Solidariedade

Intelectuais franceses lançam manifesto contra o golpe

03/06/2016

Um grupo de 30 intelectuais franceses lançaram um manifesto onde condenam de forma veemente o golpe em curso no Brasil. Para eles “a prática do golpe de Estado judicial parece ser a nova estratégia das oligarquias latino-americanas. Depois de Honduras e do Paraguai, foi a vez do Brasil. Esta nova forma de golpe, sem o uso de armas, é baseada em uma classe política conservadora e neoliberal”. Segundo os signatários do manifesto, no Brasil “a direita e a extrema-direita permanecem como poderosas forças políticas, capazes de mobilizar a população, com o apoio dos meios de comunicação, controlados completamente por conglomerados industriais e suas grandes famílias”. Leia a íntegra.

Contra o golpe constitucional, afirmamos o nosso apoio e solidariedade para com a democracia e os movimentos sociais brasileiros.

Os movimentos sociais brasileiros estão sendo diretamente atacados. Estão sujeitos a uma ofensiva política de grande magnitude que leva o Brasil para um grande período de regressão democrática. Desde o início de maio, Dilma Rousseff, presidente eleita com 54 milhões de votos foi afastada do poder pela Câmara Federa e o Senado. Os parlamentares – deputados e senadores severamente comprometidos em casos de corrupção – instituíram um processo de impeachment contra a presidente, acusando-a de irregularidades contábeis, para diminuir o déficit nas contas públicas. Essa é uma prática rotineira de todos os governos brasileiros e, pela Constituição brasileira, não representa qualquer responsabilidade criminal.

É por isso que os movimentos sociais, sindicatos e todas as forças progressistas do país caracterizam o afastamento de Dilma Rousseff como um golpe de Estado institucional.

A “Operação Lava Jato”, escândalo de corrupção ligado à Petrobrás – a empresa nacional de petróleo – envolvendo políticos brasileiros e empresas de construção no financiamento das campanhas eleitorais, indignou o povo brasileiro, com razão. Todas as partes em questão e os deputados da direita, que lideraram a campanha contra a Presidente, estão entre os mais envolvidos no escândalo da Petrobrás. Com base nas mobilizações populares, a direita sentiu que havia chegado o momento de iniciar uma grande ofensiva para eliminar o Partido dos Trabalhadores, cujas vitórias eleitorais ela nunca aceitara. O processo de impeachment contra Dilma Rousseff vem contando com o apoio de poderosas igrejas evangélicas, cuja influência é importante no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e vários partidos menores de direita, que têm a maioria em ambas as casas (Parlamento e do Senado).

A prática do golpe de Estado judicial parece ser a nova estratégia das oligarquias latino-americanas. Depois de Honduras e do Paraguai, foi a vez do Brasil. Esta nova forma de golpe, sem o uso de armas, é baseada em uma classe política conservadora e neoliberal. Apesar dos ganhos sociais obtidos na década de 2000 na América Latina, a direita e a extrema-direita permanecem como poderosas forças políticas, capazes de mobilizar a população, com o apoio dos meios de comunicação, controlados completamente por conglomerados industriais e suas grandes famílias. Alguns chegam a pedir a abolição do “Bolsa Família” e as medidas implementadas pelo PT para reduzir as desigualdades.

O atual presidente interino, Michel Temer, (líder do PMDB), já formou seu governo, composto unicamente por homens brancos e ricos. Nos primeiros dias, o governo Temer aboliu o Ministério da Cultura, da Igualdade Racial, dos Direitos das Mulheres e anunciou uma redução significativa dos gastos do SUS.

A direita brasileira está envolvida em extrema radicalização. Fala sobre a necessidade de “erradicar” o PT e, especialmente, os movimentos sociais que o apoiam, especialmente os sindicatos de trabalhadores e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Ainda que movimentos critiquem a política econômica, social e ecológica liderada pelo governo do PT, os movimentos sociais são contra o que é, de fato, um golpe constitucional.

Especialmente porque o eventual retorno da direita ao poder poderia significar uma grande ofensiva contra as conquistas sociais e, provavelmente, até a criminalização da dissidência e da ação social, o que era a norma antes da eleição de Lula em 2002.

Em apoio da democracia brasileira, estamos com os movimentos sociais brasileiros.

NÃO AO GOLPE, FORA TEMER!

 Assinam:

Christophe Aguiton, Attac France

Christian Azaïs, LISE – CNRS / CNAM

Geneviève Azam, économiste, membre du conseil scientifique d’Attac

Pierre Beaudet, Université d’Ottawa

Erika Campelo, Autres Brésils

Mathias Cassel aka Rockin’ Squat, chanteur

Bernard Cassen, président d’honneur d’Attac, secrétaire général de Mémoire des luttes

Henryane de Chaponay, CEDAL

Thomas Coutrot, économiste, membre du conseil scientifique d’Attac

Bernard Dreano, Assemblée européenne des citoyens

Jean-Pierre Duret, réalisateur

Afrânio Raul Garcia Jr., antropologue, CESSP/EHESS

Susan George, présidente du Transnational Institute

François Gèze, éditions La Découverte

Jean-Marie Harribey, économiste, Université de Bordeaux.

Jean-Jacques Kourliandsky, chercheur à Institut de Relations Internationales et Stratégiques (IRIS-Paris)

Kamal Lahbib, Forum des alternatives Maroc

Jean-Louis Laville, sociologue

Gustave Massiah, Cedetim/Ipam, membre du Conseil international du Forum social mondial.

Marilza de Melo Foucher, docteur en Économie, journaliste et blogueuse

Louis Pinto, sociologue

Ignacio Ramonet, journaliste Le Monde Diplomatique

Messaoud Romdhani, Forum Tunisien pour les Droits Économiques et Sociaux (FTDES)

Pierre Salama, économiste, professeur émérite université Paris XIII

Andrea Santana, réalisatrice

Hamouda Soubhi, Réseau Euromed Marocains des ONGs

Christophe Ventura, enseignant à l’Institut d’études européennes de Paris 8, Mémoire des luttes

Patrick Viveret, philosophe, citoyen impliqué

Freddy Vitorino, producteur

Célina Whitaker, Collectif Richesses

Tradução por Maria Helena De Eugenio para Resistência

 

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