Palestina

Para os palestinos, guerra de libertação será prolongada até o fim da ocupação

06/01/2024
Mulher palestina ergue bandeira durante os protestos, em 27 de abril de 2018. / Foto: Ibrahim Abu Mustafa - Reuters

Os palestinos estão decididos a derrotar a guerra prolongada de ocupação com uma guerra popular prolongada de libertação. Israel e EUA serão derrotados, escreve o dirigente comunista José Reinaldo Carvalho  

Por José Reinaldo Carvalho (*) – A ofensiva política e militar dos sionistas israelenses se afigura cada vez mais como uma guerra sem fim contra toda a região do Oriente Médio. Os agressores de Tel Aviv têm por foco principal o povo palestino e não se detêm diante dos piores crimes de lesa-humanidade visando a perpetuar a ocupação, o que, segundo os estados maiores israelenses, pressupõe a limpeza étnica, o extermínio de boa parte da população palestina e sua redução a meros aldeamentos sob controle seu controle total. 

Quando Benjamin Netanyahu anunciou em 7 de outubro que o Oriente Médio nunca mais seria o mesmo, não se referia exclusivamente ao propósito de exterminar o movimento patriótico da Resistência, o Hamas, mas manifestando o desiderato dos colonialistas independentemente da facção política a que pertencem. 

O Oriente Médio se tornou palco de uma acirrada luta politica em decorrência da oupação sionista da Palestina, o que só é possível com a hegemonia completa sionista na região. No atual momento estratégico, além do genocídio na Palestina, Israel está prioritariamente focado em encurralar o Irã, visando a uma agressão futura, e no enfrentamento ao Eixo da Resistência, que é uma complexa e sólida rede de organizações políticas e militares patrióticas dispostas a enfrentar o inimigo comum. O Eixo da Resistência tem o apoio político e moral do Irã, um Estado nacional organizado, que sabe o que quer e se torna cada vez mais relevante regional e globalmente na medida em que se tornou um membro efetivo do Brics ampliado.  Desde a vitória da revolução democrática e popular vitoriosa em fevereiro de 1979,  que por circunstâncias peculiares se converteu em revolução islâmica, o Irã se tornou um bastião da luta anti-imperialista e antissionista.  

O Irã exerce considerável influência política e ideológica sobre movimentos de resistência como o Hamas (Palestina), o Hezbollah (Líbano), o Ansarollah (Iêmen) e mantém sólidas relações com a Síria, país que também desempenha papel fundamental na luta anti-imperialista e antissionista. 

Na trincheira oposta está Israel, que para além dos seus próprios interesses tem seu destino atado ao do imperialismo estadunidense, que usa o Estado sionista como plataforma para o domínio estraégico do Oriente Médio.

A situação de momento aponta para a tentativa de Israel de expandir os seus crimes a todo o Oriente Médio, mostrando-se cada vez mais decidido a guerrear contra o Eixo da Resistência, o que ficou demonstrado com o atentado de 2 de janeiro em que Israel assassinou Saleh al-Arouri, que ocupava o segundo cargo de maior responsabilidade no Birô Político do Hamas, em Beirute, no Líbano. Al Arouri era figura relevante da Resistência patriótica, com papel destacado na luta de libertação nacional do povo palestino. Ele era um destacado comandante militar, um dos principais organizadores das Brigadas de Al-Qassam, braço militar do Hamas. 

Israel deu demonstrações de que está em plena ofensiva contra as forças do Eixo da Resistência em territórios além Palestina também com o ataque aéreo na localidade de Seyeda Zainab, ao sul de Damasco, onde Seyed Razi Mousavi, um dos principais conselheiros e comandantes sênior do Corpo de Guardiães da República Islâmica do Irã, o pilar central de apoio ao Eixo, foi assassinado, um crime que se soma a outros dois assassinatos de membros da mesma organização militar, Mohamadali Atai Shoorche e Panah Taqizade, martirizados enquanto cumpriam missão de assessoria na frente de batalha da Resistência na Síria em 2 de dezembro passado, conforme relato do canal iraniano Hispan TV. 

Nesse quadro, é inevitável que surjam novas “Tormentas de Al-Aqsa”, novas “Intifadas” não só para enfrentar as forças genocidas que já assassinaram mais de 22 mil palestinos, sem contar os mais de 7 mil desaparecidos sob os escombros, mas igualmente para rechaçar os contínuos ataques às forças da Resistência no Líbano, Síria e  Iêmen. Na fase atual da guerra que Israel está inaugurando, de expansão regional da sua guerra de ocupação, tudo indica que a confrontação militar será dessa natureza, porquanto não estão dadas as condições objetivas nem subjetivas para uma confrontação direta entre exércitos nacionais. Tal possibilidade está em aberto, mas não parece ser a alternativa imediata. Da parte das forças dirigentes do Eixo da Resistência é o que se pode depreender dos últimos pronunciamentos dos dirigentes do Irã (o líder máximo Khamenei, o presidente Raisi e o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah). 

Há uma batalha crucial nas frentes política e diplomática, que cabe às forças internacionalistas: intensificar mobilizações, ações condenatórias dos crimes de Israel, campanhas de boicote, pelo rompimento de relações diplomáticas e pela punição dos criminosos que dirigem o Estado e o Governo sionistas em cortes internacionais. 

O embate entre o Eixo da Resistência, patriótico e anti-imperialista e o Estado sionista de Israel, instrumento dos Estados Unidos, que por seu turno, atua como cúmplice dos crimes de Israel, é uma das frentes de luta mais importantes dentre todos os embates do mundo hoje. Isto deveria ser tomado em consideração pelas chancelarias dos países que lutam para defender sua independência e autodeterminação e podem dar uma contribuição ponderável à paz mundial e à prevalência da multipolaridade. 

Especialmente as forças progressistas e de esquerda devem intesificar a solidariedade com o povo palestino e todos os povos que no Oriente Médio lutam contra a opressão nacional e não se deixar enganar pelas aparências nem alimentar ilusões. Há quem interprete a dinâmica dos acontecimentos como um embate entre um país “democrático”, que seria Israel, e países “medievais”, “teocráticos”, “violadores dos direitos humanos” e “financiadores do terrorismo”. Com tais visões funcionais aos interesses do imperialismo estadunidense e dos sionistas israelenses, alegam que Israel “tem direito à defesa” contra os “ataques terroristas” do Hamas. Tendem a fazer o mesmo discurso contra o Hezbollah. Trata-se do mesmo viés pró-imperialista que na América Latina se equivoca condenando Cuba, Venezuela e Nicarágua, pelo caráter geral das suas revoluções emancipadoras, e agora ensaia um discurso contra as “provocações militares de Maduro para usurpar o Esequibo da Guiana”. 

Há também avaliações apressadas e falsas sobre o desenrolar dos acontecimentos. Fazem o cálculo errado de que Israel venceu o “conflito”. Ledo engano, há muitas evidências em sentido contrário: a reiteração pelos carniceiros de Tel Aviv de que o “conflito” será uma “guerra prolongada”, a retirada tática de tropas, decorrente do número elevado das perdas entre as forças agressoras, a proclamação de uma sanha assassina relacionada com a caçada a líderes da Resistência mundo afora, o que por óbvio vai confrontar a usina de crimes do Mossad com governos estrangeiros, o fracasso das operações para eliminar a liderança do Hamas em Gaza, a corrosão da imagem de Israel no mundo e a crise política interna do regime israelense. 

Não basta derramar sangue inocente, semear destruição e morte para ganhar uma guerra contra um povo decidido a resistir e vencer. Paciência histórica, pertinácia e perspicácia é o que não lhe falta. Os palestinos são calejados no enfrentamento ao inimigo sionista. Estão decididos a responder à guerra prolongada de ocupação com uma guerra popular prolongada de libertação de novo tipo. Os sionistas e imperialistas serão derrotados. A Palestina vencerá. 

(*) José Reinaldo Carvalho é jornalista e escritor, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB e presidente do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz)

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