Memória

Papa Francisco santifica Oscar Romero, um reconhecimento tardio

15/10/2018
Mural immortalising Archbishop Oscar Romero in Suchitoto (martyr to the poor of El Salvador).

Depois de 38 anos de sua morte, pelas mãos de um sicário que pretendeu calar sua voz em prol dos pobres, a paz e a justiça, Oscar Arnulfo Romero ascende agora à condição de santo católico, uma decisão que muitos consideram um reconhecimento tardio.

Ele já era visto como um santo no imaginário popular. Os excluídos, reprimidos, torturados e familiares das vítimas da ditadura militar daquela época, já se tinham adiantado no longo e polêmico caminho para sua canonização.

Para eles, o bispo mártir assassinado em 24 de março de 1980 enquanto celebrava uma missa na capela do hospital da Divina Providência, já era considerado santo, inclusive era chamado de Santo da América’.

Foi o que disse o presidente salvadorenho, Salvador Sánchez Cerén, ao inaugurar uma estátua do Bispo Romero, quando expressou que antes de ser valorizado como santo era adorado por muitas pessoas em todo o mundo por sua vida, sua mensagem de fé, paz, justiça e defesa das populações mais desprotegidas.

A Conferência Episcopal de El Salvador tinha solicitado em 1990 a abertura do processo de canonização, iniciado sete anos depois. Somente com a chegada do Papa Francisco ao trono de São Pedro em 13 de março de 2013, a tramitação foi desbloqueada.

A decisão de canonizar o Bispo Romero tropeçou evidentemente na oposição de figuras influentes no Vaticano, para as quais a prédica de Romero era demasiado politizada e de acordo com os postulados da teologia da libertação, muito em voga em América Latina naqueles anos.

A propósito da santificação do arcebispo de San Salvador, em 23 de maio de 2015, o jornalista Fernando Peloso referiu-se no site www.internazionale.it aos cardeais colombianos Alfonso López Trujillo e Dario Castrillón Buracos, falecidos em 2008 e 2018 respectivamente, como dois dos mais ativos opositores.

Peloso chama também a atenção sobre o fato de que homens que desempenharam papéis importantes durante o pontificado de João Paulo II, como seu secretário Stanislaw Dziwisz e o ex-secretario de Estado, Angelo Sodano, eram próximos a movimentos católicos de ultra-direita presentes na América Latina como Os Legionarios de Cristo.

O jornalista recorda também que Andrea Riccardi publicou em seu blog do diário Corriere della Sera que López Trujillo lutou contra o reconhecimento do martírio de Romero, a quem considerava demasiado inclinado para o marxismo e ‘temia que sua beatificação se transformasse na canonização da teologia da libertação’.

O impulso dado por Francisco ao processo de canonização foi interpretado por alguns como um reflexo do desejo manifestado por ele apenas três dias depois de iniciado seu papado quando proclamou ‘uma igreja pobre e para os pobres’.

Nesse mesmo sentido, outros consideram que o exemplo de vida de Romero coincide com a visão do sumo pontífice sobre o papel da igreja católica e a conduta dos sacerdotes.

Em 30 de outubro de 2015 o Papa Francisco se referiu ao caso de Romero ao receber uma comitiva procedente de El Salvador, à qual assegurou que o martírio de monsenhor Romero não foi pontual, foi um martírio-testemunho, sofrimento anterior, perseguição anterior, até sua morte.

‘Mas também posterior, porque uma vez morto – eu era sacerdote jovem e fui testemunha disso, afirmou o Papa Francisco – foi difamado, caluniado, enlameado, ou seja, seu martírio continuou inclusive por irmãos seus no sacerdócio e no episcopado’.

Resistência, com Prensa Latina

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