Opinião

Não fuzilem Bolsonaro

23/01/2019

Por Manuel Domingos Neto (*)

Bolsonaro foi eleito prometendo fuzilar pessoas que, de seu ponto de vista, seriam de esquerda e envolvidas em corrupção.

Discursou defendendo a ditadura, a tortura, o etnocidio, abominou os direitos humanos. O Tribunal, o Parlamento, a Força Militar, o bispado, a FIESP, a FEBRABAN ouviram silentes suas manifestações escandalosas.

Bolsonaro não distingue bem entre ser esquerda e ser corrupto. Estigmatizou correntes progressistas e alimentou o retrocesso de nossa cultura política.

Mal começa o seu governo, chovem notícias de que sua família é associada a milícias criminosas do Rio.

Torço para que tais notícias sejam falsas e que o presidente cumpra seu mandato. Quero ver suas idéias derrotadas no parlamento, nas escolas, ruas e praças! Quero que perca nas urnas, não nos tribunais. Quero ver seu afã etnocida repudiado, sua administração lesa-Pátria repelida, seus propósitos malignos vencidos e suas proposições obscurantistas rechaçadas.

Caso as denúncias sejam comprovadas, que sejam cassados os mandatos da família Bolsonaro e todos sejam presos.

Defendo o direito à vida e a integridade física do ser humano, incluindo os dos piores bandidos.

Assim, preocupa-me a ideia de que milhões de brasileiros, inflamados pelo dircurso de que “bandido bom é bandido morto”, queiram matar Bolsonaro. Não seria a primeira vez na história que massas, sentindo-se traídas por heróis circunstanciais, partem para a violência endiabrada. A história é repleta de coletividades ensandecidas.

Em absoluto aceitarei que a famila Bolsonaro seja torturada e morta.

Nada de pancadaria no fígado, rins e ouvidos! Sem costelas quebradas! Nada de estourar-lhes os tímpanos! Nem de pau-de-arara ou choque elétrico no pênis. Nem de unhas arrancadas ou de maxilar deslocado por socos. Nem de dormir pelado no chão frio, em poça de sangue, gemendo dia e noite. Não, não e não!

Para dar informações às autoridades, a senhora Bolsonaro não deve ser estuprada por policiais e militares, como aconteceu com mulheres que lutaram contra a ditadura. Não pode ser posta numa cela escura na companhia de uma jiboia. Mulher de bandido não deixa de ser mulher. Denunciarei sem descanso as ONGs de direitos humanos de Paris, Londres, Nova Iorque e Fortaleza se algum fio de seu cabelo for tocado!

Fuzilamento, como pregou Bolsonaro? Nem pensar! Rogarei ao Papa, a Esquivel, aos comandantes militares por sua vida!

Pedirei a Lula que mobilize de qualquer jeito a opinião mundial em defesa da vida deste propagandista da morte! Picharei ruas, distribuirei panfletos, ficarei de plantão nas mídias sociais, falarei ao Chico para compor músicas em protesto!

Cadeia, sim! Com direito a banho de sol, assistência médica, jurídica e religiosa. Com direito também a ler livros, assistir TV e conceder entrevistas aos jornais.

Desde já, anuncio uma cruzada em defesa da família Bolsonaro, caso se confirme a suposição de tratar-se de bando de malfeitores.

Bolsonaro mobilizou milhões de brasileiros na negação aos direitos humanos. Vai que essa turma queira negar-lhe tais direitos!

Em nome da “civilização”, ocorreram as mais terríveis crueldades. Mesmo assim, defendo essa maldita “civilização”. Sonho, até, com o dia em que os civilizados respeitem seus irmãos covardemente taxados de primitivos!

(*) Doutor em História pela Universidade de Paris

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