Opinião

Pausa humanitária em Gaza é fator positivo para avançar ao cessar-fogo abrangente e à paz duradoura

23/11/2023
Smoke rises following Israeli strikes in Gaza City, October 30, 2023. REUTERS/Mohammed Al-Masri

É preciso valorizar e apoiar este passo inicial na busca de uma solução política para a guerra em Gaza, escreve o dirigente comunista José Reinaldo Carvalho 

Por José Reinaldo Carvalho (*) – Ainda há muitas dúvidas sobre a eficácia do acordo de pausa humanitária na guerra genocida que Israel realiza contra o povo palestino na Faixa de Gaza. Mas duas coisas me parecem certas. A primeira é que se trata de uma vitória política e diplomática inicial do Movimento de Resistência Islâmica Hamas, que comanda o governo da Faixa de Gaza e dirige a heroica resistência do povo palestino no enclave costeiro. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, verdugo do povo palestino, continua jurando de morte os membros do movimento de Resistência e assegurando que vai aniquilar a organização por meio de uma “guerra dura e prolongada”, entenda-se, massacre e genocídio. Mas foi obrigado a reconhecer o Hamas ao firmar com este um acordo em plena guerra e curvar-se a algumas exigências imediatas fundamentais deste. Foi o Hamas, e não o regime sionista de ocupação, que deu o tom às principais cláusulas do que foi acertado com a intermediação do  Catar. 

A segunda certeza é que em um mundo marcado por conflitos e tensões geopolíticas, o acordo de pausa humanitária surge como uma réstia de esperança de que se pode progredir para um cessar-fogo abrangente e abrir caminho a uma paz duradoura. Esta é a  perspectiva de quem não perde o horizonte da paz, da democratização das relações internacionais, do direito internacional, do direito internacional humanitário, do multilateralismo genuíno como método de política no mundo multipolar realmente existente. O acordo de pausa humanitária oferece uma oportunidade para que se desencadeiem novas dinâmicas políticas e diplomáticas e a própria resistência nacional, com suas alianças regionais e apoio mundial, se fortaleça ao ponto de impor derrotas aos agressores israelenses. 

O mundo inteiro clama para que Israel interompa o genocídio. Milhões de pessoas já saíram às ruas em dezenas de países; foi aprovada resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, reafirmam-se declarações dos mais prestigiados líderes internacionais, entre estes Lula, Xi Jinping, Vladimir Putin, Cyril Ramaphosa, em cenários globais da mais alta relevância, como o Brics e o G20, além de gestões diplomáticas impregnadas do mais genuíno e amplo multilateralismo, como a recente reunião entre o chanceler chinês e os ministros de Relações Exteriores de países árabes e islâmicos – tudo isso aponta na direção correta de exigir o cessar-fogo e a paz duradoura. 

Esta só virá com a plena independência do povo palestino, que terá de resultar necessariamente na criação do seu Estado independete com capital em Jerusalém, como assinalaram a Autoridade Nacional Palestina e o Hamas.

Ressalte-se também o papel do Irã, aliado de primeira hora do povo palestino, cuja diplomacia é uma das mais ativas desde o início do massacre israelense na noite de 7 de outubro. As gestões iranianas pelo cessar-fogo e a paz se somam às justas advertências de que o conflito pode escalar, caso Israel não se detenha no cometimento dos crimes de lesa-humanidade. 

Os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) desempenham um papel crucial na promoção da estabilidade global. Sua posição conjunta em relação ao acordo de pausa humanitária destaca a importância da cooperação entre nações diversas. O grupo Brics tem o potencial de catalisar esforços para garantir que a trégua não seja apenas uma medida temporária, mas sim um primeiro passo em direção a um novo paradigma para a paz e a solução política de fundo ao conflito. 

Enquanto avaliamos positivamente a perspectiva de uma trégua global e duradoura, é imperativo direcionar nossa atenção para aqueles que continuam a adotar posturas intransigentes, notadamente representadas pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e setores da extrema direita israelense.

A perpetuação do conflito na região é alimentada pela posição agressiva inflexível do Estado sionista e seu governante. Netanyahu, com suas posições radicalmente belicistas, antipalestinas, impede as soluções pacíficas. Conta com o total e indeclinável apoio do imperialismo estadunidense, cúmplice, muitas vezes mandante, dos seus crimes. 

A bandeira do cessar-fogo e da paz segue nas mãos da Resistência e dos movimentos de solidariedade ao povo palestino. 

(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB, onde coordena o setor de Solidariedade e Paz

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