Conjuntura internacional

Jornal cubano analisa os temas abordados na Cúpula do Brics

31/07/2018

Por Gabriela Avila Gomez – A África do Sul acolheu a 10ª Cúpula do Brics, um evento onde as maiores economias emergentes em nível global e outros convidados puseram sobre a mesa as principais problemáticas atuais. O jornal Granma repassa algumas das principais chaves do evento.

Multilateralismo X protecionismo

O encontro, que teve lugar de 25 a 27 de julho, terminou com a assinatura de um comunicado – a Declaração de Joanesburgo – na qual os líderes dos países do Brics ratificaram que “no marco das regras da Organização Mundial do Comércio, apoiamos e voltamos a aprovar o comércio transparente e multilateral (…). Sabemos que o sistema comercial multilateral enfrenta dificuldades sem paralelo e queremos enfatizar a importância da economia mundial transparente”.

Embora não se mencionasse diretamente, grande parte das discussões fizeram referência à política dos chamados “três ismos” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: protecionismo, unilateralismo e isolacionismo, o que gerou tanto críticas como incerteza em nível mundial.

Trump, com pouco mais de um ano e meio de presidência, não deixa de ocupar as manchetes, nada positivas. Se em um momento menosprezou o trabalho da Organização das Nações Unidas (ONU) ao retirar-se do Acordo de Paris, ultimamente é notícia a declaração de guerras tarifárias à União Europeia e à China, para só mencionar algumas.

A respeito do gigante asiático, o inquilino da Casa Branca justifica suas ações com a necessidade de “reequilibrar” uma relação comercial que considera injusta.

No contexto da cúpula, o mandatário chinês, Xi Jinping, fez um chamado a encarar “uma escolha entre cooperação ou conflito (…), deveríamos buscar trabalhar juntos”, disse.

Unir esforços contra o terrorismo e pôr fim às guerras

A Declaração de Joanesburgo mostrou preocupação pelos crescentes conflitos que se registram em diversas partes do mundo e condenou os ataques terroristas que continuam em alguns países do bloco”. “Insistimos na necessidade de unir esforços na luta contra o terrorismo sob a égide da ONU e em travar esta luta sobre uma sólida base jurídica internacional”, diz o  comunicado.

Nesse sentido, realizaram um chamado a criar uma coalizão antiterrorista, com as Nações Unidas como ente coordenador. Dedicaram um parágrafo do documento final aos enfrentamentos no Oriente Médio, expressando preocupação não só por estes, mas também pelo contínuo crescimento das tensões na região e coincidiram em que “em nenhum conflito se pode permitir o uso ilegítimo de força desde o exterior”.

Propuseram estabelecer diálogos a partir do respeito à independência, integridade territorial e soberania dos países, e mencionaram casos como os conflitos palestino-israelense, sírio e iemenita.

Igualmente, foram reconhecidos os esforços por alcançar a desnuclearização na Península Coreana e a manutenção da paz e estabilidade na região; isto se relaciona com a decisão da República Popular Democrática da Coreia de fechar seu sítio de provas atômicas e a aproximação com seu vizinho do Sul e com os Estados Unidos.

Os líderes do Brics expressaram sua inquietação com uma “possível corrida armamentista no espaço e o uso deste como zona de confrontação militar”, ao tempo em que afirmaram que a prevenção disto “permitirá evitar o perigo que paira sobre o mundo”.

Em um encontro de há pouco mais de um mês, os presidentes da China e da Rússia, Xi Jinping e Vladimir Putin, respectivamente, tinham acordado promover “a elaboração dos documentos legais correspondentes, baseados no projeto de acordo sino-russo encaminhado a impedir a presença de armamento no espaço, o uso da força ou as ameaças de força contra objetivos espaciais”.

Novos acordos e memorandos de cooperação

A Cúpula do Brics também teve espaço para a assinatura de novos memorandos e acordos de cooperação entre seus membros. Um deles foi o Memorando de Entendimento sobre o desenvolvimento da tecnologia contábil, assinado pelos grandes bancos dos países do bloco.

De acordo com Mikhail Poluboyarinov, primeiro vice-presidente e membro da Junta Diretiva do banco russo Vnesheconombank, “o acordo atual permite aos bancos de desenvolvimento dos países do bloco estudar as aplicações de tecnologias inovadoras no financiamento de infraestruturas e a otimização dos produtos bancários”.

No tema energético, Brasil, Rússia , Índia, China e África do Sul se comprometeram a reforçar a cooperação e sublinharam a necessidade de realizar uma transição para fontes alternativas, com vistas a reduzir os níveis de contaminação existentes e preservar o meio ambiente.

Acordou-se também fundar uma Plataforma de Cooperação para Pesquisas Energéticas do Brics, proposta por Putin desde a 9ª Cúpula do bloco, realizada na China no ano passado. Segundo o vice-ministro russo de Energia, Antón Iniutsin – citado por Sputnik–, o objetivo desta plataforma será “impulsionar o diálogo entre os cinco países do grupo, elaborar prognósticos e analisar o desenvolvimento do setor”.

América Latina e Caribe no Brics

Embora não se pense no momento em aumentar o número de membros do Brics, segundo declarações do mandatário russo Vladimir Putin depois da cúpula, houve uma série de convidados que também tiveram protagonismo, como a Comunidade do Caribe (Caricom).

O bloco regional esteve representado por seu presidente pró-tempore e primeiro-ministro da Jamaica, Andrew Holness, que em um histórico discurso na plenária da Cúpula, assinalou que os líderes mundiais devem manter o foco em melhorar a produtividade, comprometer-se com o comércio, abordar as mudanças climáticas e dar garantias sociais.

Sobre o Caricom, apontou que os países deste bloco estão prontos para trabalhar conjuntamente com a comunidade mundial com a finalidade de alcançar a unificação global e a prosperidade no setor econômico através de alianças mais fortes, tanto bilaterais como multilaterais.

Por sua parte, o mandatário de fato do Brasil, Michel Temer, dedicou seu discurso à intenção de aprofundar as relações econômicas com o continente africano. “Mais investimentos e mais comércio significam mais oportunidades e mais bem-estar para nossos povos”, apontou.

Nesse sentido, uma nota divulgada pelo governo de Temer revelou que o gigante sul-americano, com apoio do Brics, planeja criar um Centro de Pesquisas de Vacinas na África do Sul.

Enquanto isso, o presidente argentino, Maurício Macri, representando o G-20, chamou a construir consensos que deixem para trás as diferenças através de soluções práticas, criticando ao mesmo tempo as consequências das medidas unilaterais e de represálias.

Sobre a região latino-americana e caribenha, afirmou que tem muito a oferecer à ordem mundial “através do talento de sua gente, sua rica dotação em recursos naturais e como zona de paz e cooperação”.

Por agora, a África do Sul levará a bandeira do Brics durante um ano ao assumir a presidência pró-tempore do bloco, e entre os esforços que contempla para os próximos meses inclui novas áreas de cooperação como o estabelecimento de um Grupo de Trabalho sobre a manutenção da paz e um Foro do bloco sobre gênero e mulheres.

Informações relevantes:

– A 10ª Cúpula do Brics foi realizada de 25 a 27 de julho na cidade sul-africana de Joanesburgo, sob o lema “Brics na África: Colaboração para o Crescimento Inclusivo e a Prosperidade Compartilhada na Quarta Revolução Industrial”.

– Participaram os líderes dos países que conformam o bloco: Michel Temer (Brasil), Vladimir Putin (Rússia), Narendra Modi (Índia), Xi Jinping (China), e Cyril Ramaphosa (África do Sul).

– O Brics está constituído pelas cinco maiores economias emergentes do mundo.

– A primeira reunião foi realizada em 2006, com a presença de Brasil, Rússia, Índia e China, e quatro anos depois a África do Sul se somou.

– Este bloco nasce como consequência de uma etapa de auge do multipolarismo nas relações internacionais, e da interdependência econômica global.

– Atualmente os membros do Brics reúnem pouco mais de 40 % da população mundial, e em uma década sua participação na economia mundial experimentou um crescimento de 12 % a 23 %.

Resistência, com Granma; tradução de José Reinaldo Carvalho

 

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