Opinião

Dispara o preço da ‘proteção militar’ dos Estados Unidos

12/03/2019

Por Manlio Dinucci (*)

Não é só a máfia que cobra um preço em troca de “proteção”. “Os países ricos que estamos protegendo – advertiu ameaçadoramente Trump, em um discurso no Pentágono – estão todos avisados: deverão pagar por nossa proteção”.

O presidente Trump – revela Bloomberg – está por apresentar o plano “Cost Plus 50” que estabelece o seguinte critério: os países aliados que hospedam forças estadunidenses em seu território deverão cobrir totalmente os custos e pagar aos EUA mais 50% em troca do “privilégio” de hospedar essas forças e ficar assim sob sua “proteção”.

O plano prevê que os países hospedeiros paguem também os soldos dos militares estadunidenses e os custos de gestão dos aviões e navios de guerra que os Estados Unidos têm nesses países.

A Itália deveria, portanto, pagar não só os soldos de cerca de 12 mil militares estadunidenses que aqui se encontram, mas também os custos da gestão dos caças F-16 e dos demais aviões deslocados pelos EUA a Aviano e Sigonella e os custos da Sexta Frota baseada em Gaeta.

Segundo o mesmo critério, deveremos pagar também a gestão de Camp Darby, o maior arsenal estadunidense fora do país, e a manutenção das bombas nucleares dos EUA deslocadas para Aviano e Ghedi.

Não se sabe quanto os Estados Unidos cogitam pedir à Itália e outros países europeus que hospedam suas forças militares, porque não se sabe tampouco quanto esses países pagam atualmente. Os dados estão cobertos por segredo militar.

Segundo um estudo da Rand Corporation, os países europeus da Otan Nato suportam em média 34% dos custos das forças e bases dos EUA presentes em seus territórios. Não se sabe, contudo, qual o montante anual que pagam aos EUA: a única estimativa – 2,5 bilhões de dólares – data de 17 anos atrás.

É, portanto, secreta a cifra paga pela Itália. Apenas alguns itens são conhecidos: por exemplo, dezenas de milhões de euros para adequar os aeroportos de Aviano e Ghedi aos caças estadunidenses F-35 e às novas bombas nucleares B61-12 que os EUA começaram a deslocar para a Itália em 2020, e cerca de 100 milhões para trabalhos na estação aeronaval estadunidense de Sigonella, também a cargo da Itália.

Em Sigonella só é financiada exclusivamente pelos EUA a NAS I, área administrativa e recreativa, enquanto a NAS II, dos departamentos operacionais e portanto mais custosa, é financiada pela Otan, ou seja, também pela Itália.

É, porém, certo – prevê um pesquisador da Rand Corp – que com o plano “Cost Plus 50”, o custo para os aliados “vai disparar”. Fala-se de um aumento de 600%.

Eles serão adicionados à despesa militar, que na Itália chega a 70 milhões de euros ao dia, que poder atingir cerca de 100, segundo os compromissos assumidos pelos governos italianos com a Otan. Trata-se de dinheiro publico, que sai dos nossos bolsos, subtraído aos investimentos produtivos e aos gastos sociais.

É possível, porém, que a Itália possa pagar menos pelas forças e bases estadunidenses deslocadas para o seu território. O plano “Cost Plus 50” prevê na verdade um “dessconto por bom comportamento” a favor dos “aliados que se alinham estreitamente com os Estados Unidos, fazendo o que estes pedem”.

Seguramente, a Itália desfrutará de um forte desconto porque, de governo em governo, sempre permaneceu ligada aos Estados Unidos. Ultimamente, enviando tropas e aviões de guerra ao Leste Europeu com a motivação de enfrentar a “ameaça russa” e favorecendo o plano estadunidense de enterrar o Tratado INF (de armas nucleares de curto e médio alcance) para deslocar à Europa, incluindo a Itália, mísseis nucleares apontados para a Rússia.

Sendo este o alvo de uma possível retaliação, teremos necessidade, como “proteção”, de outras forças e bases dos EUA. Nós deveremos pagar, mas sempre com desconto.

(*) Jornalista e geógrafo; aertigo publicado originalmente em Il Manifesto; tradução de José Reinaldo Carvalho para Resistência

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