Opinião

Visita de Pelosi a Taiwan tumultua conjuntura internacional e danifica as relações com a China

09/08/2022

A questão de Taiwan tem um fundo histórico e se relaciona com a defesa pela China da reunificação da pátria e da soberania, escreve o editor José Reinaldo Carvalho (*)

A provocação realizada pelo imperialismo estadunidense ao organizar a visita oficial da presidente da Câmara de representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan, onde se encontrou com as máximas autoridades proclamadas da ilha, é fato relevante na conjuntura internacional e só pode ser compreendida no quadro da intensificação da rivalidade do país norte-americano com a China socialista, na época em que emerge o mundo multipolar e vai ficando para trás no desenvolvimento das relações internacionais a hegemonia imperialista unipolar da superpotência do Norte.

Quando falamos da emergência do mundo multipolar, não significa que estejamos pensando em uma ordem já estabelecida, um novo equilíbrio no mundo, na decisão dos conflitos, nem na conquista da paz duradoura. Bem ao contrário, o mundo multipolar emerge como resultado de conflitos agudos e pode gerar uma fase de outros tantos, ainda mais graves.

Nancy Pelosi foi a Taiwan a despeito dos apelos e advertências da China quanto ao fato de estar praticando uma flagrante violação das normas mais elementares do direito internacional e dos tratados oficiais firmados pelos Estados Unidos quando do estabelecimento de relações diplomáticas com a República Popular da China – que estabelecem a obrigação do respeito estrito ao princípio de que no mundo existe apenas uma China, a República Popular da China. À parte os problemas estratégicos envolvidos, a visita oficial da presidente da Câmara dos Representantes foi uma inominável descortesia com a liderança chinesa. O máximo dirigente da nação falou a respeito da questão de Taiwan diretamente com o presidente dos EUA. Não só a violação do princípio aludido, mas também o maltrato, é imperdoável.

Ao agirem assim, os Estados Unidos introduziram um grave elemento de tumulto da ordem internacional, desvelando sua hipocrisia, quando acusam a China de “violar as regras”. Fica assim exposto perante toda a comunidade internacional quem provoca instabilidade, quem gera conflitos. E resta demonstrado que a ordem internacional visada pelos EUA só será válida se for sob a égide das regras americanas.

Dentre todos os desafios das nações empenhadas em sua autodeterminação e na busca de um desenvolvimento pacífico da situação política, o mais sério é esta tentativa dos imperialistas estadunidenses de impor a sua ordem, as suas regras.

Além de terem levado a tensão à região asiática, os Estados Unidos danificaram as relações bilaterais com a China, ao ignorar que o princípio de Uma Só China é a pedra fundamental da política do governo chinês em relação a Taiwan.

Trata-se de uma questão que tem um fundo histórico e está relacionada com a concepção chinesa de soberania nacional e dos caminhos a percorrer para alcançar a meta maior da revitalização e do rejuvenescimento da nação.

Por iniciativa de Deng Xiaoping, o governo chinês adotou, desde 1979, a política de reunificação pacífica e desenvolveu gradualmente o conceito científico de “um país, dois sistemas”. Com base nisso, a China estabeleceu o princípio básico da “reunificação pacífica e um país, dois sistemas”. Os pontos-chave deste princípio básico e as políticas relevantes são: a China fará o possível para alcançar a reunificação pacífica, mas não se comprometerá a descartar o uso da força; promoverá ativamente os contatos pessoais e os intercâmbios econômicos e culturais entre os dois lados do Estreito de Taiwan e iniciará o comércio direto, os serviços postais, aéreos e marítimos o mais rápido possível; alcançar a reunificação por meio de negociações pacíficas e, com base no princípio de Uma Só China, qualquer assunto pode ser negociado. Após a reunificação, a política de “um país, dois sistemas” será praticada, com o corpo principal da China (continente chinês) continuando com seu sistema socialista, e Taiwan mantendo seu sistema capitalista por um longo período de tempo. Após a reunificação,

Taiwan desfrutará de um alto grau de autonomia, e o Governo Central não enviará tropas ou pessoal administrativo para ficar estacionado em Taiwan.

A resolução da questão de Taiwan é um assunto interno da China, que deve ser alcançado pelos próprios chineses, e não há pedido de ajuda por parte de forças estrangeiras. Os princípios e políticas acima mencionados incorporam a posição básica e o espírito de adesão ao princípio de Uma Só China e respeitam plenamente o desejo da população de Taiwan de governar e administrar Taiwan por si mesma. Em 30 de janeiro de 1995, o governo chinês apresentou oito proposições sobre o desenvolvimento das relações entre os dois lados do Estreito de Taiwan e a promoção da reunificação pacífica da China, apontando explicitamente: “Aderir ao Princípio de Uma Só China é a base e o pré-requisito para a reunificação pacífica”.

Ao violar este princípio os Estados Unidos transpuseram uma linha vermelha, porque se tornou óbvio que sua adesão a esse princípio é apenas retórica. A verdade dos fatos é que os EUA incitam os separatistas de Taiwan, o que acarretará consequências nefastas para o relacionamento bilateral. Xi Jinping não fez um chiste ao dizer que se queima quem brinca com fogo. Fez, isto sim, uma série advertência durante uma conversa de alto nível com o presidente dos EUA.

Quanto a Taiwan, passou a correr o risco de que, malgrado a vontade chinesa manifestada historicamente, a reunificação poderá não ser pacífica, uma vez que a condição sine-qua-non para isto é a adesão ao princípio de Uma só China, a que as atuais autoridades taiwanesas se opõem.

A China está coberta de razão ao reagir nos planos econômico, político, diplomático e militar a essa violação da sua soberania. Seu governo já adiantou que doravante intensificará e aprofundará as medidas conducentes à reunificação da Pátria. Os exercícios militares em larga escala em curso no Estreito de Taiwan são uma mostra cabal disto.

Este tema permanecerá no radar da cobertura jornalística do Brasil 247 e da TV 247. Há uma pletora de informações a dar e reflexões a fazer.
No momento queríamos levantar apenas mais um ponto para o debate. Nada mais falacioso do que a declaração da Sra. Pelosi de que em Taiwan brindou apoio a “uma das sociedades mais democráticas do mundo”, numa época em que a principal disjuntiva mundial é entre a democracia e a autocracia, questão que só encontra solução nos marcos nacionais, sendo falso o caminho intervencionista, ainda mais que quando por democracia ela entende o decadente modelo liberal norte-americano e ocidental.

A disjuntiva da época é entre os interesses dos povos e nações que lutam por sua autodeterminação e a dominação imperialista. Questão que só se resolverá em definitivo com o advento do socialismo.

(*) José Reinaldo Carvalho é jornalista, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB e secretário-geral do Cebrapaz

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