Ucrânia

Vladislav Gulevich: “Diplomacia” como arma de desinformação

02/03/2016

A diplomacia ucraniana se converteu, depois do golpe de Estado de fevereiro de 2014, em uma arma eficaz da guerra midiática das novas autoridades que impõem a desinformação à opinião pública do mundo. Uma amostra disso é a recente entrevista do embaixador ucraniano Yuri Diudin ao jornal argentino La Nueva, na qual o diplomata culpa a Rússia pela situação em Donbass.No lugar de fatos verídicos, o enviado de Kiev lança acusações vazias e abertas invenções. Lamentavelmente, após o golpe de Estado, a diplomacia ucraniana se tornou arma para a guerra de informação dos novos governantes ilegítimos.São esses diplomatas que ocultam à opinião pública internacional as matanças de civis executadas pelo exército ucraniano nas regiões de Donetsk e Lugansk, que se insurgiram contra a sedição que os Estados Unidos e a União Europeia impulsionaram.

Sob o manto do silêncio ficaram os crimes de 2 de fevereiro de 2015, quando forças ucranianas bombardearam com mísseis Tochka-U a localidade de Alchevsk, nos arredores de Lugansk, deixando uma cratera de 100 metros.

Muitos jornalistas que visitaram o lugar puderam comprovar os crimes de Kiev. Suas tropas golpeiam a cidade de meio milhão de habitantes (Lugansk) com esse armamento letal. Os diplomatas ucranianos não recordam os acontecimentos de junho de 2014, quando no centro de Lugansk, próximo de uma creche e um parque infantil caiu uma bomba que matou instantaneamente várias pessoas.

Em contraste, falam dos grupos neonazistas que integram os “batalhões de voluntários” da Guarda Nacional e do Ministério do Interior como “patriotas desinteressados”. Tenta-se ocultar que a ideologia dos comandos Azov, Aidar e Donbass é a neofascista, cujos símbolos levam estampados em seus uniformes de campanha.

Esses diplomatas encobrem da opinião pública as mortes de 78 crianças em Donbass em consequência dos bombardeios ucranianos. Em Donetsk consagraram em maio de 2015 uma Alameda de Anjos em memória das crianças assassinadas.

Também não falam sobre o pequeno de 10 anos, Iván Voronov, que perdeu um braço, as pernas e a visão, enquanto seu irmão de cinco anos morreu por um projétil. Como Vanya existem em Donbass centenas de crianças. A artilharia ucraniana deixou histórias parecidas na cidade de Górlovka, em 27 de julho de 2014.

O jornalista britânico Graham Filipps mostrou ao mundo as atrocidades da artilharia ucraniana com bombardeios em zonas residenciais.

Apresentou muitos vídeos que provam esses crimes, visitou necrotérios e conversou com moradores e milicianos. Foi detido pelo Serviço de Segurança Nacional da Ucrânia e deportado. Ficou a salvo pela cidadania britânica.

A outra face dessa tragédia são os milhares de refugiados que foram acolhidos pela Rússia. Os primeiros chegaram em fevereiro de 2014, quando os grupos neofascistas começaram a caçada de opositores.

Por uma crítica ao “euromaidan” (protestos opositores no centro de Kiev no final de novembro de 2013) podia ser preso ou morto como ocorreu com o renomado escritor ucraniano Oles Buzina e o deputado Oleg Kalashnikov.

Atiraram neles a sangue frio na rua. Não é estranho que os endereços, fotografias e números de telefones de ativistas e intelectuais incômodos aparecessem no site “Pacificador”. Cada fanático do “euromaidan” podia encontrar ali uma vítima. Os endereços de Buzina e Kalashnikov foram publicados também na mesma página, da qual se alimentam o Serviço de Segurança e o Ministério do Interior. Não é por gosto que o atual governo ucraniano é chamado de junta.

Entre os refugiados perseguidos está o autor deste artigo. Portanto, conheço mais da realidade ucraniana que o senhor Diudin.

O embaixador Diudin tentou convencer os leitores argentinos sobre a presença em Donbass de oito mil soldados russos. Desconhece-se de onde extraiu essa cifra, pois ele nunca visitou essa região, mas lá estiveram os jornalistas Graham Filipps (britânico), Jim Dean (estadunidense), o tcheco Petr Deubalek e outros, e nenhum deles identificou divisões russas.

A guerra já dura quase dois anos e Kiev não pôde demonstrar uma presença maciça de militares russos em Donbass como afirma sua propaganda. Quando o exército dos Estados Unidos interveio no Iraque, todo mundo viu. Além disso, quando as forças russas se fizeram presentes na Síria, foi um fato visto por todos, além dos meios da inteligência por satélite.

Como se explica que em dois anos os satélites de inteligência de todos os países (da Otan) não detectassem divisões russas em Donbass? A resposta é que não existem. Basta recordar as informações tragicômicas circuladas pelos meios de imprensa quando Kiev tentou mostrar vídeos de uma suposta invasão russa, tirados de um jogo por Internet de World of Tanks.

Depois disso, não poupam o descaramento e continuam com os contos a respeito de uma suposta ocupação russa em Donbass.

O Embaixador Diudin chama os milicianos de terroristas, esquecendo que estes se viram obrigados a pegar em armas depois do golpe de Estado em Kiev, em 22 de fevereiro de 2014. Se não tivessem feito assim, as bombas, as minas e os projéteis de grosso calibre os teriam varrido da terra, assim como suas famílias, aldeias e cidades.

Ele (Diudin) não menciona que na véspera da guerra os habitantes pacíficos de Donbass somente com as mãos e com ícones religiosos tentaram deter o avanço dos veículos blindados do exército ucraniano, implorando que retrocedessem.

Os soldados nos blindados e tanques dispararam ao ar e empurraram a população com as baionetas.

Kiev imaginou que submeteria Donbass com crueldade e terror. Hoje na Rússia permanecem dois milhões e 600 mil cidadãos ucranianos, segundo estatísticas do Serviço Federal de Migração. Deles, mais de um milhão são refugiados de Donbass, e os demais representam socorridos de outras regiões da Ucrânia e migrantes trabalhistas.

Entre eles predominam os homens jovens que fogem da mobilização forçada no Exército e do envio forçado à frente, ainda que oficialmente Kiev não reconheça.

Para o período de março a abril, o Governo do presidente Petro Poroshenko anunciará o sétimo alistamento militar obrigatório e a mobilização para Donbass continua sob a fachada de “voluntária”.

É a melhor refutação às palavras dos diplomatas ucranianos de que Donbass está ocupado por terroristas.

Vladislav Gulevich é cientista político, perseguido político em seu país, depois dos acontecimentos em Kiev em fevereiro de 2014. Traduzido ao espanhol por Odalys Buscarón, chefe e correspondente da Prensa Latina na Rússia. Traduzido para o português pela redação da PL.

Fonte: Prensa Latina

 

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