História

Cuba: 60 anos do fracasso que acelerou a vitória

09/04/2018

“Quem acreditaria naquela noite de 9 de abril, em meio a terror e sangue, em meio a luto e tristeza, que antes de oito meses a pátria estaria livre, que antes de oito meses os criminosos teriam sido derrotados?” Fidel Castro.

No dia 9 de abril de 1958 o comando revolucionário cubano fez uma audaciosa investida. Por convocação do Movimento 26 de julho (M-26-7), milhares de jovens revolucionários tentaram derrubar a ditadura de Fulgencio Batista.

Narciso Fernández Ramírez, descreve assim, no jornal Vanguardia, aquele dia histórico:

“Aquela manhã de 9 de abril de 1958 não diferia das anteriores, mas às 11 horas, o chamado do M-26-7 para a greve geral revolucionária serviu como um gatilho para centenas de revolucionários ocuparem as ruas de muitas cidades de Cuba para tentar tomar o céu de assalto e acabar com a tirania odiosa.”

Um dos mais importantes comandantes do exército rebelde e líder destacado da greve, Faustino Pérez Hernández, descreveu assim a ação, em artigo de 1989:

Seria praticamente impossível não apenas enumerar, mas sequer conhecer a quantidade e a diversidade de ações de todos os tipos e magnitude, as paralisações e tentativas de paralisações, as sabotagens e combates que, sem atingir os objetivos propostos de derrubar a tirania, mostravam mais uma vez. a decisão irredutível de luta e sacrifício de nosso povo revolucionário e sua vontade de vitória.

Uma lição dolorosa

Para Narciso Fernández: “O fracasso da greve geral revolucionária de 9 de abril de 1958, decretada pelo M-26-7, foi um dos eventos mais dolorosos da última etapa da luta do povo cubano.”

Comandante Faustino Pérez Hernández

Comandante Faustino Pérez Hernández

O comandante Faustino Pérez Hernández (falecido em 1992) considerava da seguinte maneira este aspecto:

“A comoção produzida em todo o país pelos acontecimentos de 9 de abril foi intensificada pela repressão brutal desencadeada pelo regime, que deixou o doloroso saldo de mais de cem combatentes mortos, incluindo Marcelo Salado, líder da ação na capital e um dos mais valiosos e promissores quadros do Movimento 26 de Julho (…) Apesar de sua magnitude, o 9 de abril não teve escopo e sincronização suficientes para desencadear a greve geral revolucionária e causar o colapso final da tirania. A frustração desse objetivo colocou o movimento revolucionário em um dos momentos mais difíceis de todo o processo.”

Segundo Narciso Fernández, a derrota da greve geral “foi uma lição muito difícil da importância da unidade revolucionária, aprendida à custa do sangue derramado do melhor da juventude cubana; mas foi um marco na história cubana e um momento de reflexão e diálogo entre os revolucionários”.

Em busca das causas da derrota

De fato, o comando revolucionário não titubeou em admitir claramente que a greve havia fracassado e buscou, logo no primeiro momento, poucos dias após os acontecimentos, sistematizar as causas do revés:

“A) Falta de clima anterior, que deveria ter sido produzido por uma série de eventos violentos que fizessem a greve não mais do que a culminação lógica do mesmo.

B) Método inadequado para a convocação. Por querer manter a data em segredo; para evitar que a ditadura tomasse medidas específicas, não colocamos nossos quadros organizados para funcionar, para que a consigna da greve geral fosse levada a todos os setores e pessoas, criando com esse único fato certa agitação e expectativa indispensáveis.

C) A baixa intensidade da sabotagem elétrica e das instalações de rádio, quando se esperava a supressão total de ambos os serviços.

D) A atitude algo fechada que foi mantida contra a possibilidade de coordenação ou colaboração com outras organizações.”

Anos depois desta avaliação, o comandante Faustino Pérez escreveu: “Se a esta avaliação, feita em 58, acrescentarmos a precariedade das armas disponíveis, a não chegada de outras nas datas programadas e a profunda perda que o Movimento havia sofrido pouco antes em Havana, devido à queda de quadros-chave da organização, como Gerardo Abreu ‘Fontán’, Sergio González, Aristides Viera e muitos outros, bem como a fraca gestão e vontade unitária da FON (Frente Obrero Nacional), teremos, em nossa opinião, as causas fundamentais dessa trágica derrota.”

Faustino Pérez fez a seguinte reflexão sobre o impacto da derrota para os revolucionários: “Os principais reveses talvez exprimam, melhor que as vitórias, a magnitude da luta. Assim como são grandes os reveses, deve ser maior ainda a vontade de transformá-los em vitória (…) O duro revés de 9 de abril não é uma exceção a essa regra de nossas lutas centenárias”.

Um ano depois da fracassada greve geral, derrotada a ditadura e já iniciada a construção do poder popular, Fidel Castro discursa em homenagem aos revolucionários caídos na greve geral de 1958:

“Quem acreditaria naquela noite de 9 de abril, em meio a terror e sangue, em meio a luto e tristeza, que antes de oito meses a pátria estaria livre, que antes de oito meses os criminosos teriam sido derrotados, que antes de oito meses aquela matilha de lobos vorazes — tão bravos quando andavam na rua assassinando pessoas indefesas… — viriam a fugir tão precipitadamente na noite derradeira desse próprio ano (…) os mortos também serviram de bandeira, os mortos serviram de encorajamento, porque os mortos deram o exemplo, porque os mortos traçaram o caminho. Os mortos de 9 de abril, os mortos de todos os combates pela liberdade, os mortos da planície e da montanha, da luta heroica mil vezes da planície e da luta heroica das montanhas, indicaram a uns e a outros o caminho da vitória.”

Marcelo Salado, caído em combate no dia 9 de abril de 1958

Marcelo Salado, caído em combate no dia 9 de abril de 1958

“…aqueles homens caíram para uma nação se levantar; aqueles homens deram suas vidas para que uma nação vivesse; que aqueles homens que ficaram no caminho para que um povo seguisse sua marcha adiante; eles deram tudo para que os outros fossem felizes…”

“… se eles tivessem podido contemplar o espetáculo deste povo de hoje, desta nova Cuba, deste país que marcha; se pudessem ter pensado nisso … Mas, eles não pensaram nisso, mas sonharam! Eles não viram, mas sentiram isso! É por isso que eles lutaram, por causa disso eles caíram”.

“… E nada nos conforta tanto ao ponto de pensar que estamos cumprindo com nossos mortos, que os sonhos estão se tornando realidade, e hoje podemos dizer aqui, ao se completar este aniversário daquele dia heroico de 9 de abril, estamos fazendo aos nossos mártires o melhor tributo, não em palavras, mas em ações, não em promessas, mas em ações!”

Wevergton Brito Lima, para o Resistência

 

 

 

 

 

Porém, como afirmou o comandante-em-chefe Fidel Castro ao avaliar os acontecimentos, o fracasso contribuiu para acelerar o triunfo que viria apenas 8 meses depois, em 1º de janeiro de 1959, pelo exemplo de tantas manifestações de heroísmo e também por ter servido de experiência para melhorar a luta contra a ditadura de Fulgencio Batista e unificar o comando revolucionário, sob a liderança bem sucedida de Fidel.

Foi uma lição muito difícil da importância da unidade revolucionária, aprendida à custa do sangue derramado do melhor da juventude cubana; mas foi um marco na história cubana e um momento de reflexão e diálogo entre os revolucionários reunidos em 3 de maio de 1958 em Altos de Mompié, na Sierra Maestra.

A antiga província de Las Villas deu um dos maiores sinais de patriotismo, e a cidade de Sagua la Grande ficou horas nas mãos dos revolucionários.

Houve também ações patrióticas em 8 de abril de 1958 em Quemado de Güines, com o Comandante do Exército Rebelde Víctor Bordón Machado à frente.

Da mesma forma, os filhos desta parte central de Cuba ofereceram suas vidas generosas na capital da República, com destaque para o caibarienense (1) Marcelo Salado Lastra, um dos líderes do M-26-7 em Havana.

 

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