Argentina

“Promessas” de Milei são na realidade ameaças contra os argentinos

21/11/2023
Argentine presidential candidate Javier Milei of La Libertad Avanza party attends the presidential debate ahead of the November 19 general election, at the University of Buenos Aires' Law School, in Buenos Aires Argentina November 12, 2023. Luis Robayo/Pool via REUTERS/File Photo

Por José Reinaldo Carvalho (*)

Javier Milei, candidato de extrema direita, ultraliberal, falsamente designado como “anarcocapitalista” venceu as eleições presidenciais na Argentina ostentando uma plataforma que consiste em ameaças contra o povo argentino e suas conquistas históricas: a democracia, os direitos sociais, as relações internacionais do país, incluindo a grande vitória nacional que foi a inclusão no Brics ampliado, a partir da cúpula de Joanesburgo, em agosto deste ano. 

O povo argentino não votou nas promessas de Milei, não expressou adesão às suas promessas. Foi um voto de rejeição a uma situação de falência econômica, de deterioração às suas condições de vida. Foi induzido a cometer um erro histórico. Desorientados, perdidos em meio a crise multidimensionais, os povos às vezes cometem erros graves. Já aconteceu ao nosso. Já aconteceu a outros, em outras épocas e latitudes. Por elevada que seja a consciência política de uma comunidade nacional, em situações de solavancos, turbulência, instabilidade, uma maioria eventual se forma, e se esvaem os valores, a confiança, as convicções. Perde-se a perspectiva. Em situações é inevitável o retrocesso.  

Por trás das afirmações altissonantes de Javier Milei e em cada item bombástico de seu programa eleitoral, o povo argentino foi levado a não enxergar que as propostas do candidato não são promessas benignas, mas ameaças que podem tornar horrendo o futuro imediato e comprometer irremediavelmente, pelo menos por muitas décadas, o futuro da nação. 

Como não encarar como ameaças significativas ao futuro do país as propostas do presidente eleito? 

Uma das principais bandeiras de Milei é a defesa de contrarreformas radicais, à guisa de eliminar a inflação, combater a corrupção e reduzir a “máquina improdutiva e burocrática” do Estado: a extinção do Banco Central, a dolarização completa da economia, as privatizações, a eliminação de subsídios estatais. Não é preciso ser economista nem cientista social para perceber que a aplicação de tal programa resultará em consequências drásticas para a população, principalmente os setores mais pobres e vulneráveis. Se concretizadas, tais medidas debilitarão ainda mais o país, exacerbarão as desigualdades e provocarão impactos negativos nas condições de vida das massas populares. 

Na busca de tornar realidade seu credo ultraliberal, Milei vai desencadear uma ofensiva brutal contra os direitos sociais, já combalidos pela crise em que o país está engolfado. As promessas de prosperidade econômica vão revelar toda a sua falsidade quando se desenrolar o drama da total decadência da educação, da saúde e da previdência social. Logo a população sentirá na carne o custo da reciclagem do capitalismo, agora com a feição ultraliberal proposta por Milei. 

Milei no governo também poderá provocar abalos no sistema político, surtos antidemocráticos, inspirados na convicção de que somente uma tirania será capaz de enfrentar os desafios nacionais num momento de auge da crise. 

Igualmente constituem ameaças à nação argentina as tiradas de Milei contra os maiores parceiros geopolíticos e econômicos do país. O desastre argentino será maior se concretizadas as “promessas” de ruptura com o Brasil, a China e o Brics e se a orientação da política externa for condicionada pelas conexões ideológicas que mantém com a extrema direita mundial. 

Como contraponto a tudo isso, é necessário levar em conta que a situação não evolui linearmente. A vitória eleitoral de Milei não significa a garantia de êxito ao seu governo. À medida que se evidenciar que o país caminha para o desastre, sobrevirão momentos de resistência e luta com o despertar da consciência do povo sobre a falsidade das promessas avalizadas nas urnas. 

(*) Jornalista, editor do Resistência, membro da Comissão Política Nacional e do Comitê Central do PCdoB, onde coordena o setor de Solidariedade e Paz.

Compartilhe: