Opinião

O Brasil não está à venda!

18/04/2016

Segundo André Singer, cientista político, “é muito significativo que a luta de classes tenha voltado à cena trazida pela direita e pelo capital”. “Isso é surpreendente. Por que essa ofensiva diante de um projeto, de um governo que o tempo todo tentou conciliar, desde 2003 até agora, e jamais apostou na ruptura e no enfrentamento?”

Por Zillah Branco, de Lisboa para o Resistência

Pois é, exatamente por falar em nome do povo e, ao mesmo tempo tentar conciliar com os exploradores, é que desmobilizou a fibra da resistência que não reconheceu os seus princípios nas ofertas de uma socialização burguesa.

“Se você desmantela a alternativa popular, ela vai demorar mais dez, vinte anos para se reconstruir. Talvez seja isso que esteja em jogo. Se for isso, estamos não no fim, mas no começo de um novo processo de luta de classes selvagem”, acrescentou Singer.

A história exige tempo para amadurecer as condições de mudança. As organizações políticas que compreendem o processo que é revolucionário e trabalham incansavelmente para despertar a consciência de cidadania em todas as camadas populares. Lula levou ao seu primeiro Governo a proposta de desenvolvimento econômico que necessitava o apoio do empresariado brasileiro que estava asfixiado pelos programas imperiais do FMI e amarrou o compromisso de tirar mais de 50 milhões de brasileiros da tortura da fome e de integrar todos na sociedade sem discriminação. Foi uma tarefa gigantesca que se realizou com êxito tornando-se um modelo para todos os países em desenvolvimento.

Mas o caminho nunca foi fácil, pois os esbirros do poder elitista do sistema capitalista se infiltraram, aplicando a cunha da corrupção que enfraquece os elementos menos dotados de seriedade e patriotismo. Quando Dilma termina o seu primeiro mandato o panorama das alianças está envolto em uma teia de oportunismo e de traição (como prova o ex-democrata Temer candidato a Vice-Presidente) que lembra bem a situação que levou Getúlio Vargas, depois de assinar conquistas populares de criação de grandes empresas estatais, ao suicídio.

Felizmente o povo refletiu a formação de consciência obtida ao longo de 13 anos, empurrando para o lixo da história os que se empenhavam em criar problemas e falsas denúncias contra cidadãos heroicos que lutaram com coragem pela superação do lado podre do processo político.

Desenhou-se o “golpe” tendo como expoentes o que há de pior e mais sórdido da situação política – traidores dos antigos partidos democráticos, corruptos já denunciados mas protegidos por altos cargos no Estado, políticos oportunistas e mesquinhos sem idoneidade moral – que tentaram exibir-se na Europa e Estados Unidos sem conseguir qualquer apoio, inclusive sendo contestados por muita gente séria e até o diretor-geral da OEA, Luis Almagro; o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper; os escritórios da Cepal, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH); as declarações como a do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivel, e os líderes mundiais Massimo D’Alema (Itália), Ricardo Lagos (Chile), Felipe González (Espanha), José Mujica (Uruguai), Tabaré Vasquez (Uruguai), o secretário Geral da ONU entre tantos outros.

Nas ruas o povo se uniu em torno das lideranças de trabalho e luta, sindicatos, movimentos de massas e partidos de esquerda, e criou novas frentes de combate em torno de músicos, cineastas, atores, juristas, professores em diferentes expressões do trabalho intelectual com a combativa juventude estudantil de todo o país. Assim nasceu uma nova composição para apoiar o governo que só poderá aliar-se com as forças comprometidas com o desenvolvimento nacional e o fortalecimento do Estado social para atender às necessidades de saúde, escolas, emprego, habitação, transporte e segurança pública para construir um Brasil democrático e livre.

Não há conciliação com os defensores do capital contra o trabalho. Sabemos que quinhentos anos de dependência das nações ricas e seus representantes no aparelho do Estado deu origem a uma “democracia sob controle”, que atende aos laços das interpretações legais e não ao espírito das leis em defesa dos interesses nacionais. Assistimos, na sessão parlamentar onde foi votado o impeachment ao governo Dilma, à formação prévia de uma ameaça de pressão organizada atrás da mesa do Presidente da Câmara que tem vários processos por corrupção suspensos devido à imunidade parlamentar que o protege. O clima para a votação foi alimentado pela histeria pentescostal da maioria dos participantes que impõe a emoção e anula a razão, como nas torcidas futebolísticas. A democracia ficou do lado de fora, nas ruas, onde o povo aguardava civicamente animados com a sua natural alegria de quem tem a consciência limpa.

A luta continua, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo!

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