lo das eleições, o irmão de Luiz Frias, verdadeiro comandante do império familiar, vira-se para o país e escarnece: “agora que está tudo dominado vocês podem brincar de democracia e ai de vocês se ousarem contestar o novo status quo”.

Por fim, ele formaliza o apoio de seu conglomerado à candidatura de Alckmin: o nome que, segundo o texto, atrai “os economistas liberais, a direita moderada, os conservadores civilizados” (onde será que Otavinho insere-se nessa lista?). Para Otavinho, o governador de São Paulo, que em doze anos de mandato matou mil pobres periféricos por ano, é “uma escolha moderada e sóbria”.

Sim, porque agora, depois de embolsado o butim de quase US$ 3 bi, é preciso um administrador do país que, obediente aos Frias (e dos Setúbal, dos Lemann, dos Marinho, dos Safra e outros), garanta que a grana poderá ser usufruída com tranquilidade.

Há 30 anos, depois de haver participado da campanha das Diretas Já, a Folha lançou uma campanha publicitária com um bordão que fez época: “Folha: de rabo preso com o leitor”. Hoje, a campanha seria impensável. Precisaria ser atualizada: “Folha: de rabo preso com o investidor”.

(*) Jornalista, editor de Caminho para casa

Compartilhe: