Oriente Médio

Israel tem 200 armas nucleares apontadas para o Irã

17/05/2018

Por Manlio Dinucci (*)

A decisão dos Estados Unidos de sair do acordo nuclear com o Irã – assinado em 2015 por Teerã com os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha – provoca uma situação de extrema periculosidade não só para o Oriente Médio.

Para compreender quais as implicações que tal decisão pode ter, tomada sob pressão de Israel que define o acordo como “a rendição do Ocidente ao eixo do mal guiado pelo Irã”, deve-se partir de um fato bem preciso: Israel tem a bomba, o Irã não.

Há mais de cinquenta anos Israel produz armas nucleares na planta de Dimona, construída com a ajuda sobretudo da França e dos Estados Unidos. Esta não está submetida à inspeção, pois Israel, a única potência nuclear do Oriente Médio, não adere ao Tratado de Não Proliferação das Armas Nucleares, que, pelo contrário, o Irã assinou há cinquenta anos.

As provas de que Israel produz armas nucleares foram mostradas há mais de trinta anos por Mordechai Vanunu, que tinha trabalhado na planta de Dimona: depois de ter sido examinadas pelos maiores experts de armas nucleares, foram publicadas pelo jornal The Sunday Times em 5 de outubro de 1986. Vanunu, raptado em Roma pelo Mossad e transportado para Israel, foi condenado a 18 anos de cárcere e, relaxada a sua prisão em 2004, submetido a graves restrições.

Israel possui hoje (embora sem admitir) um arsenal estimado entre 100 a 400 armas nucleares, entre as quais mini bombas e bombas de nêutrons de nova geração, e produz plutônio e trítio em quantidades tais que permitem construir outras centenas.

As ogivas nucleares israelenses estão prontas para lançamento em mísseis balísticos, como o Jericó 3 e seus caças-bombardeiros F-15 e F-16 fornecidos pelos EUA, aos quais se agregam agora os F-35.

Como confirmam as numerosas inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o Irã não possui armas nucleares e se compromete a não produzí-las, submetendo-se com base no acordo ao estrito controle internacional.

Contudo – escreve o ex-secretário de Estado dos EUA Colin Powell em 3 de março de 2015 em um email que veio a público – “em Teerã sabem muito bem que Israel tem 200 armas nucleares, todas apontadas para lá, e que nós temos milhares”.

Os aliados europeus dos EUA, que formalmente continuam a apoiar o acordo com o Irã, são substancialmente alinhados com Israel. A Alemanha forneceu a Israel quatro submarinos Dolphin, modificacos para poder lançar mísseis de cruzeiro e ogivas nucleares.

A Alemanha, a França, a Itália, a Grécia e a Polônia participaram com os EUA dos maiores exercícios internacionais de guerra aérea na história de Israel, os exercícios Blue Flag 2017. A Itália, ligada a Israel por um acordo de cooperação militar (Lei nº 94, 2005), participou com caças Tornado do destacamento de Ghedi, empregado no transporte das bombas nucleares USA B-61 (que em breve serão substituídas pelas B61-12). Os EUA, com os F-16 do 31º Fighter Wing de Aviano, empregados com a mesma função.

As forças nucleares israelenses estão integradas no sistema eletrônico da Otan, no quadro do “Programma de cooperação individual” com Israel, país que embora não sendo membro da Aliança, tem uma missão permanente no quartel general da Otan em Bruxelas.

Segundo o plano testado nos exercícios EUA-Israel Juniper Cobra 2018, forças dos EUA e da Otan chegarão da Europa (sobretudo das bases na Itália) para apoiar Israel em uma guerra contra o Irã.

Essa poderia começar com um ataque israelense às plantas nucleares iranianas, como o efetuado em 1981 em Osiraq no Iraque. Em caso de represália iraniana, Israel poderia fazer uso de uma arma nuclear desencandeando uma reação em cadeia de resultados imprevisíveis.

(*) Jornalista e geógrafo; publicado em Il Manifesto; tradução de José Reinaldo Carvalho, para o Resistência

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