ONU

Ex-primeiro ministro português, Antonio Guterres, é aclamado secretário-geral da ONU

07/10/2016

O antigo primeiro-ministro português, com 67 anos, será agora indicado pelo Conselho à Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), concretizando assim a eleição do sucessor de Ban Ki-moon.

O ex-Alto Comissário do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) já ontem tinha sido indicado como favorito ao vencer aquela que foi a sexta votação, e a primeira em que participou a búlgara Kristalina Georgieva. Antonio Guterres recebeu 13 votos de encorajamento e duas abstenções, uma das quais de um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança com direito de veto.

Tratou-se, segundo o embaixador russo e presidente do Conselho de Segurança, Vitaly Churkin, de um momento histórico. “Nunca foi feito desta forma. Este foi um processo de seleção muito importante”, afirmou na conferência de imprensa realizada pelos 15 embaixadores dos países com assento no Conselho de Segurança.

Guterres entra em funções a 1º de Janeiro de 2017 para cumprir um exigente mandato onde estarão colocados grandes desafios. Desde logo, o respeito internacional consagrado na Carta das Nações Unidas, a valorização do papel da ONU na promoção da paz e da cooperação, o respeito pelos direitos dos povos e pela soberania e independência dos estados.

O Portal AbrilAbril, credenciado veículo de comunicação de esquerda em Portugal, publica editorial sob o título Sair do pântano, em que analisa o fato. Leia a íntegra.

Os portugueses são um povo que passa muitas vezes do oito ao 80, da euforia à depressão, seja com as vitórias e derrotas deste ou daquele clube, da selecção nacional ou com a participação nacional nos Jogos Olímpicos.

Hoje, vivemos um desses momentos de euforia com a proposta unânime do Conselho de Segurança da ONU do nome de António Guterres para secretário-geral da organização.

Tudo isto porque, talvez, sejamos pouco exigentes e o que esperamos dos nossos compatriotas em cargos internacionais de responsabilidade seja apenas que coloquem o nome de Portugal nas bocas do mundo.

Para dar visibilidade ao nosso país e pô-lo no mapa turístico outros o têm feito: de Eusébio a Carlos Lopes, de Amália a Saramago, de Figo a Mourinho ou de Nelson Évora a Ronaldo.

O que se espera do exercício internacional de cargos públicos é o prestígio resultante da implementação de políticas que combatam a pobreza e promovam a justiça social, que interditem a arbitrariedade dos países mais ricos e a ingerência dos mais fortes, que promovam a paz e o diálogo entre Estados iguais em direitos e soberanos. Como a vida prova, a presença de um português num alto cargo internacional não é por si só condição para lhe dar concretização.

Por isso, estes momentos de compreensível entusiasmo que muitos partilham não nos podem tolher a capacidade de análise nem a lucidez da crítica. António Guterres terá capacidades e experiência reconhecidas com o exercício do cargo de alto-comissário da ONU para os refugiados. Espera-se de António Guterres que, na sua intervenção, predomine uma postura que possa desmentir opções e decisões que, enquanto primeiro-ministro de Portugal, assumiu, de envolvimento de tropas portuguesas na coligação que interveio militarmente na República da Jugoslávia, sob a hegemonia da NATO e dos EUA, e à revelia do Conselho de Segurança da ONU.

Sejamos optimistas na expectativa de que, no mandato que o espera, António Guterres dê prioridade ao cumprimento do direito internacional tantas vezes esmagado, à defesa dos povos e dos seus direitos, nomeadamente à sua autodeterminação, em defesa da paz e da independência e soberania dos Estados.

Sabemos que o antigo primeiro-ministro se demitiu para não entrar no pântano. Mas é preciso que não perca a noção de que é no pântano que vai cair. Daí que seja tarefa urgente tirar a ONU do pântano!

AbrilAbril

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