Opinião

O capitão fascista quer o Brasil em guerra

22/10/2018

Por José Reinaldo Carvalho (*)

Os fatos do último fim de semana são bastante esclarecedores sobre a deriva direitista que pode ocorrer no Brasil.

O fascismo assoma, os fascistas espreitam e é mais real do que nunca o perigo de repressão generalizada contra partidos políticos, movimentos sociais, instituições e personalidades democráticas e progressistas.

O Brasil está sob a ameaça de retroceder décadas não apenas quanto à liquidação da democracia e das políticas sociais. A ameaça é real também na frente externa. O Brasil poderia mesmo virar uma ameaça à paz mundial, porquanto os fascistas agora se arrogam o direito de proclamar que podem atacar vizinhos para derrubar governos. Bolsonaro quer levar o país à guerra e assim transformar o Brasil num fator negativo no concerto regional e internacional, um agente de instabilidade e tensão.

Acresce a isto a inclinação do capitão fascista a um alinhamento com o imperialismo estadunidense, sua adesão incondicional ao sionismo israelense, seu entreguismo desbragado, seu comportamento indecoroso e sua conduta incivilizada e amoral, que mais se assemelha ao de um soba de província do que de um estadista duma nação do porte da nossa. Tudo isto pode acarretar na transformação do gigante do Cruzeiro do Sul num estado pária, um falhanço de nação, definitivamente um anão diplomático.

O capitão fascista e sua entourage pretendem desviar-nos em definitivo de um caminho duramente palmilhado de esforços continuados e persistentes para inserir o Brasil de modo soberano num mundo globalizado, cheio de perigos e desafios, mas também de oportunidades. Lula, com sua perspectiva patriótica, democrática e popular, guiado por um extraordinário faro político e raro impulso classista, fez estes ensaios, contando com o proverbial savoir-faire diplomático do Chanceler da política externa altiva e altiva, Celso Amorim.

O capitão fascista pretende posicionar o Brasil em termos de política externa na contramão ao espírito da época, em que países e correntes políticas amantes da paz e do progresso buscam a harmonia do mundo, o desenvolvimento compartilhado, parcerias benéficas para todos, multilateralismo e primazia da ação diplomática, e fazem esforços pela democratização das relações internacionais, sob o império do Direito e não do militarismo, da aventura bélica e da ingerência. Nesta contramão já se coloca o atual chefe da Casa Branca, cujos métodos truculentos pretendem aqui imitar.

Em plena campanha do segundo turno, ao tempo em que o capitão fascista ameaça a oposição de banimento, encarceramento e extermínio, seus aliados que cobiçam o Itamaraty anunciam a pretensão de transformar a Casa de Rio Branco numa trincheira para atacar países amigos. “Vamos derrubar o regime de Nicolás Maduro”, urram.

Assim, a eleição do capitão fascista faria por automatismo rufar os tambores da guerra, o que acarretaria inauditos sofrimentos para o povo brasileiro e todo o nosso entorno geopolítico. Ora, afortunadamente, mercê da política externa ativa e altiva e do exercício de alianças e integração compartilhada pelos países da América Latina e Caribe, mormente aqueles sob governos progressistas mas não só, o Brasil foi signatário em janeiro de 2014 de uma feliz resolução da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), que proclamou a região como Zona de Paz. Em outra conjuntura, em maio de 1967, o Brasil aderiu ao Tratado de Tlatelolco, que proscreve as armas nucleares na América Latina e no Caribe.

São dois exemplos a ilustrar a vocação pacífica do Brasil e do povo brasileiro, o que é ratificado pela Constituição de 1988, cujo artigo 4º proclama: “A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I – independência nacional; II -prevalência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV – não-intervenção; V – igualdade entre os Estados; VI – defesa da paz; VII – solução pacífica dos conflitos; VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”.

Quem tomar posse a Primeiro de Janeiro de 2019, jurando fidelidade à Constituição, não poderá, a não ser que cometa um crime, violar tais princípios.

A Venezuela é um país irmão do Brasil e sua vocação é também o convívio pacífico e a boa vizinhança.

O belicismo e a agressividade do capitão fascista e seus aliados serão alvo não só da condenação dos brasileiros mas também da comunidade internacional. Já se foi para sempre o famigerado complexo de vira-latas, assim como o chauvinismo de grande potência que possa ter vigorado em períodos específicos da longa ditadura militar. Pertencem a uma era definitivamente pretérita frases como “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil” (Juracy Magalhães), assim como gestos servis, como o de Otávio Mangabeira beijando a mão de Eisenhower ou um ex-chanceler obedecendo às ordens de tirar os sapatos, emitidas por um meganha de aeroporto nos Estados Unidos. Também ficou no passado a pretensão geopolítica de setores da ditadura militar de fazer do Brasil uma espécie de sub-imperialismo em relação ao seu entorno. Nada justifica a adesão de nosso país às políticas agressivas do imperialismo nem muito menos a sua transformação num instrumento de guerra contra países vizinhos.

Os democratas e patriotas deste país decerto não estão nem estarão dispostos a ingressar em aventuras belicistas. Há tempo para deter a mão dos fascistas e sua submissão aos desígnios do imperialismo. O voto soberano do povo brasileiro poderá impedir esta catástrofe. Em 28 de outubro, o Brasil tem a chance de dizer não ao fascismo e à guerra.

(*) Jornalista, editor do Resistência, diretor do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz – Cebrapaz 

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