Luta pela paz

Partido Comunista Colombiano: “Acordo de paz terá efeitos positivos na região e no mundo”

11/07/2016
O acordo de cessar-fogo bilateral e definitivo foi firmado dia 23 de Junho em Havana

Sergio de Zubiría, responsável pela área Internacional do Partido Comunista Colombiano, fala sobre o significado do cessar-fogo para o povo colombiano, dos problemas a ultrapassar até à assinatura de um acordo final e do impacto que esse acordo poderá ter para a região.

“O conflito armado interno colombiano é o mais longo de todo o hemisfério ocidental. Investigações rigorosas indicam que a duração deste conflito varia entre oito e seis décadas. Abarca quase todo o século XX, até aos nossos dias. De acordo com dados recentes de organizações internacionais, a Colômbia é o país com mais deslocados do mundo – sete milhões de pessoas”, afirmou Sergio de Zubiría, para dar a justa dimensão do acordo alcançado ao cabo de quatro anos de negociações.

Em seu entender, “embora todas as negociações tenham os seus ciclos e efeitos variáveis na população – e sem esquecer a grande influência que o acompanhamento por parte dos órgãos de comunicação tem na formação da opinião pública –, pode-se afirmar que um dos momentos mais aguardados de qualquer negociação se relaciona com o acordo de cessar-fogo e de fim das hostilidades bilateral e definitivo”.

“O anúncio sobre os acordos alcançados entre o Governo colombiano e as FARC-EP, a 23 de Junho último, é muito significativo, na medida em que diz respeito a três assuntos. O primeiro é o cessar-fogo bilateral e o fim das hostilidades, que será monitorado pelas Nações Unidas e a CEPAL (Comunidade Econômica para a América Latina e o Caribe). O segundo, as garantias de não repetição de ações de perseguição à oposição política e de segurança para os ex-combatentes. O terceiro é a aceitação de um mecanismo partilhado de ratificação dos acordos por referendo popular”, enfatizou.

Depois de quase quatro anos de negociações “rigorosas e difíceis”, a tarefa que se impõe é a de “ganhar uma importante corrente de opinião no campo popular, para que acolha e defenda o processo de paz”, acrescentou.

Problemas a ultrapassar

Zubiría destacou a existência de “problemas e dificuldades em diversas áreas” e apontou a necessidade de os ultrapassar para se alcançar um acordo definitivo, tendo identificado e enumerado aqueles que considera serem os “mais evidentes”: a) “uma escassa assimilação, por parte da sociedade, do conteúdo acordado”; b) a existência de “um grande número de exceções e pontos (cerca de 40) que ficaram adiados no processo de assinatura dos acordos parciais”; c) o fato de as negociações sobre “os pontos 3 (Fim do conflito) e 6 (Verificação, ratificação por referendo e implementação) ainda não terem sido concluídas”; d) o fato de “o sistema de ratificação por referendo popular e o seu momento de realização ainda não terem sido clarificados”; e) a existência de “vários processos judiciais ainda não concluídos e que são determinantes para o acordo final”; f) o fato de “ainda não estar inteiramente determinada a forma que terá o movimento político que vier a surgir da reintegração das FARC-EP na vida civil”; g) o fato de “o governo colombiano ter tomado decisões a nível da política social que vão contra o que foi acordado em Havana e que geraram bastante repúdio pelo atual presidente”; h) o fato de “o anúncio unilateral de datas inflexíveis para a assinatura do acordo final ser inconveniente para o desenvolvimento deste processo”.

Impacto do acordo final

Para Sergio de Zubiría, “o fim do conflito colombiano pode mostrar uma região latino-americana com grande aspiração de paz. Um exemplo para o mundo de que é possível resolver por via da negociação política o conflito mais longo do hemisfério ocidental; de que a janela para a diplomacia e a decisão civilizada está sempre aberta, sem necessidade de recurso a ‘guerras’ contra o ‘terrorismo’ e contra as ‘drogas’”.

“Constitui um contributo determinante para a paz regional e também para a paz mundial. Trata-se ainda de um exemplo inquestionável da importância do acompanhamento internacional na abordagem aos múltiplos conflitos que afetam o mundo. De um modo geral, podemos afirmar que a assinatura do acordo final na Colômbia terá efeitos positivos na região e em todo o planeta”, concluiu.

Fonte: AbrilAbril

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