Opinião

Os significados políticos do cessar-fogo temporário em Gaza 

24/11/2023

Por Jesus Cardoso e Mariana Schlickmann (*)

O mundo inteiro saudou a celebração de um acordo de cessar fogo temporário de quatros dias das hostilidades na Palestina. Ou dito de outro modo, da pausa no massacre do povo palestino em Gaza, vendido pela imprensa ocidental como uma vitória das forças moderadas, em especial, do governo Joe Biden. Também é veiculado Netanyahu aceitou pois há pressão interna para recuperação dos reféns em mãos da Resistência Nacional Palestina, liderada pelo Hamas.

Parafraseando José Arbex Junior, trata-se de uma inequívoca vitória da resistência, que enfrentou no chão dezenas de milhares das melhores tropas de Israel e do Ocidente Coletivo, na qual perderam cerca de 60 lutadores. Enquanto isso, especula-se que a força de ocupação tenha perdido 3 mil soldados e 170 veículos armados.

Mas, como afirma Gilberto Maringone, no TV Tutaméia, o Hamas mesmo, exercendo o legítimo direito de defender-se contra um exército colonial, foi acusado por Israel, governos ocidentais e mídia corporativa, de ter praticado terrorismo, embora a resistência palestina tenha mirado fundamentalmente em forças armadas, militares e colonos.

Entretanto, mesmo após o castigo coletivo praticado pela Entidade Sionista, que já cobrou a vida de quase 15 mil palestinos, maior parte crianças, mulheres e idosos, eles tiveram que reconhecer publicamente o Hamas como um grupo política, apto para uma negociação. Novamente uma derrota de imagem.

Assim, o mito de Israel, de fortaleza inexpugnável, um verdadeiro porta-aviões a expandir poder do Ocidente Coletivo, liderado pelos EUA, sob toda a Ásia Ocidental, foi desmontado por milícias palestinas armadas de coragem, armas leves, RPGs e foguetes artesanais.

Detalhe: o grande negociador do acordo foi o Qatar, país que hospeda a direção do Hamas, e um dos principais financiadores do islã político, a Irmandade Muçulmana. Nessa situação, o Brasil com a sua diplomacia nem-nem (a exceção do próprio presidente Lula, que tem lado e o declarou), perdeu uma oportunidade de se posicionar como liderança do Sul Global e conquistar um acordo.

Tudo isto não seria possível sem a ação coordenada do Eixo da Resistência, com o bombardeio sistemático das bases estadunidenses no Iraque e na Síria, e a demolição da fronteira norte de Israel por parte do Hezbollah. Eles inclusive perpetraram uma ação espetacular, com a destruição de um quartel e apreensão pelas forças navais Houthis de um navio mercante de propriedade de Israel no litoral do Iêmen. Assim eles danificaram ainda mais a já combalida economia sionista devido ao aumento dos custos dos seguros marítimos e aumento do frete, já que seus navios terão que contornar o continente africanos para chegar em segurança ao seu destino.

Agredido militarmente, demolida sua imagem pública, perdendo seu status de representante dos judeus, não apenas sionistas, Israel enfrenta um conflito existencial. Se tiverem juízo, em breve irão se sentar à mesa para a negociar a implementação dos dois Estados, sob o risco de desaparecer em um futuro não muito distantes. Se Israel foi destruída, lá se vai a hegemonia estadunidense na Ásia Ocidental.

(*) Editores do Mundo Multipolar 

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