Vincenzo Vita: Ettore Scola e sua enorme paixão civil

20/01/2016

O desaparecimento de Ettore Scola é como um tapa na cara. Ele não foi apenas um intelectual extraordinário, um militante tenacíssimo da batalha cultural, uma personalidade de valor internacional.  Scola personificou quase todas as passagens que marcaram a vida italiana do pós-guerra. É difícil ou impossível pensar nas últimas décadas sem interpretá-las com a obra de um autor excepcional.

Nascido em Trevico di Avellino (lembram-se do belíssimo “Trevico-Torino”?) em 1931, transfere-se para Roma e aqui começa a sua aventura tão variada e rica como semeadora de um protótipo dificilmente reproduzível. Desenhista, está no “Marco Aurélio” de Ruggero Maccari, faz rádio com Alberto Sordi, entra no cinema como assistente, roteirista e finalmente diretor. Suas referências são: Fellini, De Sica, Pietrangeli. Atravessa o neo-realismo, a comédia italiana, até se tornar ele próprio um modelo cinematográfico, conjugando a narrativa lúdica e histórica com a fineza de um imaginário doce e vivacíssimo. Seus filmes são obras-primas que contribuíram para esboçar a identidade italiana, nas suas contraditórias implicações.

Os títulos são muitos: “Nós que nos amávamos tanto”, “Um dia muito especial”, “O terraço”, e outros conhecidíssimos ou menos conhecidos. Obteve reconhecimentos numerosos e variados. Foi uma personalidade política, do PCI até o partido democrático. E se pode recordar, por último, a apaixonada lembrança de Pietro Ingrao nas exéquias do dirigente comunista. Sim, Scola tinha uma enorme paixão civil, que se manteve viva – literalmente – até algumas horas atrás. Por exemplo, na luta para defender e relançar a Cinecittà. Atentíssimo à associação dos autores, da qual era uma referência constante, foi também ministro da cultura nos anos 1980 e 1990 no governo paralelo lançado pelo PCI. Sempre independente em seus juízos e capaz de tornar a proverbial ironia uma verdadeira estética. Cada vez mais melancólica. No final, o corpo debilitado pela doença o deixou em poucas horas. E nós ficamos chocados e feridos.

Vincenzo Vita é presidente do Arquivo de audiovisual do movimento operário e democrático da Itália. Publicado em Articolo 21; traduzido por José Reinaldo carvalho para o Blog da Resistência

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