Opinião

Migrantes e fascismo

29/06/2018
Foto: Hermine Poschmann/Mission Lifeline via AP

Ao momento da redação deste artigo o drama humanitário vivido pelos refugiados e migrantes do Lifeline poderá estar parcialmente resolvido. Um drama que foi testemunhado in loco pelo deputado do Partido Comunista Português (PCP) no Parlamento Europeu, João Pimenta Lopes, que ali foi levar a solidariedade dos comunistas portugueses.

Por Ângelo Alves

Mas o drama dos refugiados do Lifeline está longe de ser caso isolado e de chegar ao fim. É positivo ter-se encontrado uma solução, apesar de tardia. Mas este foi apenas um caso mais. São mais de mil os seres humanos que, segundo a ACNUR (Agência das Nações Unidas para os refugiados), morreram afogados no Mediterrâneo desde janeiro até hoje. Em 2017 foram 3115 e em 2016 foram 4962. Mas o Mediterrâneo não é o único local onde morrem milhares de pessoas que fogem dos conflitos, da fome e da pobreza. Desde 2014 poderão ter morrido mais de 30.000 pessoas no deserto do Saara a quem foi negado asilo em países da bacia sul do mediterrâneo.

Segundo a ACNUR a cada dois segundos uma pessoa é forçada a sair do local onde habita por razões de violência ou perseguição. Estima-se que os deslocados forçados sejam hoje 68,5 milhões em todo o Mundo. Destes, 28,5 milhões são refugiados ou requerentes de asilo, os outros, 40 milhões, são deslocados internos. Todos fogem da guerra, da fome e de violências várias. Aqueles que não têm outra opção senão sair do seu País, arriscam na maioria dos casos a vida. São alvos fáceis da extorsão, das redes de crime organizadas, de todo um conjunto de desumanidades como a de serem deixados no “ponto zero” do deserto do Saara e lhes ser indicada a direção do Níger. A frase de um refugiado a bordo do Lifeline diz tudo sobre a condição e as condições a que estes seres humanos são sujeitos: “prefiro morrer no Mediterrâneo que voltar para a Líbia”.

Mais de dois terços dos refugiados são oriundos de apenas cinco países – Síria, Afeganistão, Sudão do Sul, Myanmar e Somália – todos eles alvos de guerras ou ingerências levadas a cabo, direta ou indiretamente, pelas principais potências imperialistas. Muitos dos outros são de diversos países africanos, continente percorrido por vários fluxos de refugiados e migrantes, externos, internos e intra-africanos. A esmagadora maioria dos refugiados não vai para os países mais desenvolvidos, pelo contrário, 85% dos refugiados são acolhidos em países em desenvolvimento. Os cinco países com maior população de refugiados são: Turquia, Paquistão, Uganda, Líbano e Irã. Entre os 10 países com maior população de refugiados do Mundo figuram 4 dos países menos desenvolvidos do Mundo – Uganda, Sudão, Etiópia e Bangladesh.

Estes dados e números ajudam a compreender o quão criminosa e mesquinha é a política do imperialismo. Os migrantes e refugiados são vítimas duplas de um capitalismo explorador, violento, desumano e predador. Aqueles que mais responsabilidades têm nesta marca do capitalismo do Séc. XXI são os mesmos que das causas não querem nem ouvir falar e que “discutem” repugnantes políticas sobre como “conter” o fluxo de uma muito pequena parte das suas vítimas e como “exportar” esse “problema” para fora das suas limpas e arianas fronteiras. Esta é uma das melhores demonstrações de como o fascismo é produto do capitalismo. Trump e Salvini são apenas dois exemplos…

Fonte: Avante!

 

Compartilhe: