Opinião

O pior momento da esquerda

02/02/2019

Por José Reinaldo Carvalho (*)

A eleição da Presidência da Câmara mostrou, entre outras coisas, que a esquerda está vivendo seu pior momento desde a ditadura.

Divisões, sectarismo, golpes regimentais, manobras de bastidores e traições fizeram parte de um processo cujo resultado foi a fragmentação ainda maior entre as forças que, mais do que nunca, deveriam marchar unidas.

A pergunta que não quer calar é por que os partidos de esquerda e centro-esquerda não foram capazes de se unir num bloco que, se bem não os levasse à direção máxima da casa, lhes assegurasse os espaços necessários ao enfrentamento das batalhas no parlamento, nas circunstâncias em que dois blocos principais dominarão a instituição durante a legislatura que se inaugurou na sexta-feira (1º/2): a nova extrema-direita, no poder com Bolsonaro, e a direita tradicional e seus penduricalhos, mal chamados de “centro-direita” e “centrão”.

Rodrigo Maia foi eleito com a bandeira do diálogo, da defesa das instituições, da independência do Poder Legislativo e da democracia. De fato, porém, se o presidente continuista da Câmara está por princípio e trato firmado comprometido com a agenda antipopular e antinacional do governo de extrema-direita, por óbvio a independência do poder legislativo está liminarmente violada e o compromisso com a democracia não irá além de rituais e maneirismos. Grosso modo, como foi sob o governo Temer, em que a Presidência da Câmara se colocou à frente da aprovação das medidas ultraliberais.

Receio que o povo pague caro pelo aprofundamento das divisões entre as forças de esquerda. O quanto antes essas forças devem voltar à mesa de diálogo e buscar entendimentos e convergências programáticas e de ação, inclusive para evitar que as divisões tenham reflexos negativos nos movimentos sociais, já combalidos e com pouca capacidade de reação à brutal investida antidemocrática e antissocial em curso.

O fato ineludível é que a direita venceu um embate e os partidos de esquerda foram derrotados porque erraram feio. Superar este momento é responsabilidade de todos, os desafios devem ser compartilhados, começando por uma reflexão que leve os partidos de esquerda a abandonar todos os traços de sectarismo, exclusivismo, hegemonismo e adesismo.

Nunca é demais repetir: a situação exige unidade firme e ampla para enfrentar a ameaça fascista e a ofensiva contra os direitos do povo, mormente quando o governo de extrema-direita chegou ao poder ameaçando a esquerda de extinção.

(*) Jornalista, editor do Resistência, diretor do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz

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