América Latina

O alarmante perigo do avanço da extrema direita na Argentina e a hora da virada no Equador

19/08/2023
Por José Reinaldo Carvalho (*)
A Argentina, país que sempre se destacou entre as nações sul-americanas como berço de movimentos progressistas, com pujante corrente nacionalista-popular e tradições de luta combativa pela democracia, o desenvolvimento nacional e a soberania, está sob uma das piores ameaças em sua história: a instalação de um governo ultraliberal, entreguista, antinacional e fascista, caso nas eleições presidenciais de outubro próximo seja eleito Javier Milei, o vencedor das prévias do último domingo (13). O avanço da extrema direita na Argentina traz consigo um conjunto de desafios e ameaças que precisam ser enfrentados pelas forças progressistas.

A ascensão da extrema direita põe à mostra o desastre nacional resultante da adoção de políticas lesivas aos interesses nacionais e populares e da deterioração das instituições políticas do país, num quadro de intensa polarização social. O fracasso de uma alternativa progressista, a derrota das forças capazes de unir amplos setores democráticos, populares e patrióticos poderá lançar o país no imponderável, em inarredáveis impasses. As propostas do candidato da extrema direita, se levadas às últimas consequências, conduziriam à falência completa da nação, colocando-a à mercê de interesses antinacionais e transformando em pária um país que já foi um dos mais pujantes das Américas.

Além disso, a ascensão da extrema direita na Argentina poderia ter implicações significativas para as relações internacionais do país. A política externa argentina, sob os governos de centro-esquerda, se caracterizou pelo multilateralismo, pela defesa da integração soberana da região, e pela busca de acordos regionais e internacionais. A entrada de um governo de extrema direita poderia resultar em uma mudança drástica nesse cenário, com possíveis tensões com outros países e submissão aos desígnios do imperialismo.

A Argentina está diante de uma encruzilhada histórica, um momento decisivo de definição do futuro da nação. A sombria ameaça da extrema direita paira sobre o horizonte político, ameaçando direitos sociais. É hora de os argentinos, independentemente das divergências e perspectivas históricas distintas, unirem forças para defender a democracia, restabelecer a soberania e promover o progresso social.

A história de lutas populares e movimentos sociais vitoriosos é um lembrete de quanto os argentinos são capazes de, quando unidos, superar obstáculos.

A próxima eleição presidencial será uma espécie de plebiscito sobre o tipo de país que os argentinos querem legar às futuras gerações, o que pressupõe rejeitar qualquer tentativa de regressão autoritária. A defesa das instituições democráticas, a promoção de políticas socialmente progressistas e a defesa da soberania nacional devem ser as balizas para o país trilhar um novo caminho.

Equador na hora da virada

No próximo domingo, 20 de agosto, o povo equatoriano terá a oportunidade de abrir um novo caminho por meio das eleições presidenciais e parlamentares antecipadas, no quadro de uma profunda crise política e institucional. O país está desafiado a restaurar a democracia e o progressismo depois da traição à Revolução Cidadã durante o governo do ex-presidente Lenin Moreno e do governo conservador de Guillermo Lasso, um representante do capital financeiro, das classes dominantes retrógradas e dos interesses do imperialismo. Estarão em disputa posições de fundo ligadas à defesa da democracia, à retomada das políticas sociais inclusivas, à afirmação de valores anti-imperialistas, das políticas de integração soberana da América Latina e Caribe, em contraste com a submissão aos ditames do imperialismo. A esses desafios acresce mais um, ligado à irrupção da violência política, protagonizada por forças terroristas clandestinas e ligadas ao narcotráfico, fenômeno que há anos grassou na Colômbia, hoje é intenso no México e pode se alastrar a outros países da região latino-americana.

O clima de medo se instaurou no Equador após o assassinato de Villavicencio. O ex-presidente Rafael Correa ressalta que a morte do candidato favorece mais a agenda da direita política. Ele atribui parte das causas dessa violência à perseguição que o movimento “correísta” sofreu, levando à desintegração das instituições do país e contribuindo para um ambiente de insegurança.

O ex-presidente, líder da Revolução Cidadã, levanta sérias acusações ao afirmar que o assassinato de Fernando Villavicencio, candidato presidencial, foi resultado de um complô orquestrado pela direita política, uma conspiração envolvendo a polícia, com o propósito de beneficiar a agenda política da direita. As forças terroristas e obscurantistas visam a criar uma catástrofe política, culpar as forças progressistas e de esquerda e impedir a vitória eleitoral de sua candidata, Luisa González no primeiro turno.

A violência no Equador atingiu níveis alarmantes nos últimos dois anos. O assassinato de um candidato presidencial aprofundou a sensação de que o país chegou a um ponto crítico, levando muitos observadores a considerarem que o país está à beira de se tornar um narcoestado, com grupos ilegais infiltrados em todas as esferas institucionais.

A eleição de uma candidatura progressista nas próximas eleições presidenciais do Equador é de extrema importância para superar os impasses que o país enfrenta atualmente. Diante de desafios econômicos, sociais e políticos, a escolha de uma líder, como Luisa González, comprometida com valores progressistas, representa uma oportunidade de revitalizar a nação e encontrar soluções concretas para questões prementes. Através de políticas inclusivas e orientadas para o bem-estar social, essa candidata pode não apenas consolidar a democracia, mas também criar um ambiente propício para reformas estruturais que aprofundem as opções tomadas durante a Revolução Cidadã.

(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central do PCdoB e secretário-geral do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz. Artigo orientador da atividade internacional dos filiados e dirigentes do PCdoB

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